Estilo de vida
22/06/2024 às 20:00•2 min de leituraAtualizado em 22/06/2024 às 20:00
Quem pensa que futebol é uma competição viril é porque nunca assistiu a uma acirrada partida de buzkashi, o esporte nacional do Afeganistão. No torneio equestre, que inspirou o polo, equipes de 6 a 12 jogadores, tentam pegar o “buz”, que é o corpo de uma cabra sem cabeça, e levá-lo até o gol (tordo) que, no caso, é um círculo no chão, após dar uma volta completa pela arena.
Considerado, desde 20212, como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, o buzkashi é praticado há séculos, e por isso tem vários nomes, como Kok-boru, Oglak Tartis, Kök Börü ou Ulak Tartysh. Além do Afeganistão, o esporte é também popular no Tajiquistão, Quirguistão, Cazaquistão e Turcomenistão.
"Paixão nacional", segundo o presidente da Federação Buzkashi, Ghulam Sarwar Jalal, o esporte chegou a ser proibido no país entre 1996 e 2001, pelos talibãs que, ao retornar ao poder em 2021, o liberaram. "Os talibãs sabem que isso deixa as pessoas felizes, é por isso que o autorizam", explica Jalal à Al Jazeera.
Como acontece com a maioria dos esportes que começa a atrair multidões, o buzkashi mudou completamente, segundo o afegão Sarwar Pahlawan, hoje o maior chapandaz (cavaleiro) do país, à Al Jazeera.
De um descompromissado, e violento, passatempo rural, o buzkashi deixou de ser apenas um bate-bola (no caso um bate-cabra), e evoluiu para um fenômeno profissionalizado, onde o dinheiro rola generosamente, e os atletas e cavalos recebem tratamento vip.
"Antes nos pagavam com arroz, óleo, um tapete ou uma vaca", diz Sarwar. Mas hoje os melhores chapandazes chegam a receber até R$ 54 mil por ano. Na conquista de um título, elementos da equipe vencedora dividem um “bicho” (não a cabra, que agora foi substituída por um saco de couro de 30 kg) de até R$ 190 mil, três camelos e um carro oferecido pelos patrocinadores.
Além da substituição das cabras por sacos de couro o próprio tordo, também chamado de círculo de justiça, deixou de ser uma simples marca de giz no chão e virou um recipiente forrado, com dez metros de diâmetro. Os treinos também mudaram: a musculação, que era feita com os cavaleiros se pendurando em árvores, agora tem halteres.
Hoje, o maior financiador do novo buzkashi é o magnata do petróleo Saeed Karim, cujo time leva o nome de sua empresa, a Yama Petroleum. Ele contratou os melhores chapandazes do país, inclusive Sarwar, e cerca de 40 cavalos de competição, que podem custar mais de R$ 500 mil cada.
Sarwar também não tem o que reclamar: “Eu nem tinha bicicleta e agora tenho carro. Quase não tive ovelhas e agora tenho muitas. Eu não tinha casa e agora tenho duas”, comemora o "Leão".