Guglielmo Marconi: o inventor do rádio que se envolveu com o fascismo

14/01/2023 às 08:003 min de leitura

Em 25 de maio de 2020, em Minneapolis, Estados Unidos, quando o policial Derek Chauvin causou a morte de George Floyd, ficando sobre seu pescoço por 8 minutos e 46 segundos, o movimento Black Lives Matter surgiu como um protesto a nível global para discutir a violência policial motivada pelo racismo estrutural que devasta os bairros periféricos norte-americanos há séculos.

Os protestos em busca de justiça e um pouco de reparação histórica, pela quantidade de crime e violência sistemática da qual a comunidade negra é vítima diariamente, atingiram todos os aspectos da sociedade no país. 

(Fonte: Kacper Pempel/Reuters/Reprodução)(Fonte: Kacper Pempel/Reuters/Reprodução)

Em vários estados, manifestantes derrubaram estátuas de confederados, responsáveis por torturar e matar escravos que, mesmo assim, foram ilustrados como "heróis de guerra". Pessoas como o prefeito de Birmingham, no Alabama, que pediu para remover do centro da cidade a estátua de Raphael Semmens, oficial da marinha confederada, compartilha da ideia de que "isso não vai mudar o passado" – enquanto os manifestantes só pedem, na verdade, que responsáveis pelo genocídio do povo negro parem de ser exaltados de alguma forma.

O mesmo teor controverso aconteceu quando o Conselho de Cardiff, uma cidade portuária na costa sul do País de Gales, quis erguer uma estátua em homenagem ao italiano Guglielmo Marconi, responsável pela invenção do rádio. No entanto, os planos foram questionados quando descobriram que o inventor foi um fascista fervoroso e seguidor de Benito Mussolini.

Mudando a história

Guglielmo Marconi. (Fonte: Hulton Archive/Getty Images)Guglielmo Marconi. (Fonte: Hulton Archive/Getty Images)

Nascido em 25 de abril de 1874, em Bolonha, na Itália, Marconi começou a fazer experiências com o envio de sinais elétricos aos 22 anos, quando ainda morava na casa de seu pai. Ele teve como inspiração o trabalho de Heinrich Hertz, que descobriu as ondas de rádio em 1888, e continuou suas descobertas de onde ele parou.

Em meados de 1896, Marconi decidiu se mudar para a Inglaterra ao perceber que não havia nenhum interesse por sua invenção por parte do governo italiano, apesar de conseguir enviar e receber mensagens em um raio de 3 quilômetros com seu novo aparelho.

(Fonte: The Print Collector/Heritage Images/Science Photo Library)(Fonte: The Print Collector/Heritage Images/Science Photo Library)

Três anos após aterrissar na Terra da Rainha, Marconi teve sucesso em fazer sua primeira transmissão sem fios do Código Morse por meio do Canal de Bristol, de Lavernock Point para a Ilha de Flat Holm. Ele teve a ajuda do engenheiro George Kemp, de Cardiff, que o instruiu como enviar essas mensagens em águas abertas. Ali nascia um novo sistema de comunicação que revolucionaria, a princípio, a máquina do período da guerra, e também a transmissão de informes e notícias.

Em 1909, Marconi atingiu o ápice do reconhecimento de seu trabalho para a humanidade ao ganhar o Prêmio Nobel de Física. Vinte anos depois, ele foi nomeado para o senado italiano, tornando-se presidente da Academia Real da Itália, em 1930. Isso tudo sob o poder considerado demoníaco de Benito Mussolini, responsável por disseminar e inflamar a ideologia do fascismo por toda a Europa.

Pária da própria história

(Fonte: Granger/Historical Picture Archive/Alamy)(Fonte: Granger/Historical Picture Archive/Alamy)

Documentos divulgados em 2002 pelo The New York Times indicam que Marconi não tinha nada a dizer além de elogios e uma paixão dedicada a Mussolini e sua ideologia destruidora, que matou mais de 15 milhões de pessoas ao longo de 12 anos.

Em 1930, no aniversário de 10 anos da ascensão de Mussolini ao poder, Marconi afirmou em seu discurso que a Itália prosperava e se modernizava graças ao comando de Mussolini. Para endossar ainda mais essa aliança, existe uma foto dos dois homens lado a lado, capturada no aniversário da Marcha sobre Roma, o momento em que o fascismo ascendeu ao poder na Itália.

Até a divulgação desses documentos, havia a ideia de que Marconi teve que apoiar o movimento por não ter outra alternativa, mas depois que alcançaram o público, tudo ficou claro – inclusive que ele praticava políticas discriminatórias contra o povo judeu enquanto presidente da Academia Real, cuja missão era promover a "genialidade da raça italiana" e favorecer sua expansão no exterior.

O Conselho de Cardiff se pronunciou alegando desconhecer o passado nefasto de Marconi e cancelou qualquer tipo de homenagem ao inventor, alegando que encontraria uma maneira de celebrar a história de Flat Holm de maneira respeitosa.

Morto em 1937, aos 63 anos, Guglielmo Marconi se tornou um pária da própria história.

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