Ciência
04/03/2023 às 13:00•3 min de leitura
Durante séculos, os colonizadores portugueses trouxeram pessoas africanas escravizadas para o Brasil. Além de sua força de trabalho, elas trouxeram também suas culturas e seus idiomas.
Em vista disso, não é de se surpreender que a língua portuguesa — especialmente o português brasileiro — tenha tantas influências africanas. Isso pode ser percebido em várias palavras incorporadas ao nosso vocabulário, mas também em outras características.
Segundo linguistas, a forma como as palavras são faladas, com as sílabas "di" e "ti", é um dos sinais dessa influência — a pronúncia brasileira é muito diferente da de Portugal, se assemelhando à de Angola. Eliminar o "r" final das palavras na hora de falar, é outra influência africana.
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Mas é importante explicar que, quando falamos em influências africanas, estamos falando de vários povos e muitos idiomas. Estima-se que existam mais de duas mil línguas na África. Aqui no Brasil, as principais influências vêm dos idiomas bantos — atuais Angola, Congo e Moçambique. Isso porque, nos navios negreiros, pessoas de diferentes etnias acabavam se comunicando em quimbundo, uma língua banta que muitos conseguiam entender.
Feita essa explicação, vamos às palavras que foram incorporadas ao nosso português atual. Há muitos termos religiosos e culturais, em especial nos fenômenos de origem africana: macumba, candomblé, batuque, berimbau, samba, dendê. A seguir, temos outros dez exemplos de palavras africanas utilizadas no português.
(Fonte: Getty Images)
Essa palavra vem de kazuli — que, no idioma quimbundo, tem o mesmo significado que no português brasileiro. Ou seja, o filho mais novo de uma família.
Em Portugal, aliás, os filhos mais novos são chamados de "benjamim".
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Utilizada para se referir a um carinho qualquer, no idioma quimbundo a palavra significa, literalmente, o ato de coçar ou acariciar a cabeça de alguém.
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O nome dado a esse instrumento utilizado para fumar, geralmente repleto de tabaco, também vem do idioma quimbundo. Trata-se de uma adaptação da palavra kixima.
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Quando dizemos que alguém "está dengoso", a pessoa provavelmente está manhosa ou sendo meiga, de um jeito quase infantil.
Mas na cultura banta, "dengo" tinha um sentido mais profundo: pedir aconchego para outra pessoa em meio à dureza do cotidiano.
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Para algumas pessoas, axé é somente aquele ritmo musical originário da Bahia. Porém, muita gente utiliza esse termo como saudação para desejar boa sorte — quase como o "amém" dos cristãos. Esse termo tem origem no iorubá ase.
Mais que "boa-sorte", o axé/ase é a energia vital que impulsiona o universo. Esse significado é encontrado, inclusive, em diversas religiões de matriz africana.
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Mu'lekes era a maneira que os falantes de quimbundo se referiam aos seus filhos pequenos. Como tudo que vinha da cultura africana era encarado com preconceito, chamar um menino por moleque adquiriu um significado pejorativo durante muito tempo — e chamar um garoto branco de moleque poderia ser uma grande ofensa.
Hoje em dia, no português brasileiro, um moleque pode ser qualquer criança, especialmente as mais levadas. Ou, também, adultos que se comportam como crianças.
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Essa palavra, usada como sinônimo para "enganar" alguém, também tem origem africana. Ela vem de n'giimba e faz referência a um adivinho que se comunicava com os espíritos para saber como as coisas iriam acontecer. Com o tempo, o significado mudou pejorativamente para esse.
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Muita gente usa esse termo para se referir aos pequenos estabelecimentos onde se pode comprar frutas, verduras, ovos e outros produtos frescos. No idioma quimbundo, Kitanda tem esse significado também.
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Sabe aquela camiseta estilizada que você ganha para entrar em algumas festas, em especial no Carnaval? Então: ela é chamada de abadá por influência do iorubá.
A diferença é que, para essa cultura, abadá eram as vestes brancas usadas em rituais religiosos.
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A gente só não chama essa parte do corpo de "nádegas" por influência africana. Mbunda é um povo, e um idioma, originário da Angola – onde há também um município chamado Bundas. Este nome também é usado em um distrito na Tanzânia.
Acredita-se que o termo tenha adquirido o significado que tem hoje aqui no Brasil porque as pessoas de etnia mbunda possuiam nádegas avantajadas.