Por que o cérebro acha que membros falsos são parte do nosso corpo?

10/09/2023 às 10:002 min de leitura

Em um estudo feito por cientistas da Universidade de Turim, na Itália, um experimento descobriu como o cérebro é enganado por mãos falsas. Em um truque chamado "ilusão da mão de borracha", os pesquisadores conseguiram explorar como a mente combina informações dos sentidos para criar um sentimento de propriedade do corpo.

Durante o experimento, as pessoas eram levadas a acreditar uma mão de borracha colocada sobre a mesa diante delas era seu próprio membro. Isso é fruto de uma bizarra, mas convincente, mudança de percepção que acompanha uma sensação de repúdio à mão real.

Os estudiosos resolveram lançar o estudo depois que perceberam que pacientes que sofreram AVC experimentaram sensações semelhantes. Muitos deles chegaram a ter certeza de que um membro paralisado não era seu, mas sim o de borracha. 

“Sabemos que a sensação de propriedade do corpo pode ser drasticamente alterada após danos cerebrais”, disse Francesca Garbarini, professora da instituição e líder no estudo.

Enganando o cérebro

Para o experimento, os cientistas usaram um grupo de voluntários saudáveis que se sentaram com os antebraços apoiados em uma mesa e a mão direta escondida em um caixa. Uma mão de borracha então foi colocada a frente de cada um dos participantes e alinhada ao ombro direito. Apenas um pano cobria o coto da mão, mas os dedos permaneciam visíveis.

O teste começou a acontecer quando um dos pesquisadores passou a acariciar o dedo médio da mão real do participante enquanto fazia o mesmo com o dedo da mão de borracha. A ilusão surgiu quando as mãos reais e falsas foram acariciadas ao mesmo tempo e velocidade.

É a combinação dessas informações visuais e sensoriais que faz o cérebro concluir erroneamente que a mão falsa deve fazer parte do corpo da pessoa. Ao serem questionados sobre o que sentiam, os voluntários disseram que parecia que sua própria mão que estava na caixa havia desaparecido e a mão falsa havia se tornado sua.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Todo o experimento foi monitorado por meio de uma técnica chamada Estimulação Magnética Transcraniana, que desencadeia pequenos pulsos elétricos em partes do cérebro que controlam o movimento das mãos. Com isso, os sinais viajam pela medula espinhal ao longo do braço e até a mão, onde são registrados como contrações musculares.

Garbarini descobriu que, quando as pessoas experimentavam a ilusão da mão de borracha, a força dos pulsos elétricos que chegavam a mão escondida diminuíam drasticamente. Ou seja, como o cérebro não considera mais a mão como parte do corpo, nos tornamos menos capazes de usá-la.

As descobertas feitas pelo estudo italiano foram publicadas na revista eLife e serviram para reforçar outras pesquisas que sugerem que o movimento está intimamente conectado à criação de um senso de propriedade do corpo pelo cérebro. Ao que parece, realmente o movimento é “a cola que liga o corpo ao eu”, como bem descreveram Luke Miller e Alessandro Farn, do Centro de Pesquisa em Neurociência de Lyon, na França.

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