Artes/cultura
19/02/2020 às 14:14•5 min de leitura
Os Moores eram só mais uma das várias famílias que levavam uma vida pacata e comum na cidade de Villisca, no condado de Montgomery, no estado de Iowa, nos Estados Unidos. Apesar de abastados, eles moravam em uma antiga casa branca no fim de uma rua que ficava a quatro quarteirões da igreja e do colégio locais.
A família era composta pelo casal Josiah B. Moore (43), a esposa, Sara Moore, e os quatro filhos: Mary Katherine (10), Herman Montgomery (11), Arthur Boyd (7) e Paul (5). Muito empáticos, eles eram conhecidos pelo engajamento com a comunidade e pela maneira como eram sempre solícitos e gostavam de receber visitas.
No entanto, por alguma razão desconhecida, alguém nutria algo muito ruim pelos Moores para invadir a casa deles no fatídico 1912. Na verdade, essa pessoa, que é uma sombra de identidade perversa e misteriosa até hoje, não deveria nutrir nada de bom por absolutamente ninguém.
No início da noite de domingo, em 9 de junho de 1912, Josiah e Sara levaram as crianças para comemorarem o Dia das Crianças em um serviço na Igreja Presbiteriana. O evento social era codirigido por Sara, e os filhos tinham o costume de atuar em pequenas peças produzidas pela paróquia.
As irmãs Lena e Ina Stillinger, de 12 anos e 8 anos de idade, respectivamente, eram vizinhas da família e sempre estavam por perto. Naquele dia, elas pediram permissão para os pais para passarem a noite na casa dos Moores após as celebrações na igreja. O serviço acabou perto de 21h30, e os paroquianos partiram para casa. A noite festiva dos Moores foi acompanhada por deliciosos biscoitos caseiros e um pouco de leite antes de as crianças serem colocadas na cama e todos dormirem.
No dia seguinte, mais especificamente às 7h, a vizinha Mary Peckham achou estranho que nenhum dos Moores tinham saído para realizar as tarefas da manhã. Curiosa e preocupada, a mulher bateu à porta da frente da casa, mas ninguém respondeu. Ela tentou abrir a porta, mas estava trancada. Mary decidiu soltar as galinhas da família e chamar Ross Moore, o irmão de Josiah. Mais uma vez, apenas o silêncio respondeu quando ele bateu à porta.
Usando uma cópia da chave, o homem decidiu entrar na casa, enquanto Mary preferiu continuar na varanda. Na sala, a primeira porta que Ross abriu foi a do quarto de hóspedes, onde ele encontrou sangue espirrado na parede perto da cama e corpos sob lençóis tão ensanguentados que gotejavam no chão, formando uma poça.
Ross rapidamente recuou do que já imaginava se tratar de uma cena de crime e ligou para o Marechal Henry Horton. O homem chegou por volta de 8h30 e começou a realizar uma inspeção pela casa, partindo do quarto de hóspedes no térreo. Lá, ele encontrou o que deveria ser a arma do crime: um machado, parcialmente limpo e apoiado em uma das paredes do quarto ao lado de uma peça de bacon. Ele pertencia a Josiah.
Ao puxar os lençóis, encontrou as irmãs Stillinger. Foi concluído, durante a investigação, que Lena teria sido a segunda a morrer no quarto, visto que estava atravessada na cama e tinha um ferimento defensivo no braço. A sua camisola estava erguida na altura da cintura e ela estava sem calcinha, dando a entender que o assassino poderia tê-la molestado antes de matá-la, já que a perícia não detectou sinais claros de violência sexual. As duas foram espancadas até a morte com a arma.
Horton se adiantou até o quarto do casal, onde o cenário continuou de uma maneira ainda mais perturbadora. Josiah foi o mais golpeado com o machado e o único a ser atingido pela lâmina do objeto. A cabeça dele foi acertada tantas vezes que os seus olhos foram encontrados em um dos cantos do cômodo. Sara teve o rosto amassado pela quantidade de vezes que foi agredida.
O abate terminou no quarto das crianças, que tiveram o mesmo destino das irmãs Stillinger. Todos foram encontrados em suas camas, brutalmente golpeados, cerca de 20 a 30 vezes, diretamente na cabeça. Lena Stillinger foi a única vítima que acordou, provavelmente com os ruídos de morte, e pôde ver o rosto do assassino.
Com exceção de um sapato ensanguentado caído em um dos degraus da escada, os investigadores não conseguiram distinguir exatamente o que eram pistas e o que fazia parte do modus operandi do assassino. Havia duas guimbas de cigarro recém-queimadas no sótão da casa, levando ao entendimento de que a pessoa teria se infiltrado no local durante a ausência da família e aguardado até que todos estivessem em sono profundo. Os médicos legistas definiram que as mortes ocorreram entre 00h e 5h.
Todos os espelhos da casa tinham sido cobertos com peças de roupas, assim como o rosto das vítimas, exceto das vizinhas. Lençóis foram usados para fechar até a menor das janelas. Na mesa da cozinha, havia um prato de comida e uma tigela de água ensanguentada na qual o assassino poderia ter lavado as mãos. Uma lamparina retirada de um dos quartos foi deixada no topo da escada. Antes de sair, a pessoa pegou as chaves da casa e trancou as portas.
Naquela época, especialmente em cidades pequenas, o isolamento policial era praticamente inexistente, então não demorou muito para que a notícia se espalhasse e em minutos a casa dos Moores fosse invadida pela população curiosa. A turba de mais de 100 pessoas impregnou a cena do crime com pegadas e digitais, apagando qualquer vestígio de identificação do homicida. Uma das pessoas, inclusive, chegou a levar uma parte do crânio de Josiah.
A polícia tinha poucas (ou quase nenhuma) pistas que levassem ao perpetrador das mortes. Os esforços iniciais foram desencorajados, mas mesmo assim foram revistados vários cantos da cidade, muito embora depois de mais de 5 horas do assassinato a pessoa certamente já estivesse longe dali. Cães foram incluídos nas investigações, porém não foram capazes de encontrar nenhum rastro, uma vez que a cena do crime tinha sido totalmente alterada pelos cidadãos.
Ao longo do processo, foi feito um levantamento de alguns nomes que poderiam ter alguma conexão com o caso. Andrew Sayer foi o primeiro, um sem-teto muito conhecido na comunidade e que sempre era suspeito de qualquer coisa. Várias pessoas o mencionaram no tribunal, talvez por puro hábito, mas nenhuma evidência o conectava ao crime; e havia o fato de ele ter sido preso em uma cidade vizinha na noite dos assassinatos.
O reverendo George Kelly foi o segundo suspeito. Ele chegou à cidade em 8 de junho para as celebrações do Dia da Crianças, tinha um histórico conturbado de psicose durante a adolescência e assédio sexual, mas partiu logo pela manhã, um pouco antes de o crime ser descoberto. George chegou a ser preso e interrogado perante o júri, confessando a autoria dos crimes, mas o juiz não acreditou nele devido aos diagnósticos anteriores.
Nos anos seguintes, George se tornou obcecado pelo ocorrido, enviando cartas à polícia para extrair mais informações. Em 1917, ele foi preso novamente pelos assassinatos e mais uma vez confessou os crimes, detalhando o passo a passo do que fez naquela noite. Segundo ele, Deus teria sussurrado em seu ouvido enquanto ele os espiava: "Faça com que os meus filhos venham a mim".
Mesmo depois de ouvir a suposta confissão, com partes que não se emendavam muito, o júri decidiu pela absolvição de George, e o caso foi arquivado.
Frank Jones, um político e empresário, fundador do Banco Nacional de Villisca, foi o próximo apontado. Josiah tinha trabalhado para o homem, mas decidiu abrir o próprio negócio depois de um tempo, levando consigo um dos maiores clientes. A partir disso, eles se tornaram inimigos comerciais. Havia rumores de que Josiah poderia ter um caso com a nora de Frank, Elizabeth Jones. Sendo assim, o concorrente teria muitos motivos para matar Josiah, justificando a maioria dos golpes desferidos no patriarca.
Acreditava-se que Frank teria contratado William Mansfield, outro suspeito da lista, mas o único que de fato já tinha matado alguém. Ele assassinou os filhos, a esposa e o sogro também com um machado. Em 1916, William chegou a ser preso, mas os registros em sua folha de pagamento indicavam que ele estava em Illinois na noite do assassinato dos Moores. Contudo, muitos especulavam que Frank poderia ter usado sua influência política para cobrir esse e outros rastros, além de pagar até mesmo as autoridades para que não o acusassem.
Apesar dos suspeitos, a identidade do criminoso nunca foi descoberta, tampouco as suas intenções. Assombrada pelos seus horrores, a casa permanece em pé até hoje e foi transformada em um museu. A antes desinteressante cidade de Villisca se tornou um local de turismo fantasma e um ponto de interesse das milhares de pessoas que movimentam o comércio querendo visitar o local que inspirou filmes e livros.