Ciência
06/03/2022 às 09:00•2 min de leitura
Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia no final de fevereiro, um de seus principais alvos tornou-se a capital da nação, a qual seria normalmente chamada de Kiev aqui no Brasil. Porém, tem se tornado comum ver mais pessoas passando a referir-se a ela como Kyiv. E existe uma explicação histórica para isso.
Gramaticalmente falando, ambas as formas estão corretas e podem ser utilizadas sem grandes problemas na nossa língua. Entretanto, a diferença escrita destaca uma discussão muito mais profunda sobre linguística e geopolítica, que nos traz uma visão ainda mais aprofundada sobre o que está acontecendo naquela região. Entenda!
Leia também: Rússia e Ucrânia: teremos uma 3ª Guerra Mundial?
(Fonte: Shutterstock)
Em geral, o russo e o ucraniano são línguas muito parecidas: ambas são línguas eslavas orientais que usam versões do alfabeto cirílico. Entretanto, o ucraniano acabou evoluindo para sua própria direção e passou a tomar palavras do polonês emprestado, o que criou pronúncias, letras e até mesmo vocabulário diferente.
Sendo assim, muitas palavras ucranianas são semelhantes às suas contrapartes russas, porém com diferenças simbólicas: o nome da capital da Ucrânia talvez seja um dos maiores exemplos disso. No entanto, tudo isso tornou-se um grande problema a partir da época em que a União Soviética passou a controlar a região, no século XX.
Nesse período, houve uma repressão sistemática da cultura ucraniana em favor da cultura russa — que também pode ser chamado de "russificação". Isso inclui tornar a pronúncia Kiev mais popular entre o público internacional do que Kyiv. Por esse motivo, a Ucrânia tenta reverter esse processo desde que se tornou independente em 1991.
(Fonte: Shutterstock)
Em 1995, o governo ucraniano decidiu dar um passo importante para remover qualquer resquício russo sobre a linguística e cultura do país. Por esse motivo, foi decidido reconhecer Kyiv como a pronúncia latinizada correta para o nome da capital. E essa luta continuou existindo por mais de duas décadas.
Em 2018, o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia iniciou uma campanha chamada #KyivNãoKiev para incentivar o resto do mundo a finalmente oficializar a mudança também. Uma das grandes vitórias internacionais do governo ucraniano foi ter recebido o reconhecimento do Conselho de Nomes Geográficos dos Estados Unidos, que apoiou a decisão de chamar a cidade de Kyiv em 2019.
Desde então, a mídia norte-americana deixou de usar a escrita Kiev em praticamente sua totalidade — muito pela rivalidade história envolvendo Rússia e EUA. Portanto, é de se esperar que países que estejam em conflito com as visões de guerra russas passem a mostrar apoio aos ucranianos por o simples gesto de reconhecer a forma oficial da escrita da cidade.
Substituir Kiev por Kyiv seria um padrão ortográfico para que outros países ao redor do planeta validassem a independência ucraniana, tanto cultural quanto politicamente. Portanto, enquanto a guerra é feita com armas e bombas, outras batalhas também são travadas no campo da linguística.
Leia também: Existem mesmo tantos neonazistas na Ucrânia?