Desembarque Igbo: a história do povo que se afogou para fugir da escravidão

04/02/2023 às 05:002 min de leitura

Por centenas de anos, muitas pessoas escravizadas da África foram sequestradas, amontoadas em navios negreiros e enviadas para as Américas. No entanto, um acontecimento entrou para a história em 1803, quando 75 igbos — grupo étnico da Nigéria — e outros povos da África Ocidental decidiram lutar em um evento notável que ficou conhecido como "Desembarque Igbo".

Naquela ocasião, essas pessoas haviam sido vendidos no tráfico negreiro e forçados a embarcar em um navio com direção à ilha de St. Simons, nos Estados Unidos. Os cativos, no entanto, revoltaram-se e conseguiram dominar os traficantes de escravos que tripulavam o navio. Contudo, o resultado foi uma enorme tragédia histórica.

Revolta em alto mar

(Fonte: Donovan Nelson/Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana)(Fonte: Donovan Nelson/Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana)

Após tomarem conta do navio negreiro, os Igbos conseguiram atracar em uma região chamada de Dunbar Creek. Nesse momento, tomaram uma decisão difícil: poderiam se render aos traficantes de escravos que os esperavam na praia ou tomar uma medida desesperada para fugir de uma vida acorrentada. 

Com esse grande questionamento em mente, os bravos revolucionários marcharam para a água e se afogaram, cometendo suicídio em massa. Embora essa seja a denominação para o tipo de morte, historicamente o evento é visto como um ato de resistência generalizado — mostrando que até a morte era mais "agradável" do que viver uma vida sem liberdade.

Conforme é listado pela Biblioteca do Congresso dos EUA, todos os escravos que precisavam passar pelo trajeto entre África e Novo Mundo sofriam bastante. Os cativos eram forçados a ficar em aposentos abaixo do convés, que eram tão apertados a ponto de um indivíduo não conseguir ficar de pé. No meio do caminho, muitos morriam de asfixia, desnutrição e doenças, sem contar a parcela que era torturada e morta pela tripulação.

Resistência Igbo

(Fonte: Sandy White/Sociedade Histórica Costeira da Geórgia)(Fonte: Sandy White/Sociedade Histórica Costeira da Geórgia)

Os Igbo foram uma população extremamente escravizada no século XVIII. Conforme relata o livro Murder at Montpelier: Igbo Africans in Virginia (2015), mais de 1,3 milhão dos 1,7 milhão de pessoas retiradas do centro de escravos da baía de Biafra durante o comércio atlântico de escravos eram Igbos.

Centenas de milhares de Igbo que sobreviveram à jornada até o Novo Mundo ao longo dos anos foram rapidamente vendidos e comprados como escravos nas costas dos Estados Unidos. Mas em 1803, a revolta de um grupo Igbo trouxe um sinal de resistência enorme para toda a população de pessoas escravizadas.

Até hoje, os acontecimentos do "Desembarque Igbo" seguem sendo transmitidos de geração em geração para os descendentes afro-americanos. Devido ao apelo nacional criado por artistas negros nos EUA, um monumento foi erguido em maio de 2022 em Dunbar Creek, onde a história foi escrita. Pouco se mudou sobre a escravidão americana nos anos seguintes à resistência Igbo. Mesmo assim, a revolta foi se espalhando entre as pessoas escravizadas, fazendo crescer um sentimento de luta ainda maior.

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