Estilo de vida
02/04/2020 às 14:00•5 min de leitura
Atenção! Se você se incomoda com temas que envolvam sexo e violência ou tem menos de 18 anos, é melhor parar por aqui. Caso contrário, prossiga em nosso artigo.
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Diferentemente da trajetória psicológica da maioria dos psicopatas, Richard Trenton Chase, desde a mais tenra idade, equilibrou-se na corda tênue entre a sanidade e a "loucura".
Isso foi o que o distinguiu dos demais e também fez os médicos trazerem de volta uma grande questão de séculos anteriores: pessoas com transtornos mentais têm tendências a matar em série ou assassinar alguém durante algum surto psicótico. A psicologia quebrou esse padrão social, mas de certa forma ainda tem algumas raízes dele, pois há uma crença de que essas pessoas somente são perigo, seja a elas mesmas ou à sociedade.
Nascido no dia 23 de maio de 1950, em Sacramento (Califórnia), a princípio Richard seguiu o espectro esperado, o mesmo de seus familiares. A sua mãe tinha um quadro grave de transtorno mental, e o pai era altamente autoritário nos métodos parentais. O casal brigava demais, e esses abusos atingiam Richard, que acabava sendo o "saco de pancadas" no qual o pai descarregava a raiva.
Richard demonstrou sintomas de distúrbios comportamentais e emocionais, apresentando um grande grau de infelicidade, mas o seu pai não se preocupou em procurar ajuda, nem mesmo para a sua mulher que já era um quadro na família. Aos 8 anos, o garoto fazia constantemente xixi na cama e, aos 10 anos, ele começou a causar pequenos incêndios pela casa. Além disso, passou a desmembrar animais para beber de seu sangue, isso estava associado à perda de sangue que via a mãe sofrer durante os espancamentos pelo marido e também a maneira como ela se medicava em seguida.
De certa forma, o jovem pensava que bebendo sangue evitaria a morte. Ali foi apenas o início de seus problemas com a morte e o vampirismo de animais. As coisas estavam prestes a piorar.
Richard Trenton Chase.
Com comportamento problemático, má saúde emocional e falta de empatia, Chase já exibia os principais indícios de uma "mente quebrada". No início da adolescência, aos 13 anos, demonstrando graves problemas com hipocondria, ele segurava laranjas na mão acreditando que seu cérebro absorveria a vitamina C por difusão. Ele passou a matar cada vez mais animais, sem remorso algum, pois via como uma necessidade de sobrevivência, Richard achava que sofria de uma intoxicação por sangue e precisava beber sangue para renovar o próprio.
Chase recorreu às drogas como uma maneira de atenuar os distúrbios que sofria, mas isso só aumentou os delírios, a paranoia aguda e maximizou a ilusão de que ele precisava se curar por meios equivocados ou até mesmo canibais. Sem muita interação social por conta de suas perturbações, o pouco contato que teve com mulheres serviu apenas para aumentar a crença de que tinha algo de errado com a sua saúde sanguínea, uma vez que era sexualmente impotente. Ele chegou até a procurar um psiquiatra por conta desse problema, mas o médico não conseguiu ajudá-lo nesse aspecto, pois observou que o rapaz provavelmente tinha transtornos, além de raiva reprimida.
Na verdade, a impotência sexual se devia ao excesso de uso de drogas e o consumo de sangue animal, o qual ele achava que estava o curando. Aos 18 anos, o jovem se mudou para um apartamento pago pelo seu pai, visto que morar com a sua mãe não deu certo porque houve um momento no qual ele se convenceu de que ela estava tentando envenená-lo.
Os recipientes onde Chase costumava tomar o sangue dos animais e comer os órgãos.
Em 1975, aos 25 anos, Richard começou a ingerir órgãos brutos de animais por medo de que o seu coração estivesse encolhendo. Quando ele injetou sangue de coelhos em seu sistema e ficou doente, acreditou que o coelho havia sido alimentado com ácido de bateria e que sua tigela de sopa tinha um componente que transformaria o seu sangue em pó.
As drogas exacerbaram os episódios paranoicos do homem, que constantemente acabava na sala de emergência de um hospital em busca de ajuda. Queixar-se de que alguém havia roubado a sua artéria pulmonar e seu estômago estava para trás ou o seu coração havia parado de bater eram só algumas de suas reclamações médicas. Durante o pouco tempo em observação psiquiátrica, ele foi diagnosticado com a rara Síndrome de Renfield (uma satisfação e necessidade por tomar sangue), além de hipocondria, psicose, paranoia aguda, sociopatia e esquizofrenia.
O dano à psique dele era expansivo e consumidor, não dava margem para que ele agisse racionalmente ou desenvolvesse habilidades sociais cognitivas saudáveis. Consideravam Chase uma ameaça ambulante para si e principalmente para a sociedade, mas nada podia ser feito.
A cena do crime de Evelyn Miroth.
Depois de ser encontrado debruçado sobre a carcaça de vários cachorros, comendo as vísceras e bebendo o sangue deles, Chase foi institucionalizado involuntariamente. Os médicos trataram-no com habituais medicamentos para esquizofrenia, porém sem muito sucesso; os profissionais acreditavam que isso se dava pelo uso pesado de drogas. Quando o homem foi pego com dois pássaros na boca e a cabeça cortada, ele foi transferido para um hospital de criminosos insanos.
Em 1976, os médicos decidiram que Chase não era mais uma ameaça para a sociedade e libertaram-no sob os cuidados de seus pais. A sua mãe, então, tomou a decisão de que o filho não precisava mais dos medicamentos antiesquizofrenia. O homem ainda foi largado em um apartamento que a mãe alugou e abastecido de compras.
Isolado, infeliz e sem o mínimo de controle que os remédios forneciam, tudo voltou de uma só vez a Chase, então ele passou a ter necessidade de mais do que órgãos e sangue de animais.
Em 11 de janeiro de 1978, demonstrando a sua raiva reprimida, ele atacou um vizinho por conta de um cigarro. Duas semanas depois, invadiu uma casa, roubou, urinou dentro de uma gaveta e defecou em todos os quartos. Ele continuou invadindo propriedades que estavam com a porta destrancada, pois acreditava que isso era um convite a ele para fazer o que quisesse.
No dia 29 de dezembro de 1977, após provar um coração de vaca e estar muito frustrado com sua mãe, ele pegou um revólver calibre 22 e atirou no peito de Ambrose Griffin — um homem de 51 anos que estava ajudando a esposa a comprar mantimentos. O êxtase desse momento se tornou um alívio para o psicopata.
Em 23 de janeiro de 1978, o assassino entrou na casa de Teresa Wallin, pois encontrou a porta destrancada. Ele atirou 3 vezes na grávida e depois estuprou-a. Com uma faca, "abriu" a mulher, bebeu o sangue dela e literalmente comeu o seu feto. Antes de ir embora, o assassino coletou fezes de cachorro e enfiou na garganta de sua vítima.
Teresa Wallin.
Em 27 de janeiro de 1978, Richard Chase encontrou a porta de Evelyn Miroth (38) destrancada. Ele atirou no amigo da mulher, Dan Meredith, pegou a carteira e as chaves do carro dele. Então disparou fatalmente contra a cabeça de Evelyn, em seu filho de 6 anos, Jason Miroth, e no sobrinho David Ferreira, de 1 ano e 10 meses. Ele mutilou Evelyn, a sodomizou e comeu parte de seu cadáver.
Surpreendido por um vizinho, Chase fugiu no caro roubado e levou o corpo de David Ferreira consigo. O vizinho chamou a polícia, que descobriu as marcas perfeitas das mãos do criminoso nos sapatos e por todo o sangue escorrido de Evelyn Miroth.
Richard foi preso logo depois em seu apartamento, que estava mais sujo de sangue do que uma sala de abate. O cadáver decapitado da criança que roubara e assassinara foi encontrado meses depois atrás de uma igreja.
Chase após ser pego pela polícia.
O julgamento sensacionalista do intitulado "vampiro de sacramento" começou no dia 2 de janeiro de 1979 e durou 5 meses. Os advogados de defesa rejeitaram a pena de morte sugerida, alegando que Richard Chase não era culpado por ter cometido os crimes durante um surto de insanidade.
No entanto, o depoimento dele e a análise psicológica deixaram claro que, apesar de seus transtornos mentais, ele admitia e se lembrava do que havia feito, não se arrependendo por nada. Sendo assim, esse foi declarado “legalmente são”, por estar ciente de que as suas ações eram ilegais e tinha planejado fazê-las de qualquer maneira para poder salvar a própria vida. Um fator determinante para a sua condenação foi que ele havia planejado mais de 40 assassinatos no decorrer do ano, deixando claro que ele pretendia continuar apesar de tudo.
Após dias de deliberação, o júri ficou do lado da acusação, e Richard Trenton Chase, o "vampiro de sacramento", foi considerado culpado por homicídio e condenado à morte por câmara de gás.
Amedrontados pela conduta e crimes de Chase, os seus companheiros de cela eram os que mais o encorajavam a se matar. Na mente de Richard, enquanto a sua tigela de sopa estivesse com o fundo seco, ele estaria seguro e vivo. No entanto, se ela estivesse com algo gelatinoso no fundo, então estava condenado a uma morte lenta por meio de uma desintegração de seu sangue.
Ele guardou vários antidepressivos para quando a sua tigela voltasse seca, por isso no dia 26 de dezembro de 1980 ele foi encontrado morto em sua cela, em consequência mais de seu transtorno do que dos remédios que o envenenaram.