Ciência
29/11/2020 às 13:00•2 min de leitura
Era 6 de setembro de 2006 quando a central de emergência de Portland, nos Estados Unidos, recebeu a ligação:
“911, qual sua emergência?”
“Temos um intruso na casa ao lado. O intruso estava no quarto com um martelo. A mulher que mora lá acha que pode tê-lo estrangulado. Ele estava caído quando ela saiu”.
“Você pode colocá-la no telefone?”
“Ela está sangrando”.
“Ela precisa de uma ambulância?”
“Não, ela é enfermeira. Ela disse para chamar uma ambulância para o cara. Ele pode estar morto”.
Horas antes, quando a luz outonal preenchia as ruas da cidade de Portland, no Oregon (EUA), a enfermeira Susan Kuhnhausen, então com 51 anos, estava voltando para a casa do Providence Hospital, após um dia exaustivo. Ela estava atravessando um novo momento de sua vida: um divórcio litigioso difícil. Mesmo assim, a mulher queria recomeçar, por isso decidiu parar no cabelereiro e pintar os cabelos.
Era aproximadamente 18h37 quando Susan chegou em casa. À princípio, estranhou a sala estar totalmente escura, pois tinha certeza de que abrira as cortinas antes de partir para o trabalho. Ignorando o pensamento, ela subiu as escadas e entrou em seu quarto. Foi de soslaio que avistou o homem no primeiro movimento que ele fez ao sair das sombras do aposento e vir correndo em sua direção.
Quando ela percebeu o martelo nas mãos do intruso, ela sentiu quase que imediatamente a peça de ferro esmagar algum ponto de sua cabeça e depois atingir seu rosto. Susan teve que ser mais forte do que a dor que atravessava seu crânio. “Se eu fosse morrer, queria que soubessem que lutei pela minha sobrevivência”, revelou ela.
A mulher partiu para cima do agressor e conseguiu mordê-lo. Os dois caíram no chão e travaram uma luta corporal. Ela lembra de o homem dizer que ela era forte, e de fato ela era. Foi assim que Susan subiu no peito dele, de modo que o imobilizasse no chão.
“Diga quem mandou você e chamarei a porra de uma ambulância!”, vociferou a mulher, irada e cheia de dor. Mas o intruso não a respondeu. Foi nesse momento que ela fechou as mãos ao redor do pescoço dele enquanto o via lutar pela própria vida, se debatendo o máximo que podia. No instante seguinte, ele estava morto.
Machucada e assustada, Susan buscou refúgio na casa de seu vizinho e pediu para que ele ligasse para a polícia. Quando foi levada para o hospital onde trabalhava há cerca de 30 anos, enquanto era atendida na sala de emergência, ela de alguma forma sabia que seu ex-marido, Michael Kuhnhausen, poderia ser o nome por detrás daquela tentativa de assassinato. Afinal, ele estava perturbado e não aceitava o divórcio.
A polícia identificou o assassino como Edward Dalton Haffey, de 59 anos, que já havia trabalhado como zelador em uma locadora de filmes que Michael era proprietário. A mente viciada em crack de Haffey não tinha nada a perder aceitando dinheiro para cometer um assassinato. Na mochila dele, foi encontrado um bilhete: “Ligue para Mike”.
Não havia dúvidas de que o ex-marido de Susan era o mandante do crime. Michael Kuhnhausen foi preso e acusado de conspiração criminosa para cometer assassinato. Durante o julgamento dele, Susan declarou: “Por causa do que você fez comigo, eu estou prejudicada. Estou danificada. Mas eu não estou destruída”.
Michael se declarou culpado e foi condenado a 10 anos de prisão, sob um processo de US$ 1 milhão movido pela mulher, que queria ter certeza de que ele não teria dinheiro suficiente para contratar outro assassino. Em 2014, Michael morreu na prisão por causas naturais.
Quando indagada sobre o homicídio em legítima defesa, Susan Kuhnhausen foi enfática: “Eu não escolhi a morte dele, eu escolhi a minha vida”.