Estilo de vida
29/01/2023 às 11:00•2 min de leitura
Sempre que olhamos para a parte norte do mapa da América do Sul, vemos as "guianas", territórios cuja integração cultural e social é quase inexistente conosco. Inclusive, sabemos muito pouco sobre esses locais. Contudo, muita gente também desconhece os encantos da Guiana Brasileira — sim, o Brasil tem uma guiana para chamar de sua!
Estamos falando do estado do Amapá, no extremo norte do Brasil. Essa região é considerada a guiana brasileira, mas não por ser vizinha da Guiana Francesa. Acontece que a palavra "guiana" era usada pelos colonizadores europeus para identificar uma vasta região do continente.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Essa região era habitada por indígenas descendentes do povo arahuaco, sucessores da região do Caribe. Acontece que quando Cristóvão Colombo chegou na América, ele decidiu batizar toda a região entre o Rio Negro, o Rio Orinoco e a Amazônia de "Guiana".
Com o passar dos anos, a disputa entre os países europeus fez com que surgissem divisões nessa região, como a Guiana Espanhola (Venezuela), a Guiana Britânica (Guiana), a Guiana Holandesa (Suriname), a Guiana Francesa e a Guiana Brasileira (Amapá).
A região da Guiana Brasileira foi motivo de disputas diplomáticas e conflitos violentos por séculos. No começo, os portugueses e franceses disputavam a região da "Tucujulândia", como também era conhecida a região que hoje chamamos de Amapá.
Durante os anos de 1700 e 1900, franceses, portugueses e brasileiros travaram guerras na região reivindicando o território. Tratados foram assinados para tentar conter os conflitos, mas eram constantemente desrespeitados.
(Fonte: Getty Images)
Em 1895, com o Brasil já independente de Portugal, ocorreu um dos massacres mais violentos na região. Os franceses e brasileiros se enfrentaram no chamado "Massacre da Vila do Espírito Santo do Amapá".
Cidadãos brasileiros foram assassinados pela marinha francesa, cujo objetivo era libertar presos que conspiravam a favor dos franceses. Contudo, por conhecerem bem a região, os civis brasileiros impuseram dificuldades às tropas invasoras, sem que os franceses tivessem êxito em sua missão.
"Estas tropas foram enviadas com a missão de libertar o colaboracionista brasileiro Trajano, que representava interesses franceses, e de prender o líder militar e civil brasileiro Francisco Xavier Veiga Cabral (o Cabralzinho), do Triunvirato que governava o território contestado em nome de interesses brasileiros. Este combate, de graves repercussões internacionais, passou à História como combate da Vila Amapá.", informa o historiador Cláudio Moreira Bento, em estudo publicado sobre o tema.
Homenagem a Barão do Rio Branco em colégio no Amapá. (Reprodução: Marcelo Loureiro/Secom)
Após a independência do Brasil, os franceses não reconheciam que a antiga Guiana Portuguesa era, agora, a Guiana Brasileira. Em 1890, houve um julgamento internacional para tratar do caso, na Convenção de Genebra.
O diplomata José Paranhos, conhecido como Barão do Rio Branco, apresentou provas de que os franceses não tinham nenhum direito ao território contestado e o Brasil foi oficialmente reconhecido como dono daquelas terras.
O território da Tucujulândia foi incorporado à região do Pará, mas em 1943 foi desmembrado do estado pelo presidente Vargas. Com a Constituição de 1988, finalmente tornou-se um estado brasileiro.