Artes/cultura
05/05/2022 às 09:00•2 min de leitura
Por vezes, nos deparamos com documentários ou relatos de pessoas que afirmam poder ouvir o que acontecia a sua volta enquanto estavam em coma. Assuntos como esse sempre causaram muita curiosidade no ser humano por não existir uma resposta concreta.
Assim, não é de hoje que a ciência busca entender o que se passa no cérebro de indivíduos durante esse estado. Mas será que isso é possível ou tudo não passa de mais um produto da imaginação e química cerebral? Algumas descobertas já nos dão alguma perspectiva. Descubra mais!
(Fonte: Shutterstock)
Estar em um estado de coma quer dizer que a pessoa não tem nenhuma interação significativa com o ambiente a sua volta. A Escala de Coma Glasgow, que vai de 3 a 15, é usada para avaliar as condições de consciência do indivíduo. Basicamente, quanto mais baixo for o número, menos consciente é o estado do paciente.
Também existe uma condição chamada estado vegetativo persistente, que a medicina considera ser a fase mais profunda do coma. Veja, não se trata de morte cerebral, mas é o mais próximo que existe do cérebro parar de funcionar de vez.
Nesse último nível, acredita-se que a pessoa não consiga sonhar, pensar ou ter a mínima experiência. É como se ela não estivesse mais ali.
Em 2015, um estudo conduzido por pesquisadores do Hospital Hines (EUA) e da Northwestern University, apontou que pessoas com lesões traumáticas em coma podem, sim, ouvir. Os resultados demonstraram que os pacientes nesse estado se tornavam mais responsivos após ouvir gravações com as vozes de entes queridos contando histórias.
(Fonte: Shutterstock)
Segundo os responsáveis pela pesquisa, quando avaliados pela escala padrão de coma, os oito pacientes que ouviram as gravações demonstravam estar mais conscientes e excitados que o outro grupo de comparação.
Esse não é o único estudo a indicar que pacientes nesse estado podem ouvir. Há vários outros, mas um dos mais interessantes foi feito há duas décadas: pioneiro nesse tipo de pesquisa, o neurocientista Andrian Owen, da Universidade de Cambridge, analisou uma mulher que estava em estado vegetativo persistente há vários anos e a colocou em uma máquina de ressonância magnética.
O objetivo era fazer um teste de ressonância magnética funcional para analisar as mudanças no fluxo sanguíneo, que indica a ativação de partes do cérebro. Então, ele colocou um fone de ouvido na paciente com algumas orientações, por exemplo, pedindo para ela se imaginar jogando tênis.
Apesar dos extensos danos cerebrais causados pelo acidente, o cérebro da mulher mostrou padrões de ativação. Owen comparou esses padrões aos de voluntários normais, realizando o mesmo teste com as mesmas perguntas: os padrões da mulher em coma eram idênticos aos das pessoas acordadas e sem lesões.
(Fonte: Shutterstock)
O neurocientista imaginou que isso poderia ser apenas uma reação do cérebro ao som. Então, fez novos testes embaralhando as palavras das perguntas. Por exemplo, no lugar de dizer “imagine atravessando a sala”, a gravação dizia “atravessando imagine sala a”.
Curiosamente, os padrões de ativação tanto da paciente quanto dos voluntários desapareceram, visto que as palavras embaralhadas não faziam sentido para o cérebro. A partir daí Owen concluiu que algo no cérebro de alguém em coma responde a vozes e gravações que tenham alguma lógica para a pessoa.
No entanto, ainda é muito difícil entender, de fato, o que acontece no cérebro durante o coma, e é por isso que os estudos continuam. A expectativa é que a tecnologia nos permita fazer investigações mais profundas sobre esse tema nas próximas décadas.