Saúde/bem-estar
05/05/2023 às 02:00•2 min de leitura
Existe uma arrogância hereditária de gerações se achando mais inteligentes que seus antepassados, principalmente quando dirigida a povos antigos, que muitas vezes são considerados "burros" por não terem previsto ou desenvolvido algumas tecnologias. Trazendo mais para o presente, esse embate fica muito claro entre os millenials e a geração Z.
Em um TED Talk de 2013, o filósofo James Flynn subiu ao palco para explicar o que é o Efeito Flynn – termo que cunhado em sua homenagem no livro The Bell Curve (1994) –, nome dado para a explicação do aumento constante e secular no QI (Quociente de Inteligência) da população mundial, observado ao longo do século XX.
A palestra de Flynn foi titulada "Por que nossos QIs são mais altos do que nossos avós?", enquanto apoia e refuta a sabedoria convencional – e é isso o que vamos descobrir.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Conforme o Phys.org, os níveis de QI aumentaram cerca de três pontos por década desde 1932, o que significa que as pessoas no início dos anos 1900 teriam uma pontuação de 70 para os padrões modernos – o que é suficiente para ser considerado uma deficiência intelectual, conforme a Associação Americana de Deficiência Intelectual e de Desenvolvimento.
Mas será que isso significa que todas as pessoas vivas desse século são altamente dotadas? A resposta é: dificilmente. Na verdade, pesquisas recentes parecem indicar que as pontuações de QI atingiram um teto e que não estão apenas se estabilizando, mas caindo, com a consequência de que a evolução do QI médio da população futura será estável.
Flynn observou que, do século passado para cá, os aumentos no QI da sociedade aconteceram devido a um crescimento geral na inteligência fluida (a capacidade de pensar, raciocinar e resolver problemas independentes de qualquer conhecimento adquirido de maneira abstrata e rápida) ou nas habilidades criativas de resolução de problemas. O oposto disso seria a inteligência cristalizada, ou seja, o uso habilidoso de informações aprendidas ao longo do tempo.
(Fonte: The Independent/Reprodução)
Em sua palestra, o filósofo exemplificou seu Efeito Flynn descrevendo um médico de 100 anos atrás e um de hoje. As profissões modernas precisaram incorporar informações mais complexas para acompanhar o ritmo de crescimento, enquanto a sociedade também depende de um grau de tarefas intelectuais desafiadoras.
Em números, nos anos 1900, apenas 3% dos norte-americanos praticavam um trabalho que demandava inteligência acima da média, atualmente, 35% deles precisam. E antes que confunda isso com a inteligência cristalizada, em que as pessoas estão lembrando de mais informações do que aprendendo, Flynn alega que os mais jovens, na verdade, são uma geração anti-histórica.
Em Matrizes Progressivas de Raven e no subteste de similaridade da Escala Wechsler de Inteligência para Adultos, partes específicas dentro do teste de QI indicaram uma melhora no pensamento abstrato, raciocínio hipotético e flexibilidade cognitiva da nova geração. Por essa razão que as pontuações gerais aumentaram.
(Fonte: The Independent/Reprodução)
Com isso, o aumento do QI geracional se prova, de fato, como um fenômeno ambiental, visto que um fluxo sucessivo de mutações genéticas não poderia ter se estabelecido e exercido tal influência no processo evolutivo do homem em tão pouco tempo.
Muitas explicações potenciais já surgiram para o Efeito Flynn. Em 1996, em uma conferência organizada por Ulric Neisser e realizada na Universidade de Emory, foi argumentado que o aumento de QI aconteceu por maior escolaridade, melhor nutrição e menos doenças ao longo da infância, e também um tratamento mais adequado entre pais e filhos.
Um estudo publicado na Revista Intelligence, com base em dados coletados ao longo de 12 anos de adultos participantes do Projeto de Avaliação de Personalidade de Abertura Sintética, indicou que as habilidades espaciais aumentaram, enquanto o raciocínio verbal e habilidades numérias sofreram uma queda vertiginosa.
Isso significa que o que decaiu foi a inteligência fluida, e os pesquisadores sugerem que as mudanças nos sistemas educacionais podem ser as responsáveis por isso.