Artes/cultura
24/07/2020 às 06:00•3 min de leitura
Indiscreto, Fritz Haarmann era o típico alemão que nunca causaria qualquer tipo de suspeita às autoridades e aos moradores locais. Sempre muito simpático, apesar de reservado, bastante trabalhador e envolvido nas atividades de inteligência da polícia, nem seu maior inimigo poderia imaginar que o nome do tradicional açougueiro estaria, em breve, associado à narrativa de um serial-killer implacável.
Após confessar o assassinato de cerca de 30 pessoas, ato que lhe entregou as alcunhas de "Vampiro de Hannover" e "Carniceiro de Hannover", a história de um dos maiores assassinos em série da modernidade ainda assusta e intriga bastante, especialmente por conta de seu modus operandi doentio e da procedência que o homem dava para alguns de suas vítimas.
Nascido em 25 de outubro de 1979, Friedrich Heinrich Karl Haarmann era descendente de uma família completamente desestruturada. Caçula de seis filhos, desde cedo começou a mostrar hábitos que não agradavam ao pai alcoólatra, possuindo preferências de brincar com bonecas, usar vestidos e se distanciar de meninos, atividades amplamente apoiadas pela mãe, que já tratava a criança como uma menina.
Alvo de fúria do pai, que agia com severas agressões físicas quando via Friedrich com roupas femininas, não demorou para que suas irmãs logo abandonassem o lar e o deixassem a mercê de energias profundamente negativas, reforçando ainda mais a atmosfera pesada e errada que existia na residência.
(Fonte: DDP/Reprodução)
A solução do pai, então, foi enviar o filho, aos 16 anos de idade, para a escola militar de Breisach, na tentativa de disciplinar o jovem. Infelizmente, seu quadro só piorou, após a constatação de epilepsia e de crimes envolvendo abusos sexuais de meninos. Expulso do local, seu destino foi um asilo mental, que o abrigou por seis meses até sua fuga planejada para a Suiça.
Estabelecido no novo país, seu noivado com Erna Loewert não durou muito, culminando com o retorno para a Alemanha para concluir o serviço militar, em 1900. A instabilidade mental do homem o impediu de permanecer no exército, aposentando-se em 1904, considerado deficiente.
Seria o início da caçada e da série de assassinatos.
O primeiro assassinato de Fritz Haarmann ocorreu em 1919, aos seus 40 anos. Trabalhando como informante da polícia e morando com o cafetão Hans Grans, que conheceu após uma breve passagem na cadeia por inúmeros roubos e furtos, não demorou até que fosse vinculado ao desaparecimento do jovem Friedel Rohe, de quem era amigo.
Cabeça de Haarmann após decapitação, preservada em formaldeído. (Fonte: Pinterest/Reprodução)
Após ser acusado pelo pai do garoto, a polícia decidiu investigar a casa de Haarmann. Ao chegar no local, encontraram o homem com um garoto de 13 anos em sua cama, mas a ausência de sinais de Rohe encerrou a abordagem das autoridades, alegando que não haviam provas que o relacionassem ao desaparecimento.
Apenas anos depois, quando confessou seus crimes, o serial-killer confirmou que a cabeça do garoto estava, o tempo todo, escondida atrás do fogão.
A morte de Fiedel Rohe teria sido apenas o primeiro caso grave envolvendo os brutais crimes de Haarmann. Conhecido como um açougueiro do mercado negro, que trabalhava com contrabandistas para vender carne barata, o homem aproveitava de seu reconhecimento e status social para atrair crianças abandonadas e esfomeadas que sofriam com a crise do pós-guerra na Alemanha.
Em meio a horas vagando por estações de trem, Fritz identificava suas vítimas após poucos instantes de observação, tempo suficiente para detectar a situação de vulnerabilidade social. Com promessas de carne de qualidade e uma refeição decente para os menores, o assassino via nisso o método perfeito para satisfazer sua obsessão.
(Fonte: Haz/Reprodução)
Após receber as crianças em sua residência, o homem mordia a traqueia das vítimas, algo que chamava carinhosamente de "mordida do amor". Com as crianças já mortas, o "Vampiro de Hannover" desmembrava completamente o corpo e moía a carne para vender em seu açougue, livrando-se do resto posteriormente, ao jogar no rio Leine.
Quase 6 anos depois da primeira morte, um crânio humano foi encontrado no rio, juntamente com uma numerosa quantidade de restos ósseos, revelando que ao menos 22 corpos de crianças haviam sido arremessadas para as águas. Inicialmente, Fritz não foi considerado suspeito por ser favorecido por sua posição de informante da polícia, mas dois investigadores de Berlim foram convocados para dar o fim ao caso.
Sob custódia, Fritz confessou ter assassinado dezenas de jovens, com a prática de desmembramento e canibalismo. Acusado por 27 crimes identificados e considerado culpado por 24 deles, foi rapidamente condenado à guilhotina, em 1925.