Estilo de vida
26/11/2022 às 10:00•3 min de leitura
Assim como no Brasil, que tem suas raízes fundas e envolvem juízo de valores e questões socioeconômicas, a pirataria é uma verdadeira epidemia pelo mundo. Uma pesquisa levantada pelo Global Innovation Policy Center, em 2019, apontou que o dinheiro perdido por esse tipo de atividade ilegal chega a cerca de US$ 29 bilhões por ano.
Em lugares como a Somália, onde a maioria dos habitantes são muçulmanos sunitas, o início da pirataria na costa mais longa da África começou com a Guerra Civil da Somália, na década de 1990, motivada pela adversidade de um país afundado em pobreza aguda, conflito e instabilidade política. Uma vez que os somalis nunca exploraram o potencial de seus mares, por várias razões, a pirataria se tornou uma prática de sobrevivência até que os recursos se esgotassem da região, deixando as águas poluídas com resíduos nucleares e tóxicos.
O prejuízo obrigou os somalis a testarem novas formas de ganhar dinheiro para sustentar seus meios de subsistência. Unindo-se à milícia e à juventude desempregada, eles começaram a sequestrar embarcações e exigir resgate, dando, de fato, início ao movimento de pirataria na Somália. Entre uma das soluções que as autoridades encontraram foi colocar músicas da Britney Spears para afastá-los.
(Fonte: Defence Imagery/Flickr)
Em 2012, o relatório anual da Oceans Beyond Piracy acerca dos custos econômicos da pirataria somali, estimou o prejuízo em até US$ 6,1 bilhões globalmente só naquele ano. Um dos métodos encontrados para enfrentar esse verdadeiro flagelo oceânico inclui a presença naval estável fornecida pelas forças da coalização, assim como o aumento da presença de guardas armados.
No entanto, a Marinha Britânica revelou que outra técnica surpreendentemente incomum – e muito eficaz – é tocar os maiores hits da cantora Britney Spears, considerada a princesa da música Pop.
“Suas canções foram escolhidas por membros da equipe de segurança porque acharam que os piratas as odiariam mais”, revelou a segundo oficial Rachel Owens, da marinha mercante, a uma matéria da Metro.
(Fonte: Christopher Polk/Getty Images)
Os hits Oops! I Did it Again e Baby One More Time provaram ser os mais eficazes para coibir ataques dos bandidos e impedir o sequestro, isso porque as duas músicas são consideradas a síntese da cultura ocidental – tudo o que os muçulmanos detestam.
Só em 2011 aconteceu 176 ataques a navios por gangues de bandidos no Chifre da África, resultando em milhões de libras perdidas. Por esse motivo, a região foi reforçada com mais de 1.500 marinheiros em 14 navios de guerra, operando patrulhas ininterruptas – mas ainda não foi o suficiente.
(Fonte: Mohamed Dahir/AFP/Getty Images)
Os alto-falantes desses navios foram voltados para o mar na esperança de perturbar e dispersar os piratas, fazendo a tática de tocar as músicas da Britney tão eficaz que a segurança do navio raramente precisa recorrer às armas de fogo.
“Os piratas farão de tudo para evitar ou tentar superar a música”, disse Steven Jones, da Associação de Segurança para a Indústria Marítima.
Muito embora direcionar essas explosões de música para os navios que se aproximam possa ser considerado violento de uma maneira diferente, é uma fonte de proteção contra o sofisticado empreendimento comercial somali, que recorre à tecnologia moderna e dispositivos de posicionamento global para rastrear suas presas.
A pirataria no Índico acabou se consolidando muito também, porque companhias de navegação chegaram a assinar contratos com gangues criminosas e piratas para evitar serem perseguidas, acabando por consolidar as raízes do problema.
(Fonte: Randa Ghazy/Save the Children/Reprodução)
Em 2008, os mares da África Oriental se tornaram os mais perigosos de todos os tempos, com pescadores capturando mais de 50 enormes embarcações no Golfo de Aden, uma via essencial entre a Europa e a Ásia para a economia global.
Desde a Operação Atalanta, que aconteceu em 8 de dezembro daquele ano, e foi uma operação militar massiva de combate à pirataria no mar ao longo do Chifre da África e no Oceano Índico Ocidental – conduzida pela União Europeia –, os ataques diminuíram bastante, mas ainda são preocupantes devido ao tipo de recurso que a Marinha Britânica, por exemplo, precisa usar para manter a ameaça longe. Agora, aparentemente, o problema apenas mudou de região, crescendo no Golfo da Guiné, visto que o número de embarcações estrangeiras também aumentou.
(Fonte: AMISOM Public Information/Flickr)
Em meio ao caos assustador que é o problema na Somália, essas medidas são consideradas apenas paliativas. Ainda que as superpotências internacionais tenham dado as mãos para acabar com a pirataria, as águas territoriais são muito grandes para serem policiadas, fazendo disso um indicador das limitações das máquinas de guerra convencionais contra as ameaças deste século. Além disso, é quase impossível competir com o poder de investimento dos piratas aliados às instituições mais influentes do país.
Há duas décadas que a Somália tem um governo descentralizado e sem efetividade, focando suas únicas forças para lutar contra a insurgência para proteger a capital nas guerras internas. Portanto, seu olhar para a população foi totalmente esquecido, dando oportunidade para os piratas se aproveitarem e oferecerem um vislumbre de esperança aos jovens desempregados, pagando para alimentarem a máquina da pirataria, fazendo o mercado crescer drasticamente.
Apesar de a extensão e dificuldade do problema, a comunidade internacional é a única capaz de ajudar a Somália, sustentando o peso de uma responsabilidade moral para uma solução duradoura.