Ciência
07/12/2020 às 15:00•4 min de leitura
Foi em meados de 1967 que Charles Manson, recém-saído da prisão, mudou-se para o distrito de Haight-Ashbury, em São Francisco (EUA) — na época um lugar onde o movimento hippie crescia e onde ele acabou se tornando um guru.
Pregando uma filosofia que conversava com o grupo religioso Igreja do Processo do Julgamento Final, Manson reuniu seus seguidores, em sua maioria mulheres, por meio de um discurso messiânico que visava afirmar que seus fiéis eram “escolhidos de Deus” e reencarnações dos “cristãos originais”.
Foi dizendo que a sua vontade era a mesma que a do “Filho do Homem” que Manson fez uma lavagem cerebral em seus 50 seguidores e os arrebanhou a cometer 9 assassinatos entre julho e agosto de 1969, incluindo o envolvendo Sharon Tate.
Nascida em 22 de outubro de 1948, em Santa Mônica, na Califórnia, Lynette Fromme foi uma das cinco primeiras seguidoras que Manson recrutou assim que saiu da prisão e começou a pregar.
Em meados de 1967, Fromme já tinha sido o estereótipo do que seria uma “garota americana ideal” antes de ser encontrada aos 19 anos pelo falso guru perto de Redondo Beach (Califórnia, EUA), em seu pior estado. Filha de pais de classe média, ela praticou ballet, sendo considerada uma criança doce e muito inteligente, que estava sempre cercada por amigos.
Depois que descobriu seu amor pela dança e se juntou ao grupo regional Westchester Lariats no final da década de 1950, ela viajou por todos os Estados Unidos e chegou a embarcar até mesmo para a Europa. Em uma de suas últimas apresentações, Fromme foi convidada para dançar na Casa Branca, em Washington D.C.
Foi em 1963, logo que completou 14 anos, que Fromme se mudou para Redondo Beach com os pais e se envolveu com jovens problemáticos. Ela começou experimentando álcool antes de partir para as drogas comuns até se estender às mais pesadas. Em pouco tempo, suas notas caíram, ela desenvolveu uma má vontade em relação à vida e se tornou uma garota violenta. A depressão foi o revés final como consequência disso tudo, levando Fromme de vez.
Em 1967, ela passou a vagar pelas ruas da cidade depois que o pai a expulsou de casa porque ela se comportava como uma “prostituta malcriada”. Deprimida demais, Fromme se apaixonou por Manson e seus “ideais” porque ele simplesmente a aceitou em seu pior momento.
O homem se tornou sua “alma única na vida” e juntos eles começaram a construir a Família Manson. Em 1968, quando o grupo se estabeleceu no Spahn Movie Ranch, nas Montanhas de Santa Susana, fora de Los Angeles, o proprietário da fazenda, George Spahn só aceitou que eles ficassem se pudesse ter relações sexuais com todas as “esposas” de Manson, principalmente Fromme.
O velho de 80 anos e meio cego apelidou a jovem Fromme de Squeaky (guincho ou rangido em inglês), porque ela sempre soltava um gritinho quando ele beliscava sua coxa. No entanto, para seu “amo Manson”, ela sempre seria Red, um apelido “carinhoso” em referência ao seu cabelo ruivo.
Depois que Charles Manson foi preso em 1970 por causa do assassinato de Sharon Tate, Fromme foi a principal seguidora a fazer protestos em frente ao tribunal com palavras de ordem e amor para o réu. Em 29 de março de 1971, quando ele foi condenado à morte, a família Manson se diluiu, mas não a obsessão de Fromme.
Em seu diário, ela declarou que aquilo não era um jogo e que ela só queria ser livre de “todos os sentimentos de culpa”, com o objetivo de “encontrar algo excitante e fazer algo bom”. Ela confessou que não se ajustava mais à sociedade nem à realidade onde vivia. Seguir seu líder ou qualquer outro era o que a mantinha viva.
Em 1975, depois que se mudou para a cidade de Sacramento junto de Sandra Good para ficar mais perto da Prisão Folsom, onde Manson estava, Fromme adotou de vez o apelido Red, e passou a usar mantos com sua respectiva cor vermelha para representar seu amor pelas sequoias da Califórnia.
Ela teve a ideia de assassinar o então presidente dos Estados Unidos, Gerald Ford, quando soube que ele falaria no Centro de Convenções de Sacramento. Por incrível que pareça, o que motivou a mulher foi o fato de Ford ter aprovado o relaxamento da Lei do Ar Limpo, o que poderia fazer com que a poluição automotiva danificasse as sequoias costeiras da Califórnia – suas árvores preferidas.
Na manhã de 5 de setembro de 1975, Fromme rumou até o local público vestida com seu manto vermelho e carregando uma pistola semiautomática de calibre 45. Ela surgiu detrás das árvores, em meio à multidão, e apontou o revólver para o presidente dos Estados Unidos, mas foi rapidamente contida por Larry Buendorf, agente do Serviço Secreto.
Fromme conseguiu dizer algumas frases de protestos sobre a vida e o meio ambiente para as câmeras, além de repetir que a arma não tinha disparado nem iria. Em seu julgamento, ela disse que havia ejetado o cartucho da pistola antes de sair de casa, e os investigadores de fato encontraram um cartucho no chão de seu banheiro, mas não se sabe se foi plantado por sua amiga ou não.
Por causa de uma lei aprovada em 1965 que tornava tentativa de assassinato presidencial um crime federal, Lynette Fromme foi sentenciada à prisão perpétua. Em 1979, ela foi transferida de uma penitenciária para outra após dar marteladas em uma interna. Em 23 de dezembro de 1987, ela escapou da Prisão Federal Alderson, em West Virginia, para tentar se encontrar com Charles Manson, mas foi capturada 2 dias depois e confinada em um manicômio judiciário no Texas.
Em 14 de agosto de 2009, Fromme foi solta em liberdade condicional e se mudou para Nova York, onde conheceu Robert Valdner, que também era obcecado por Manson. Da Família Manson, a mulher foi a única que nunca deixou de promover sua lealdade ao criminoso, muito embora seus problemas psicológicos tenham uma grande participação nisso.
Em abril de 2019, quando Fromme foi procurada pelos produtores do documentário 1969, da ABC, ela fez questão de dizer o quanto amava Manson, mesmo depois de sua morte: “Charlie? Eu estava apaixonada por ele. E sim, eu ainda estou. Eu não acho que você deixa de se apaixonar por alguém”.
No final das contas, a revelação de Lynette Fromme ainda fazia sentido com o que ela escrevera em seu diário há 48 anos, quando batalhava contra sua obsessão, depressão e confusão da realidade: “Eu fiz o meu próprio mundo. Pode soar como um mundo de Alice no País das Maravilhas, mas faz sentido”.