Papisa Joana: a única mulher papa do mundo existiu mesmo ou foi só uma lenda?

13/04/2024 às 13:003 min de leituraAtualizado em 13/04/2024 às 13:00

A Igreja Católica é uma instituição comandada por homens desde sua criação: de Pedro até Francisco, os 266 papas de que se têm registro foram todos homens. 

As mulheres até podem dedicar suas vidas ao catolicismo como freiras, mas jamais podem ser ordenadas, comandar paróquias e dioceses ou subir na hierarquia da Igreja, em Roma. Porém, existem lendas de uma mulher que teria subvertido essa regra em plena Idade Média: a papisa Joana. Dizem que ela teria comandado a Igreja Católica entre os anos 855 e 857. 

A lenda de Joana já inspirou vários livros e filmes — além de pesquisas históricas que buscam comprovar (ou refutar) sua existência. Mas será que, de fato, uma mulher conseguiu conquistar o posto mais alto dessa instituição? Ou será que essa lenda é somente invenção dos opositores da Igreja Católica?

As várias versões da história da papisa Joana

Fonte: Wikimedia Commons
Ilustração da papisa Joana em trabalho de parto. (Fonte: Wikimedia Commons)

Existem diversos relatos sobre a lendária mulher que comandou a Igreja Católica no século IX. Eles diferem em detalhes, mas o principal se mantém: Joana era uma mulher muito inteligente que se disfarçou de homem e, com seus impressionantes conhecimentos, conseguiu subir na hierarquia da Igreja. 

Ela foi eleita papa, como João, e era respeitadíssima. Até que sua verdadeira identidade foi revelada da forma mais dramática possível: ela deu à luz ao filho de seu amante — o homem que ela fingia ser, segundo os relatos — durante uma procissão. 

A papisa Joana teria morrido logo após o parto, sendo arrastada por cavalos e apedrejada até a morte pelos fiéis horrorizados com a descoberta. Mas também há versões da história onde o final de Joana é menos brutal: ela teria sobrevivido e sido presa, enquanto seu filho tornou-se bispo. De qualquer forma, as procissões pararam de passar pelo lugar onde Joana deu à luz.

Alguns relatos dizem que ela era uma mulher alemã de origem inglesa que se apaixonou por um monge e foi viver em Roma. Para evitar o escândalo, ela teria começado a se vestir como homem e fingido ela própria ser um homem. Outras versões afirmam que Joana se chamava Giliberta e era de Constantinopla. Ela começou a se vestir como homem para poder estudar, até conquistar altos postos em Roma e se tornar amante de um oficial da Guarda Suíça

O início de uma lenda e as visões modernas sobre a história

Fonte: Wikimedia Commons
(Fonte: Wikimedia Commons)

Para quem acredita na história da papisa Joana, ela teria sido apagada dos registros oficiais porque uma mulher papa era escândalo demais para a Igreja Católica. Inclusive, os papas da Idade Média tinham que provar que eram do sexo masculino: eles se sentavam em uma cadeira com um buraco no meio e um cardeal examinava a existência dos testículos. Tais cadeiras existem e estão até hoje no Museu do Vaticano e no Louvre. 

O que sabemos é que a história começou a ser compartilhada por cronistas durante o século XIII. Os mais famosos relatos da época foram os de Jean de Mailly e de Martinho de Opava. A partir disso, a história da papisa Joana correu o mundo, com traduções em diversos idiomas e citações sobre ela em sermões da Igreja. Em dado momento, seu busto até foi incluído em uma galeria de papas. 

Em 1415, o pastor protestante Jan Hus foi julgado por dizer que a Igreja Católica não precisava de papas — já que uma mulher chegou a ocupar o posto sem maiores consequências. Mas ele foi julgado por se colocar contra o papado e não por inventar essa história. O papado de Joana foi encarado como verdade, durante muito tempo.

(Fonte: Wikimedia Commons)
Ilustração da papisa Joana com a tiara papal. (Fonte: Bibliothèque nationale de France/Wikimedia Commons)

Só em 1601 que o Papa Clemente VIII disse que a história era falsa e qualquer referência à sua estátua na galeria dos papas desapareceu. Outro historiador da mesma época também afirmou que a origem da "mulher papa" é o pontífice João XII: ele tinha uma amante, Joana, que obteve quase tanta influência quanto o próprio João. 

Já os historiadores modernos afirmam que não há evidências sobre Joana na época em que ela supostamente comandou a Igreja, no século IX — e isso que seu papado teria acontecido em um período bastante documentado, entre Leão IV e Bento III. Mesmo as pessoas que eram contra a Igreja de Roma, na época, não citaram o escândalo. O que é estranho, pois esse seria um prato cheio para eles. 

Na verdade, os principais registros sobre a papisa Joana são as histórias divulgadas a partir do século XIII. Ao que tudo indica, essa foi uma lenda criada por opositores da igreja. Também há quem diga que a papisa Joana foi inventada como uma fábula moral para "manter as mulheres em seu devido lugar". 

De qualquer forma, a lenda inspirou diversas obras influentes nos últimos séculos — incluindo dois filmes, um de 1972 e outro de 2009.

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