Ciência
29/06/2024 às 08:00•3 min de leituraAtualizado em 29/06/2024 às 08:00
O período da Guerra Fria foi um dos mais turbulentos na relação entre a antiga União Soviética e os Estados Unidos. Diversos casos são representativos desse período, mas poucos são tão emblemáticos quanto o chamado Caso Rosenberg, que há pouco mais de 70 anos levou à execução os dois primeiros civis condenados por espionagem na história norte-americana.
Levaram anos até que os detalhes da investigação fossem revelados pelo FBI. Neste período, o caso que levou à condenação de Julius e Ethel Rosenberg gerou muita especulação, engajando indivíduos comuns em torno dessa história. Ainda há muita discussão acerca do tema, que chegou a envolver até mesmo Pablo Picasso.
O Projeto Manhattan foi um programa de pesquisa liderado pelos Estados Unidos e que foi responsável pela produção das primeiras bombas atômicas. Entre os participantes, estava o físico teórico alemão Klaus Fuchs, um cientista renomado, a quem coube fazer os cálculos teóricos das primeiras armas de fissão nuclear, além dos modelos iniciais da bomba de hidrogênio.
Exilado nos Estados Unidos, ele se tornou um espião soviético, muito por conta de seu passado comunista. Ele atuou compartilhando segredos relativos ao desenvolvimento da bomba atômica. Ao ter a sua atividade clandestina descoberta, Fuchs foi preso e, em 1950, condenado a 14 anos de prisão.
Para reduzir a pena, o físico cooperou com as autoridades, fornecendo informações sobre outros envolvidos com o esquema de espionagem. A partir dos elementos compartilhados com investigadores, o FBI chegou ao casal Rosenberg. Posteriormente, eles seriam executados.
Engenheiro do Exército dos Estados Unidos, Julius Rosenberg era considerado um dos melhores de sua função, lidando diariamente com tecnologias sensíveis e altamente secretas. No entanto, o engenheiro levava uma vida dupla, o que o FBI e os investigadores conectaram com seu passado como membro do Partido Comunista dos Estados Unidos, bem na época conhecida como Ameaça Vermelha.
Segundo as autoridades, Julius Rosenberg entrou para um círculo de esquerdistas que defendiam o comunismo como alternativa ao capitalismo, influenciados pelo clima de terra arrasada trazido pela Grande Depressão. No esquema de espionagem, ele teria utilizado sua rede de contatos dentro do partido para recrutar espiões e fazer as informações sigilosas chegarem até Moscou.
Também membro do Partido Comunista dos Estados Unidos e envolvido com o escândalo de espionagem, David Greenglass era, ainda por cima, irmão de Ethel e cunhado de Julius. Durante o processo de investigação do FBI, Greenglass decidiu apresentar provas contra seus familiares, testemunhando contra a própria irmã.
Anos mais tarde, David diria que cedeu falsas informações ao FBI e teria testemunhado sob coação, porém apenas na parte que tratava da própria irmã. Ele chegou a fazer uma retratação sobre o seu testemunho, mas afirmou que Julius havia realmente fornecido esboços de aviões a jato e componentes de bombas atômicas para serem entregues aos soviéticos.
Em entrevista ao programa de TV 60 Minutes, Greenglass afirmou ter entregado a irmã para proteger suas esposa, e disse não ter se arrependido de ter tomado tal atitude.
A chamada Ameaça Vermelha levou a prisões arbitrárias e muita perseguição ideológica nos Estados Unidos. Um dos resultados desse movimento contrário ao comunismo foi o macarthismo, uma prática de acusar pessoas de subversão ou traição caracterizado por repressão política a indivíduos com ideias associadas aos comunistas. A condução do processo e das investigações foi acusada de ser influenciada pelo macarthismo.
Senador na época, McCarthy foi um fervoroso defensor de punições aos supostos espiões. Roy Cohn, advogado de acusação, teve papel preponderante na condenação do casal Rosenberg. Posteriormente, acabou trabalhando em diversos casos do Senador McCarthy relacionados à perseguição contra comunistas.
A investigação e o posterior julgamento de Julius e Ethel Rosenberg mexeu com a opinião pública norte-americana. Apesar de apoio considerável no combate ao comunismo, a condenação à morte do casal gerou um clamor público pelo perdão presidencial.
O governo norte-americano chegou a ser acusado de antissemitismo ao prender e condenar o casal de judeus por espionagem baseado, principalmente, no depoimento do irmão de Ethel e na ausência de provas concretas. O Papa Pio XII chegou a apelar clemência ao presidente americano, mas não obteve o resultado esperado.
Outras personalidades e celebridades se envolveram com protestos públicos, aderindo à causa de perdão para os Rosenberg. Nomes como Marilyn Monroe, Albert Einstein e Pablo Picasso apoiaram a inocência da dupla, exigindo um novo julgamento ou anulação da pena de morte. Isso, contudo, nunca ocorreu e eles morreram em 1953.