Ciência
29/08/2020 às 14:30•2 min de leitura
A perda de 28 trilhões de toneladas de gelo nos últimos 23 anos se reflete na situação da calota da Groenlândia, a segunda maior reserva de água doce do planeta: não há mais como deter seu derretimento. Esses e outros dados estão contidos em dois estudos que apontam os efeitos do aquecimento global na criosfera do planeta.
Usando dados de satélites sobre geleiras, glaciares e montanhas com gelo, pesquisadores das universidades de Leeds e Edimburgo e College London conseguiram quantificar o quanto de gelo o planeta perdeu entre 1994 e 2017.
"Se nada mudar, o nível do mar deverá aumentar entre 60 cm e um metro, ao fim deste século – o que corresponde ao pior cenário previsto pelo Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Cada centímetro de elevação do nível do mar significa o deslocamento de um milhão de pessoas”, explicou o glaciologista e diretor do Centro de Modelagem e Observação Polar da Universidade de Leeds, Andy Shepherd.
Segundo ele, “o que encontramos nos surpreendeu. Não pode haver dúvidas de que a perda de gelo da Terra é uma consequência direta do aquecimento do planeta”.
A pesquisa, publicada na revista Cryosphere, usou dados de outros trabalhos, entre eles o que de uma equipe internacional de pesquisadores, liderada pelo glaciologista suíço Matthias Huss, em 2019, que determinou a espessura do gelo e o avanço do derretimento de todos os glaciares do mundo (cerca de 215 mil), excetuando-se a Antártida e a Groenlândia.
O estudo apontou que eles guardam 158 bilhões de toneladas de gelo, mas boa parte pode sumir mais rapidamente do que se previa. Na chamada Alta Ásia (região que inclui o planalto tibetano e as montanhas da Ásia Central), há 27% menos gelo do que se supunha.
As conclusões da pesquisa condizem com as do IPCC: será em 2060, e não uma década mais tarde, que a cobertura de gelo na região chegará à metade do que é agora, o que reduzirá em até 24% o abastecimento de água de 600 milhões a 1 bilhão de pessoas até 2090.
A gigantesca perda da cobertura de gelo do planeta não é a única má notícia: a camada de gelo da Groenlândia pode não mais se recuperar. “O gelo que está se quebrando e caindo no oceano ultrapassou em muito a neve que se acumula na superfície do manto de gelo”, disse a geóloga e cientista planetária Michalea King, do Centro de Pesquisa Polar e Climática Byrd da Ohio State University e principal autora do estudo publicado na revista Communications Earth and Environment.
A geleira de Sukkertoppen, na Groenlândia, em 1935 (acima) e 2013 (abaixo).
Quarenta anos de dados coletados por satélites mostraram que, mesmo se as temperaturas baixassem hoje, nem assim a perda de gelo da Groenlândia cessaria.
Entre 1980 e 2000, a perda anual de 450 bilhões de toneladas de gelo era compensada pela queda de igual quantidade de neve, conservando o manto da Groenlândia intacto. A partir daí, o derretimento subiu para 500 bilhões de toneladas de gelo anuais, não acompanhado pelo acúmulo de neve.
Se o nível dos oceanos subiu 15 cm no século 20, neste a velocidade aumentou: 3,6 milímetros todos os anos, e o ritmo está acelerando. Em 2019, o gelo derretido da Groenlândia foi responsável por fazer os oceanos subirem 2,2 milímetros em apenas dois meses.
Terra perdeu 28 trilhões de toneladas de gelo em duas décadas via TecMundo