Nas raízes da morte: quais foram os primeiros sepultamentos da humanidade?

27/08/2024 às 12:002 min de leituraAtualizado em 27/08/2024 às 12:00

O sepultamento mais antigo do mundo é um enigma que remonta a milhares de anos, nos levando a questionar quando e como os primeiros humanos começaram a lidar com a morte de forma ritualística. Embora não exista uma resposta concreta, evidências arqueológicas sugerem que os primeiros enterros intencionais ocorreram há mais de 100 mil anos, no período do Paleolítico Médio (entre 300 mil e 30 mil anos atrás).

Esses enterros indicam que, já naquela época, nossos ancestrais tinham uma compreensão mais abstrata sobre a morte e a necessidade de marcar a passagem de indivíduos da vida para a morte.

Comprovações arqueológicas

Esqueletos de um adulto e de uma criança encontrado na Caverna Qafzeh. (Fonte: Bernard Vandermeersch e Ofer Bar-Yosef/ Divulgação)
Esqueletos de um adulto e de uma criança encontrados na Caverna Qafzeh. (Fonte: Bernard Vandermeersch e Ofer Bar-Yosef/ Divulgação)

Uma das mais antigas provas de sepultamento humano vem da Caverna Qafzeh, em Israel, onde foram encontrados 25 sepulturas, algumas delas acompanhadas de objetos funerários como conchas e artefatos tingidos com ocre vermelho. A datação desses esqueletos indica que eles foram enterrados há pelo menos 100 mil anos, com alguns podendo ter até 130 mil anos, acreditam os especialistas.

Já na África, mais precisamente no Quênia, foram descobertos os restos mortais de uma criança Homo sapiens, datados de 78 mil anos, enterrados em uma caverna perto da costa oriental. Isso reforça a ideia do enterro como prática ritualística que os antigos humanos já tinham essa noção de que o corpo precisava de atenção após a morte.

No entanto, os Homo sapiens não foram os únicos a praticar enterros. Neandertais, nossos parentes extintos, também parecem ter enterrado seus mortos intencionalmente. Evidências de sepultamentos neandertais foram encontradas em locais como a própria Caverna Qafzeh e outras partes do Oriente Médio, com datações de cerca de 120 mil anos. 

Esses sepultamentos sugerem que tanto neandertais quanto Homo sapiens partilhavam de uma prática comum de honrar seus mortos, talvez refletindo uma compreensão compartilhada — ou próxima — da mortalidade.

Mais recentemente, surgiu a controversa hipótese de que uma espécie de hominídeo extinta, o Homo naledi, pode ter enterrado seus mortos há mais de 240 mil anos na África do Sul. Embora essa teoria, proposta pelo paleontólogo Lee Berger, não tenha sido aceita por boa parte da comunidade científica, ela sugere que o ato de sepultar pode ser muito mais antigo do que se acreditava anteriormente.

Crenças de pós-morte

O humano desenvolveu uma grande cultura de cultuar os mortos. (Fonte: GettyImages/ Reprodução)
O humano desenvolveu uma grande cultura de cultuar os mortos. (Fonte: Getty Images/ Reprodução)

Esses antigos sepultamentos são mais do que simples atos de descarte de corpos. Eles representam o início de uma prática que liga os vivos aos mortos, criando uma ponte ritual entre os dois mundos. 

A maneira como os corpos eram posicionados, muitas vezes em posturas específicas, acompanhados de objetos que tinham significado em vida, indica que os primeiros humanos possuíam uma consciência da individualidade e talvez uma crença na continuidade após a morte.

No mesmo sentido, embora o enterro de cadáveres possa ter começado por motivos práticos, como evitar o odor e afastar animais, o surgimento de rituais mais complexos indica uma crescente compreensão abstrata da morte. A inclusão de objetos funerários e a escolha de locais específicos ao longo do tempo refletem o significado profundo que essa prática adquiriu.

De qualquer forma, por mais que não saibamos ainda quando os sepultamentos começaram, podemos dizer que esses eventos antigos não só indicam quando começamos a lidar conscientemente com a morte, mas também revelam a evolução do pensamento simbólico e da complexidade social. Cada nova descoberta nos aprofunda na compreensão de como os humanos sempre tentaram entender e ritualizar a experiência da morte.

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