Artes/cultura
16/12/2023 às 06:00•2 min de leitura
Há alguns anos, a National Geographic Society anunciou a descoberta bombástica de um evangelho perdido chamado Evangelho de Judas, um livro que teria sido deixado de fora da Bíblia. Com isso, duas questões primordiais para a fé cristã surgiram: por que alguns livros não foram colocados na Bíblia, e a inclusão dessas obras deveria ser considerada para o futuro?
Embora o Evangelho de Judas tenha sido uma grande descoberta, ele não foi uma grande surpresa. Isso porque o texto já havia sido mencionado no século II por um famoso líder da Igreja Católica e não foi escrito em grego, mas numa língua egípcia conhecida como copta. Além disso, ele foi composto depois da escritura do Novo Testamento, fazendo parte de uma coleção de documentos pertencentes a outra religião chamada gnosticismo.
(Fonte: Getty Images)
A maioria das Bíblias lidas pelos protestantes possuem 66 livros. Algumas delas, publicadas para leitores católicos romanos, contêm também o que é conhecido como apócrifos, que inclui alguns livros adicionais, como o Livro de Enoque. Os apócrifos e pseudoepígrafes são nomes de coleções específicas de livros antigos.
Isso significa que apócrifos são livros que fornecem algum contexto histórico para a Bíblia, mas não são considerados canônicos. Logo, eles são vistos como leituras interessantes, mas não são divinamente inspirados segundo os membros da fé cristão, nem esclarecedores da mesma forma que a Bíblia.
As pseudoepígrafes, por sua vez, são livros escritos sob pseudônimos. Normalmente, as pessoas dos séculos posteriores personificariam um autor — como Maria ou um dos apóstolos — para ganhar influência sobre os leitores. Esses livros eram comuns no gnosticismo, mas também não possuem a mesma validade dentro do cristianismo. Os livros pseudoepigráficos, por exemplo, afirmam que Jesus disse certas coisas que contradizem seus ensinamentos no Novo Testamento.
Por esse motivo, muitos pesquisadores tendem a condenar o termo "livros perdidos da Bíblia", uma vez que eles não foram de fato perdidos, mas sim condenados por serem anti-Escrituras ou rejeitados por não serem edificantes.
(Fonte: Getty Images)
A influência do Espírito Santo nos corações e mentes dos primeiros cristãos foi o principal fator que influenciou quais documentos específicos as igrejas individuais começaram a usar como Escrituras inspiradas e autorizadas. Porém, também é preciso ressaltar a existência de alguns padrões objetivos e racionais nesse processo.
Em primeiro lugar, existia a origem apostólica. Desde o início, os cristãos se dedicaram ao ensino dos apóstolos, que inicialmente eram difundidos oralmente, mas depois foram transcritos. Uma vez que as igrejas obtiveram cópias destes documentos, eles passaram a figurar na Bíblia. Posteriormente, as igrejas rejeitaram imediatamente qualquer documento que não estivesse em conformidade com a coleção de ensinamentos essenciais que toda a fé cristã aceitava.
Nos séculos III e IV, nenhum livro era considerado Escritura a menos que tivesse sido amplamente utilizado pelas igrejas desde o início. Por esse motivo, o padrão exclui a possibilidade de que qualquer documento possa ou deva ser adicionado à Bíblia agora. Sendo assim, independente do questionamento se os "Livros Perdidos" existem ou não, é quase certo que o Livro Sagrado continuará sendo da forma que é hoje.