Ciência
04/05/2024 às 14:00•3 min de leituraAtualizado em 04/05/2024 às 14:00
A pirataria faz parte do imaginário popular, eternizada por livros, filmes, séries e pinturas. Entretanto, as pessoas sabem pouco sobre como os piratas realmente viviam durante o auge do que é conhecido como "era de ouro da pirataria", período entre 1650 e 1730 que compreendia suas atividades violentas em alto mar.
Por longos anos, os piratas viveram à margem da lei, saqueando navios, levando medo às tripulações, além de alimentar mitos sobre riquezas incalculáveis que poderiam estar escondidas por aí, apenas aguardando serem encontradas. Porém, por meio de estudiosos do tema, o que se sabe é que a vida desses homens e mulheres não era, necessariamente, semelhante ao que vimos no cinema.
Havia entre os piratas uma espécie de código de honra. Vivendo constantemente em navios no alto mar, eles tiravam seu sustento do que roubavam de outros barcos, ou do saque de cidades portuárias. Tudo era visado por eles, mas especialmente os objetos que aparentassem possuir valor. Porém, somente um grupo não poderia ser alvo de roubos: os próprios piratas.
Por maior que fosse a cobiça, os piratas costumavam honrar o código e não tomavam as posses de seus pares, cientes de que haveria punição. Ela poderia ser algo simples, como ser deixado em alguma cidade, mas dependia do que havia sido furtado.
Castigos como ser jogado ao mar, ter partes do corpo cortadas e até mesmo a morte ajudavam a manter a estrutura de um navio de mercenários.
O código de honra dos piratas também trazia algumas espécies de direitos. É importante ressaltar que nada disso era escrito, tampouco rígido, mas, sim, uma construção coletiva de cada grupo de piratas. Um dos elementos presentes versava sobre algo muito semelhante a direitos trabalhistas.
Vivendo muito tempo juntos e passando por toda sorte de situações, os piratas poderiam acabar se ferindo no dia a dia. Seus integrantes machucados que ficassem impedidos de participar de saques e roubos recebiam uma porcentagem do ouro, distribuída pelos demais colegas.
Em situações mais graves, que envolvessem a necessidade de "aposentadoria", grupos de piratas desembolsavam uma quantia fixa que garantisse a esse integrante o sustento longe do mar. Apesar de não ser uma regra, historiadores apontam que era uma medida que acontecia com bastante frequência, um estímulo para que assumissem os perigos de serem saqueadores.
O perfil estereotipado dos piratas é pouco explicado na cultura popular. Brincos, trajes coloridos, bandanas, tapa-olho, pernas de pau e papagaios existiam, mas sempre servindo a um propósito. Os brincos geralmente significavam algo sentimental, ou então representavam a comemoração de um marco na trajetória de algum pirata, como sua primeira travessia pelo mar.
Outro aspecto relevante diz respeito ao valor de brincos e anéis. Quando um pirata morria, seu funeral podia ser pago usando esses itens como meios de pagamento. Em alguns casos, eram enviados como herança em caso de possuírem familiares vivos e conhecidos de outros tripulantes.
Outro aspecto pouco comentado é que piratas possuíam uma vida sexual e afetiva muito mais aberta do que seu caráter violento pressupunha. A vida em alto mar, combinada com a baixa presença de mulheres na maioria dos grupos, resultava que os piratas, por vezes, se relacionassem uns com os outros. A esse movimento deu-se o nome de matelotage.
Ele não envolvia necessariamente sexo, e funcionava como uma espécie de proteção mútua, na qual os piratas comprometiam-se a dividir igualmente suas partes dos roubos, de maneira a garantir seu sustendo em tempos difíceis. No caso de falecimento de uma das partes, a outra herdava todos seus bens.
De uma maneira própria, navios piratas desenvolviam uma interpretação da democracia. Votações para determinar o rumo de navegação, a distribuição igualitária dos frutos de um saque e a liberdade de se manifestar sobre assuntos do barco eram estendidas a todos os tripulantes, independente de seu papel a bordo.
Historiadores acreditam que essa foi uma maneira de angariar novos indivíduos para o grupo e mantê-los unidos, visto que muitos haviam sido escravos ou pessoas pobres, e eram reprimidos nas sociedades em que viviam anteriormente.