Ciência
20/12/2024 às 09:00•2 min de leituraAtualizado em 20/12/2024 às 09:00
As margens da Escandinávia, adornadas com pedras rachadas pelo fogo e carvão antigo, podem guardar uma história esquecida sobre o poderio marítimo da Idade do Bronze. Novas pesquisas sugerem que esses vestígios, antes interpretados como fossos de cozinha, são, na verdade, indícios de estaleiros onde ancestrais hábeis moldavam os navios que navegariam pelas vastas redes de comércio da época.
Embora os barcos em si não tenham resistido ao tempo, os sinais de sua criação parecem ter estado diante de nossos olhos por séculos, desafiando as antigas interpretações arqueológicas.
Durante a Idade do Bronze Nórdica, entre 2000 e 500 a.C., a construção naval era vital para conectar a Escandinávia com o restante da Europa. Rotas marítimas levaram bronze, estanho, cobre e outros bens preciosos de locais distantes, como a Espanha e as Ilhas Britânicas, até o norte europeu.
Com tantas viagens comerciais oceânicas documentadas indiretamente, os arqueólogos sempre se perguntaram: onde esses navios eram construídos? Apesar de muitas representações de barcos em pedras e artefatos da época, faltavam evidências físicas claras dos estaleiros que possibilitaram tal proeza.
Foi essa ausência que levou pesquisadores a reexaminar estruturas costeiras na Suécia e na Noruega. Muitos desses fossos, encontrados próximos ao mar, apresentam características intrigantes: restos de carvão, madeira queimada e pedras rachadas pelo calor.
Até então classificados como locais de preparo de alimentos, careciam de elementos típicos, como cerâmica, ossos ou grãos. Isso levantou uma hipótese instigante: seriam, na verdade, fossos de vapor usados para dobrar e moldar madeira — uma prática tradicional na construção de barcos em várias culturas ao redor do mundo.
Estudos etnográficos ajudaram a reforçar a ideia de que escandinavos dominavam a construção de barcos. Povos indígenas na América do Norte, por exemplo, utilizavam fogueiras para criar vapor ao construir canoas, e práticas semelhantes foram registradas na Oceania. O vapor permitia moldar tábuas ou troncos, essencial para criar as embarcações que navegariam mares desafiadores.
Na Escandinávia, evidências indicam que o pinho, resistente e abundante, era a madeira preferida, tanto para a estrutura dos barcos quanto para a produção de alcatrão, indispensável na impermeabilização.
Um dos locais mais fascinantes dessa redescoberta é Tanum, na Suécia, famoso por sua arte rupestre retratando navios em cenas de batalha e cerimônias. Próximo a essas imagens, foram identificados fossos alinhados à antiga linha costeira, possivelmente usados para construir embarcações. Já na Noruega, na região de Østfold, fossos semelhantes apontam para um uso parecido, datando de uma transição crucial na Idade do Bronze.
Agora, ao adotar uma perspectiva voltada para o mar, os arqueólogos começam a revelar um capítulo perdido da história escandinava, no qual navios eram não apenas um meio de transporte, mas um elo vital entre culturas e economias distantes.
Enquanto as areias da Escandinávia continuam a devolver suas histórias, a redescoberta desses “estaleiros perdidos” pode revolucionar nossa compreensão das redes marítimas antigas. Mais do que ferramentas de sobrevivência, os barcos da Idade do Bronze simbolizam a engenhosidade de um povo que via nas águas não barreiras, mas caminhos para o mundo.