Artes/cultura
12/10/2023 às 03:00•2 min de leitura
Adornar os meios de transporte é um ato quase tão antigo quanto os próprios meios de transporte. A carruagem do faraó egípcio Tutancâmon, por exemplo, era embelezada com um falcão dourado, símbolo de boa sorte. Por séculos, navios foram enfeitados com estátuas nas suas proas. Quando chegaram os carros, foi quase natural acoplar pequenas esculturas de metal no capô.
Termômetro da Boyce Motor Meter adornado por uma escultura num modelo Packard Six de 1926. (Fonte: GettyImages/Reprodução)
Além da beleza, distinção entre marcas e de dar a sensação de luxo, os enfeites tinham uma funcionalidade prática no início — esconder o termômetro do radiador. A maioria dos primeiros modelos de carros eram baseados no Ford T, com um radiador aparente na dianteira do veículo e para fora do capô.
Em pouco tempo, a companhia Boyce MotoMeter inventou e patenteou um tipo de termômetro, que parecia um medidor de pressão, para ser acoplado ao radiador. A peça indicava a temperatura dos líquidos e podia salvar motoristas em uma época em que o auxílio mecânico era bem mais difícil de ser encontrado.
Logo as marcas viram uma oportunidade de esconder a peça e ainda embelezar os carros, enquanto faziam propaganda. Assim, mesmo quando os veículos evoluíram e o radiador foi movido para debaixo do capô, a moda de usar ornamentos nele já tinha pegado.
Cada marca tentava se diferenciar da concorrência e agregar valor com suas esculturas, que eram feitas geralmente de bronze ou de ferro. Assim, a Bentley tinha o seu B alado, a Jaguar tinha o seu jaguar que parecia saltar do capô, a Mercedes-Benz tinha uma escultura denominada “The Spirit Of Ecstasy”, uma mulher com as mãos para trás e vestes ao vento, simulando asas.
Ornamento de veículo Jaguar. (Fonte: GettyImages/Reprodução)
O costume de ornamentar os capôs foi se perdendo após a década de 1970. A popularização de carros mais baratos fez muitas marcas lançarem modelos sem as peças para economizar. Além disso, com o aumento da velocidade total dos veículos, a busca por modelos mais aerodinâmicos fizeram os ornamentos se tornarem pouco interessantes.
Outra questão era a segurança. Relatos de pessoas atropeladas que eram empaladas pelos ornamentos não eram raros. Atropelamentos de pedestres e mesmo as batidas entre veículos tinham o risco de morte potencializada pelas peças. Conforme as regras de trânsito foram avançando em diferentes países, ficou mais difícil para as marcas defenderem a manutenção dos ornamentos de capô.
Algumas marcas mantiveram as esculturas apenas nos modelos mais caros, como um diferencial de luxo, entre elas a Jaguar e a Mercedes-Benz. Em anos mais recentes, alguns modelos chegaram a oferecer a oportunidade de ter ornamentos que se escondiam embaixo do capô quando solicitado. Porém, o aumento da rigidez das leis de trânsito na Europa praticamente encerrou a prática de enfeitar o capô.
A Jaguar, uma das marcas que manteve por mais tempo o seu símbolo icônico, chegou a afirmar que um dos motivos para retirá-lo foi o fato de eles serem tão colecionáveis que se tornaram peças muito visadas para furtos.