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20/01/2020 às 14:00•4 min de leitura
Localizada numa zona rural da região norte do estado do Rio Grande do Sul, a cidade de Caiçara possui pouco mais do que 5 mil habitantes e traz consigo a humildade interiorana, com as suas casas simples feitas de madeira e telhas de zinco ou de fibrocimento.
No ano de 2014, o local pacato e remoto de ruas de terra batida e campos de colheita chamou atenção de todo o Brasil quando a família de Seu Augusto e Dona Neusa, composta por um garoto de oito anos e duas meninas, uma de 11 e outra de 15 anos, começou a sofrer com fenômenos sobrenaturais.
As pancadas nas paredes, como socos, foram os primeiros sinais insólitos de que algo de muito estranho estava acontecendo. As batidas surgiam na parte dos fundos da casa, onde se localizavam os quartos, e eram interrompidas assim que um dos membros da família abria a janela para tentar pegar fosse lá quem estivesse fazendo aquilo. À princípio, as pessoas em nada suspeitaram de algo incomum, acreditando que se tratava apenas de alguém os perturbando. Sendo assim, por volta das 20h12 da noite, o pai da família, Seu Augusto, fez uma ligação para a Brigada Policial para reclamar sobre essa pessoa que estava esmurrando a casa.
Quem atendeu o chamado foi o soldado Marcos Cleber Paloschi, que imediatamente pegou a viatura e se deslocou até onde ficava a residência do cidadão. Quando o oficial chegou ao local, já havia uma outra atividade em curso e a queixa da família havia mudado. No entanto, o policial não precisou ouvir qual era, pois a viu acontecer bem diante de seus olhos.
Pedras. Diversas delas caíam do céu como se estive chovendo. Por todo o lado, pedaços enormes de cascalho atingiam o chão e o telhado da casa. O fato ainda mais curioso era que elas não quebravam as telhas e também não rolavam quando atingiam o chão ou o teto, apenas se instalavam lá como que atraídas por um ímã.
Do lado de dentro da moradia, as pedras eram lançadas do alto em todas as direções, atingindo as paredes sem deixar marcas, forçando a família a se abrigar debaixo de uma mesa, embora isso não fosse o suficiente para evitar que se machucassem. Em poucos minutos, o chão estava repleto de pedras de todos os tamanhos.
Desesperada e sem saber o que fazer, a família entrou em colapso. Não conseguiam mais dormir à noite. Sofriam com as pedras que surgiam de repente e os acertavam, e também com os móveis e objetos que eram arrastados ou tombados. Os alimentos foram os próximos, se esparramando pelo chão ou amanhecendo em estado de decomposição. As porradas dentro das paredes permaneceram tanto quanto o completo horror que desencadeava em todos.
Ao longo dos dias, a mobília da casa foi sendo aos poucos quebrada pelas erupções de atividade preternatural. A porta de vidro do fogão se espatifou, os pratos eram quebrados, as camas reviradas e empurradas. Eles simplesmente não se sentiam mais seguros para ficar dentro da casa, mas também não tinham para onde ir. Então, durante a noite, enfrentavam o medo para depois acordarem aos gritos com água gelada ou quente sendo jogada contra eles.
Com os eventos e o medo tangível de não saberem como fazer aquilo parar, a psicologia do lar mudou drasticamente e os familiares passaram a ficar extremamente agressivos uns com os outros. Uma das filhas começou a manifestar um comportamento selvagem, a falar com a voz mais grave, como se as cordas vocais tivessem engrossado. Num rompante de fúria, ela enforcou o irmão de oito anos e, segundo Seu Augusto, ela teria o matado se ele não tivesse recorrido aos vizinhos para que ajudassem a tirá-la de cima do garoto.
Os vizinhos fizeram de tudo para ajudar a família, porém o medo de sofrerem retaliações ou de que fosse o que fosse que estava os atormentando, acabasse voltando a sua fúria para eles. Numa certa noite, o agricultor Valdir Marchioro, vizinho da família, chegou a acolhê-los em sua própria casa para que eles pudessem ter pelo menos uma noite tranquila. Contudo, a rajada de pedras passou a despencar sobre o teto da casa de Valdir. O homem então decidiu encaminhá-los à pequena escola da comunidade local, onde lá puderam passar a noite sem que fossem perturbados pelos fenômenos malignos.
A cabelereira Zilda Roggia, melhor amiga de Dona Neusa, era mais uma que fazia o máximo que podia para confortar a família. Diariamente ela ia até a casa atormentada para realizar sessões de orações e leitura da Bíblia, também acabando por ser atacada por objetos e pedras voadoras.
Com o caso ganhando a atenção da mídia de todo o Brasil, vários grupos religiosos entraram em contato com os moradores da casa, com o intuito de tentar resolver qualquer que fosse o mal que os assolava. Zílio Roggia, o prefeito da cidade de Caiçara, ofereceu a sua ajuda através do acompanhamento de uma assistente social e uma psicóloga, para preservarem os vínculos familiares.
Quando a jovem de 15 anos que demonstrava estar possuída pelo espírito diabólico que vinha promovendo aquele bombardeiro de fenômenos opressores, a família já estava subjugada tanto física quanto emocionalmente.
Foi nesse momento que o médium exorcista, Nelson Júnior Paz, fez seu caminho até a casa para pôr um fim na atormentação que a garota sofria. O ritual de exorcismo durou cerca de 4 horas ininterruptas, registradas em vídeo por Gelson Luiz da Costa, um produtor audiovisual que gravou várias cenas do caso desde quando as primeiras pedradas começaram a atingir o telhado da construção.
Durante a sessão de libertação, o médium indagou diretamente o espírito sobre o que ele queria com aquela família. Através dela, num tom grave, ele respondeu que queria a casa. Seu Augusto relatou a Nelson que antes deles se mudarem, o dono havia morrido naquela mesma casa.
Segundo o Espiritismo, dependendo do grau de apego físico do espírito desencarnado, esse tende a permanecer no Plano Material, acabando por obsidiar qualquer um que entre em contato com o seu objeto de posse. Já na Demonologia, o estudo de entidades demoníacas e atividades paranormais, acrescenta que a energia negativa do espírito de uma pessoa que morreu e passou a assombrar algum lugar ou alguém, tende a atrair entidades bem mais poderosas e aptas a causar o tipo de transtorno que a família testemunhou.
Muito embora a presença do médium tenha ajudado a entender a possível origem das perturbações e também a controlar o comportamento da garota, em nada alterou com relação a casa. Exaustos e à beira da loucura, a família decidiu demolir a casa e procurar em outro lugar a paz que havia sido roubada deles.
Enquanto deixavam a casa, a filha mais velha de 15 anos perdeu o controle novamente, escalou a porta da casa até alcançar o telhado e passou a apedrejar os pais. A telha fina cedeu e ela caiu dentro da casa. Não houve ferimentos graves.
Eles foram morar numa residência doada pela prefeitura da cidade na zona urbana. Os eventos pararam de repente e a única coisa que retornou foi o estado de possessão, dessa vez na filha mais nova, de 11 anos, durante uma madrugada. Eles conseguiram estabilizá-la através de orações, mas o medo ficou ainda pior.
Dona Neusa afirmou que foram em uma curandeira que disse que eles precisavam procurar um centro espírita, mas não havia nenhum pela região. “Não sabemos mais o que fazer. Prometeram na televisão e não vieram. E a prefeitura diz que não pode fazer mais nada porque já está pagando nosso aluguel na casa nova”, relatou a mulher.
As semanas foram passando e nenhuma das garotas voltaram a apresentar nenhum comportamento atípico. Em entrevista ao portal G1, a mãe contou: “Está tudo bem agora. Não tem mais nada de estranho. Queremos esquecer. Muitas pessoas nos ajudaram”.