Artes/cultura
11/08/2017 às 13:23•4 min de leitura
Não é nenhuma novidade que é bastante comum encontrar mais ateus entre cientistas e acadêmicos, certo? No entanto, o assunto que vamos abordar a seguir não trata da opção de simplesmente não seguir determinada religião ou acreditar em certos dogmas. Na realidade, o tema é mais polêmico, pois se refere ao fato de que cada vez mais de estudiosos vêm rejeitando a ideia de que Jesus Cristo — como homem e não como personagem central do cristianismo — existiu.
Segundo um interessante artigo de Philip Perry publicado no site Big Think, por um lado temos o pessoal que optou pelo ateísmo, mas que pensa que Jesus provavelmente foi um homem real — com base em todos os registros escritos que existem por aí. Afinal, segundo defende essa turminha, as histórias sobre Cristo têm que ter saído de algum lugar, certo? Então, independente de que ele tenha sido ou não um ser extraordinário, ele deve ter existido.
A discussão é controversa...
Contudo, por outro lado, cada vez mais acadêmicos vêm se apoiando nessas mesmas histórias para questionar a existência do homem. Isso porque, de acordo com essa turminha de “negadores”, na própria Bíblia existem enormes lacunas sobre a vida de Cristo, já que temos muitos anos sobre os quais não há qualquer informação disponível sobre ele.
Por exemplo: não há quase nada sobre a infância de Jesus, e os relatos pulam de quando o nazareno tinha 12 para os 30 anos sem que haja qualquer dado sobre o ocorreu nesse intervalo de tempo. Nesse caso, o que aconteceu? Não havia ninguém por perto para registrar o que Jesus andava fazendo ou... seria o caso de que a figura do nazareno simplesmente foi inventada por alguém?
Esse pessoal aponta ainda a questão de que surgiram evidências que indicam que os textos presentes na Bíblia, além de terem sido largamente mal interpretados, também foram editados sem dó ao longo dos anos para o benefício da Igreja Católica e de outras igrejas cristãs.
Papiro grego do século 3 contendo o Evangelho de Lucas
E tem mais: do ponto de vista acadêmico, se um autor escreve sobre um assunto ou sujeito mais de 100 anos depois do ocorrido ou de esse cara ter vivido, o registro não pode ser considerado válido. Além disso, a autoria do relato deve ser claramente comprovada também ou, do contrário, o documento perde credibilidade.
Os “negadores” alegam que os textos bíblicos foram redigidos várias décadas após os fatos terem ocorrido por diversas fontes diferentes, cuja intenção era promover a fé cristã. Ademais, segundo dizem, os evangelhos são contraditórios e muitos deles sequer são assinados com os nomes de quem provavelmente os escreveu, senão que receberam o nome do apóstolo que assinou o manuscrito.
Não existem documentos da época que comprovem a existência do homem
Aliás, de acordo com os estudiosos, o único evangelho que se encontra em ordem cronológica é o de João e, mesmo assim, são poucas as informações sobre a vida de Jesus que são divulgadas nos textos. Na realidade, os relatos de João estão focados em Cristo como ser celestial — e não no homem de carne e osso.
Ainda de acordo com os que defendem que a figura do nazareno foi inventada, para alguém com tamanha importância histórica, existem pouquíssimos registros de personagens comprovadamente reais que se encontraram com o homem. Sem falar que não há qualquer documento que ateste a sua existência, como certidões de nascimento, informações sobre processos, a respeito de sua morte, transcrições legais de qualquer natureza, nada.
Para não dizer que não existem registros de outras fontes, os historiadores romanos Tácito e Flávio Josefo mencionaram Jesus em seus textos brevemente, mas fizeram isso cerca de 1 século após a sua morte. Portanto, é possível que eles simplesmente tenham relatado histórias que ouviram dos primeiros cristãos — e, de acordo com as evidências, inclusive esses documentos sofreram edições ao longo do tempo.
Segundo o pessoal que acredita que Jesus nunca existiu, outro argumento importante é o fato de, ao longo da História, a humanidade ter se aferrado à crença de figuras divinas. Como todos sabem, gregos, romanos, pagãos e muitas outras culturas adoravam deuses e seres celestiais — e existem registros de inúmeras civilizações que acreditavam ser governadas por divindades e que se deixavam guiar por sua força e seu conhecimento.
Figura construída a partir de diversos personagens e heróis históricos?
Sendo assim, muitos estudiosos acreditam que, em vez de ter existido mesmo, a figura de Jesus foi inspirada em alguma divindade ou, ainda, em algum herói ou foi composto por vários da época. Um acadêmico especializado em textos bíblicos inclusive chegou a propor que a história de Cristo nada mais é do que um exemplo de guerra psicológica criada para ajudar a frear uma violenta revolta dos judeus contra os romanos.
Mais precisamente, no ano de 66, os zelotes travaram o que ficou conhecido como a Grande Revolta contra Roma e chegaram a vencer duas importantes batalhas no início do conflito. No entanto, os romanos sabiam que esse grupo estava aguardando a chegada de um messias guerreiro — e teriam usado essa informação a seu favor, criando uma figura que promovia o pacifismo entre a população.
Teria Jesus sido inventado pelos romanos? É isso o que defendem alguns estudiosos
Curiosamente, nesse sentido, uma dupla de pesquisadores criou uma forma de comparar e classificar o “heroísmo” figuras mitológicas de diferentes culturas a partir de 22 características diferentes, incluindo ser concebido de forma imaculada, ser filho de algum deus, morrer no topo de um monte ou ter os restos mortais misteriosamente removidos de sua sepultura. Segundo essa classificação, Jesus cumpre 20 das 22 características — o melhor “desempenho” de todos os heróis submetidos à análise.
Conforme comentamos no início da matéria, o assunto (embora fascinante) é bastante polêmico. Mas é importante ressaltar que os argumentos apresentados pelos estudiosos, apesar de válidos, não derrubam os defendidos pelos fiéis.
Só que também não existem provas de que ele não existiu
Afinal, embora não existam “provas materiais” de que Cristo existiu, e muitas evidências sugiram que ele não passa de uma figura fabricada pelo homem, ainda é impossível demonstrar sem qualquer sombra de dúvida que um rabino chamado Yeshua ben Yosef — esse seria o nome real de Jesus — caminhou sobre a Terra há pouco mais de 2 mil anos, conquistou uma legião de seguidores com seus ensinamentos e mudou a história da humanidade. E você, caro leitor, o que acha?