Saúde/bem-estar
06/03/2024 às 14:00•2 min de leituraAtualizado em 06/03/2024 às 14:00
Existente apenas em países da América Latina, o tatu-canastra é uma criatura exótica e bastante rara. Pela dificuldade de encontrá-lo na natureza, a ciência sabe pouco sobre a espécie até agora. Por exemplo, sabemos que eles são animais solitários, que só saem durante a noite para se alimentar de formigas e podem chegar a passar três quartos de suas vidas escondidos em tocas subterrâneas.
E nós só sabemos disso graças à Isabel, a única tatu-canastra monitorada a longo prazo pelos seres humanos na história. Com aproximadamente 20 anos, essa incrível criatura nos ajudou a conhecer informações valiosas sobre a sua existência e como se comporta em seu habitat natural.
Até poucos anos atrás, as informações que nós tínhamos sobre os tatus-canastra eram bastantes escassas. Sem ter muitos dados sobre comportamento e reprodução — algo que é considerado básico pelos investigadores —, esses animais eram um verdadeiro mistério para a humanidade. Somente em 2010, quando o pesquisador do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS) Arnaud Desbiez começou a trabalhar com armadilhas fotográficas no Pantanal, é que os primeiros dados foram sendo obtidos.
"Isabel, como a batizamos mais tarde, foi o primeiro animal da espécie que conseguimos monitorar. No começo, eu passava noites em claro tentando segui-la a pé, e de manhã procurava pelo buraco de sua toca", disse Desbiez em entrevista à BBC. Por meio de Isabel, os investigadores puderam afirmar que os tatus-canastra são a maior espécie de tatu conhecida pela ciência, podendo pesar até 60 kg, ter 1,5 metros de comprimento e apresentar garras vorazes de até 20 centímetros.
Depois que Isabel foi detectada na natureza, os investigadores ainda conseguiram analisar mais de 40 animais em outros biomas, como Cerrado e Mata Atlântica. A expansão do número de indivíduos analisados foi o que permitiu aos pesquisadores terem uma compreensão maior sobre a espécie, uma vez que um único indivíduo não poderia ser levado como regra.
Ao longo dos vários anos de estudo, Desbiez e seus colegas descobriram que os tatus-canastra podem continuar se reproduzindo mesmo após os 20 anos. Segundo eles, a idade máxima de reprodução de um animal na natureza é um dado crucial para muitos modelos populacionais, podendo prever quantos deles ainda existem espalhados por aí.
Porém, dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) mostraram que a população desses tatus diminuiu em 30% nos últimos 24 anos como resultado da caça, desmatamento, atropelamento em rodovias e incêndios florestais. Por esse motivo, a equipe de Desbiez uniu forças com o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IP) da Fazenda Baia das Pedras para estabelecer uma brigada comunitária em 2021.
Além disso, o pesquisador afirmou ser crucial promover a conscientização e a educação ambiental na região para que a espécie seja protegida e consiga fugir da extinção. A ideia do projeto é estimular o respeito pelos tatus-canastra, por sua singularidade e importância para o ecossistema, de forma que esses belíssimos animais sigam existindo em nosso mundo nos próximos anos.