Ciência
11/02/2023 às 09:00•2 min de leitura
Entre as coisas que surgiram em 10.000 a.C., durante a famosa Revolução Neolítica – o período radical em que os humanos começaram a cultivar, plantar, criar animais para alimentação e formar assentamentos permanentes –, a cerveja foi uma delas. A bebida nasceu de maneira acidental, visto que a fermentação foi um subproduto da coleta de grãos silvestres, portanto, a cerveja não foi inventada, mas descoberta.
A fabricação dela, no entanto, foi uma escolha ativa, e os egípcios antigos sabiam bem disso, tanto que produziam e consumiam em larga escala e volume. Inclusive, foi sendo pagos em cerveja que os trabalhadores construíram as famosas pirâmides do Egito.
(Fonte: Bildarchiv Preussischer Kulturbesitz/Reprodução)
A cerveja era um produto fundamental para o Egito Antigo, portanto, foi tratada como um tipo de alimento como qualquer outro, consumida diariamente em momentos de lazer, durante as refeições, em festas e comemorações religiosas.
Ian Hodder, antropólogo da Universidade de Stanford, na Califórnia, que estuda desde 1993 a região de Çatalhöyük – um assentamento neolítico na Anatólia (atual Turquia) –, descobriu no território que costumava ser Uruk (atual Iraque) uma tábua em escrita cuneiforme indicando que os trabalhadores egípcios eram pagos em cerveja. Foi registrado que aqueles que construíram as pirâmides de Gizé receberam uma ração diária de mais de 10 litros de cerveja.
Há pelo menos 5 mil anos, a bebida era uma das partes mais importantes da vida cotidiana da cidade mesopotâmica de Uruk, confirmando ainda mais como o produto era usado como um tipo de moeda. Vale ressaltar que a gradação alcoólica da cerveja daquele tempo era bem mais baixa que atualmente, além de a bebida ser mais espessa, substituindo a refeição.
(Fonte: Stefano Bianchetti/Corbis/Getty Images)
Por outro lado, pagar em cerveja os construtores das pirâmides também garantiu que eles trabalhassem sem fazer pausas para ir comer em casa, além de que, provavelmente, reclamavam menos das condições horríveis de trabalho devido à embriaguez.
Ironicamente, foi a própria Revolução Neolítica que afastou a ideia da cerveja como método de pagamento da mente das pessoas. Ainda que tenha mantido o status de algo "divino" – com vários deuses e deusas associados à bebida, como a deusa Hathor –, os meios de cultivo e domesticação animal aumentaram a produção de alimentos e permitiu que alguns indivíduos acumulassem riquezas, tomando o lugar da cerveja como forma de pagamento.