Após 40 anos, mulheres entram em estádio no Irã pela primeira vez

14/10/2019 às 11:142 min de leitura

Após a chamada Revolução Islâmica, em 1979, as mulheres sofreram uma série de restrições em relação aos seus direitos. E, apesar de não serem oficialmente impedidas de assistirem a jogos de futebol masculinos, elas eram barradas em estádios, e as que insistissem poderiam até ser detidas. Antes de 1979, contudo, era comum a presença do público feminino em eventos esportivos. 

Desde a Revolução, as mulheres lutam pela reconquista de seus direitos e, embora seja um combate difícil, seus esforços têm demonstrado progressos. Neste ano, mulheres receberam autorização para entrar em um estádio de futebol no Irã — pela primeira vez em 4 décadas.

O evento histórico aconteceu no jogo das Eliminatórias da Copa 2022 no estádio Azadi Sport Complex, em Teerã. Mais de 3,5 mil mulheres compraram ingressos para a partida entre Irã e Camboja. “As mulheres estão ansiosas para que finalmente acabe a proibição, tanto que um grande número delas irão aparecer nos portões para comprar ingressos e protestar”, afirmou o diretor de iniciativas globais na Human Rights Watch, Minky Worden.

(Fonte: Getty Imagens/Reprodução)

Um muro cai, outro cresce

Apesar de ter sido um passo importante, a atitude do governo recebeu muitas críticas. As torcedoras, para assistirem ao jogo, deveriam ficar em um setor separado dos homens cercado por grandes placas de metal e com a presença de policiais mulheres — no que os críticos chamaram de “jaula”.

“Parte de mim está feliz, mas eles basicamente criaram um muro”, afirmou Maryam Shojaei, uma das líderes da campanha pela abertura dos estádios e irmã de Masoud Shojaei, capitão da seleção iraniana. “Não era o que estávamos pedindo. Não é como se todo mundo pudesse ir e sentar livremente com seus irmãos, pais e maridos”, protestou ela.

Além disso, nenhuma fotógrafa pôde entrar no jogo para registrar esse momento histórico — todas que manifestaram interesse tiveram suas credenciais negadas. 

(Fonte: Getty Imagens/Reprodução)

Críticas de todos os lados

A atitude de abertura dos portões para o público feminino foi criticada não apenas por aqueles que defendem o fim da proibição, mas principalmente pelos que são a favor da segregação. Alguns radicais protestaram, afirmando que a medida não passava de uma “capitulação pela pressão do Ocidente”.

O jogo

Podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que nessas eliminatórias o jogo em si sequer foi a atração principal. Afinal, tratava-se de uma disputa entre a força asiática iraniana e o Camboja, time que até agora não demonstrou potencial suficiente para brigar seriamente por uma vaga na Copa 2022, que contemplará apenas 32 seleções. O placar só confirma o argumento: 14 a 0 para o Irã.

(Fonte: Getty Imagens/Reprodução)

No entanto, apesar de ter sido uma vitória fácil para o time; para as mulheres, assistir àquele jogo foi uma conquista extremamente difícil. A presença feminina no estádio representou, obviamente, um passo importante — que deve ser encarado como apenas o primeiro de muitos. A pressão por parte da Fifa deve continuar para que esse evento não seja apenas uma exceção, mas se torne uma prática comum, livre de preconceitos e muros. 

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