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17/03/2023 às 08:00•3 min de leitura
No romance Dragão Vermelho (1986), ao contar a história do dr. Hannibal Lecter, o escritor Thomas Harris conseguiu uma proeza de criar um personagem tão crível que até hoje muitos acreditam que, de fato, existiu. Foi assim com Jack Dawson e Rose DeWitt, em Titanic, personagens ficcionais retirados da imaginação do roteirista e diretor vencedor do Oscar, James Cameron.
No livro O Silêncio dos Inocentes, publicado por Harris em 1988, é possível enxergar melhor o perigo que Lecter – canibal e serial killer altamente periculoso e perturbador, bem como um psiquiatra renomado e brilhante –, oferece para a sociedade e qualquer pessoa ao seu redor. Tanto que, desde que atacou uma enfermeira, um ano após ser encarcerado, Lecter foi transferido para uma ala de segurança máxima no subterrâneo do Hospital Estadual de Baltimore para Criminosos Insanos.
(Fonte: Poltrona Nerd/Reprodução)
Em sua cela, desenvolvida só para contê-lo, todos os móveis foram soldados no chão. Foram erguidas duas paredes e uma rede de náilon estendida entre elas e as barras da cela para impedir que o criminoso as alcance. Três vezes por semana, sob o olhar atento e armado dos carcereiros, a cela era revistada e limpa. Durante esses momentos, Lecter ficava preso com uma focinheira e vestido em roupas pesadas que o impediam de se movimentar.
Fora da ficção, em meio a tantos serial killers altamente periculosos e prolíficos, como Samuel Little, que assassinou 90 mulheres entre 1970 e 2005, nenhum enfrentou um enclausuramento como Robert Maudsley, que se tornou o criminoso em maior tempo confiando em uma solitária.
(Fonte: My London/Reprodução)
Tem algo de típico – e anormal – na maneira como Robert Maudsley se tornou o que a sociedade chama de "monstro". Após passar seus primeiros 8 anos de vida em um orfanato católico em Crosby, Maudsley, nascido em 26 de junho de 1953, em Speke, na Inglaterra –, foi recuperado pelos seus pais apenas para ser submetido a abusos físicos e sexuais, tendo sido estuprado por seu pai regularmente.
Esses traumas psicológicos foram o suficiente para moldar a estrutura de uma mente limítrofe, tal como aconteceu com Edmund Kemper e o relacionamento violento e abusivo com sua mãe, e permaneceram mesmo depois que foi resgatado pelo sistema social.
No final da década de 1960, já na adolescência, Maudsley passou a se prostituir pelas ruas de Londres, usando o que ganhava para sustentar seu vício em drogas, que se tornou uma válvula de escape emocional. Nesse ínterim, ele tentou várias vezes tirar a própria vida, sendo forçado a procurar ajuda psiquiátrica.
(Fonte: The Sun/Reprodução)
No entanto, isso não impediu que ele fizesse John Farrell sua primeira vítima, em 14 de março de 1974. Maudsley se entregou à polícia assim que cometeu o crime, alegando de que precisava de cuidados psiquiátricos. Ele foi considerado inapto para julgamento e enviado ao Hospital Broadmoor. Três anos depois, com a ajuda de um residente do hospital, ele se trancou em uma cela com David Francis, um molestador de crianças condenado, e o torturou por 9 horas antes de matá-lo.
Com isso, Maudsley foi condenado por homicídio culposo e enviado para a Prisão de Wakefield. Em 1978, ele matou mais dois companheiros de prisão em um dia. O homem foi sentenciado à prisão perpétua sob a recomendação de que jamais lhe fosse concedida liberdade condicional.
(Fonte: The US Sun/Reprodução)
Desde então, Maudsley está confinado em uma gaiola de vidro no porão da prisão de Wakefield. Atualmente, ele é considerado o preso mais antigo da Grã-Bretanha, tendo passado 49 anos atrás das grades, dos quais 16 mil dias consecutivos foram em confinamento solitário; ultrapassando o recorde mundial de tempo gasto em uma solitária, passando 23 horas do seu dia sozinho.
“Minha vida na solitária é um longo período de depressão ininterrupta”, escreveu o criminoso há mais de uma década em uma carta divulgada pelo Daily Mail.
Maudsley também descreveu que tudo o que se lembra de sua infância são as surras. “Certa vez, fiquei seis meses trancado num quarto e meu pai só abria a porta para entrar e me bater, quatro ou seis vezes por dia”, escreveu.
Nada ironicamente, todas as quatro vezes que Maudsley assassinou alguém foi motivado por algum gatilho que remetia aos abusos que sofreu quando criança. Todas as vítimas que fez cometeram abusos contra menores.
Não é para menos que, durante uma conversa regular com médicos psiquiatras, Maudsley deixou claro que nenhuma dessas pessoas teriam morrido se tivesse matado seus pais em 1970.