Ciência
05/07/2023 às 09:00•3 min de leitura
Em diversos momentos da nossa história, curiosos casos de histeria coletiva fizeram com que pessoas agissem de maneira estranha. Embora a palavra "histeria" costume ser associada a imagens estereotipadas de pessoas em estado de frenesi emocional, todos esses casos podem estar associados a uma simples tentativa do nosso corpo lidar com situações estressantes. Abaixo, você pode conferir quatro casos bastante peculiares de histeria coletiva, que tiveram um grande impacto para as pessoas envolvidas.
(Fonte: GettyImages)
Um dos relatos mais curiosos sobre histeria coletiva aconteceu no século XVIII. Segundo um relato feito em 1844, em algum momento uma freira começou a miar como um gato em um convento. Com o passar do tempo, outras freiras também começaram a miar, até que logo todas estavam repetindo esse estranho comportamento. Os miados só tiveram fim quando soldados foram colocados na porta do convento. As freiras foram informadas de que os soldados tinham varas e iriam a chicoteá-las até que os miados chegassem ao fim — o que aparentemente funcionou.
Até hoje não se sabe o que desencadeou esse caso. Uma das hipóteses diz respeito à privação emocional e espiritual à qual elas eram submetidas. Muitas eram enviadas a força por suas famílias ainda muito jovens. Elas eram submetidas à disciplina rígida, confinadas sozinhas e realizavam votos forçados de castidade e pobreza. É possível que os miados fossem uma maneira que as freiras encontraram para extravasar diante desta situação.
Elenco da terceira temporada de 'Morangos com Açúcar'. (Fonte: IMDb)
Morangos com Açúcar foi uma novela portuguesa bastante popular entre os adolescentes entre 2003 e 2012 — uma espécie de “Malhação portuguesa”, cuja trama girava em torno do dia a dia de adolescentes durante o ensino médio. Em maio de 2006, um dos episódios da terceira temporada mostrava um surto de vírus, que colocava em risco a vida dos personagens. Alguns dias depois do episódio ter ido ao ar, centenas de adolescentes começaram a alegar dificuldade para respirar, tontura e erupções cutâneas. Exatamente os mesmos sintomas que os personagens apresentaram.
Cerca de 300 alunos de 14 escolas diferentes relataram os sintomas, e algumas escolas chegaram a fechar. Porém, após avaliações médicas, ficou constatado que nenhum dos alunos estava infectado com algum vírus. No final, o Instituto Nacional de Emergência Médica de Portugal decretou o caso como histeria coletiva, possivelmente causada pelo estresse dos exames finais.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Um dos casos mais famosos de histeria coletiva aconteceu em 1938, nos Estados Unidos. Tudo começou quando Orson Welles, então um jovem radialista, fez uma adaptação do clássico de ficção científica A Guerra dos Mundos. Pouco antes de começar a dramatização, ele explicou do que se tratava, porém, isso aconteceu enquanto outro programa de maior audiência ainda estava sendo apresentado. Quando ele acaba e as pessoas mudam para a rádio Columbia Broadcasting System, o que elas ouvem é Welles narrando com temor uma invasão alienígena.
A maioria dos ouvintes não sabia que se tratava da leitura de uma obra de ficção e acreditavam tratar-se de um boletim de notícias. Ainda hoje é difícil saber o alcance e o impacto da dramatização. Segundo a própria emissora, cerca de seis milhões de pessoas ouviram a transmissão, das quais pouco mais de um sexto acreditou no relato. No dia seguinte, a notícia que circulava foi que as linhas de emergência ficaram congestionadas na região de Nova Jersey, onde Welles havia adaptado a história, e centenas de milhares de pessoas tentaram fugir do local, para escapar do suposto ataque alienígena. Hoje essa versão é questionada, com algumas evidências sugerindo que se realmente houve confusão, foi algo mais localizado e pouco expressivo.
(Fonte: GettyImages)
Talvez o caso mais infame — e mortal — de histeria em massa da história é o Julgamento das Bruxas de Salem. A história aconteceu em Massachusetts, nos Estados Unidos, entre fevereiro de 1693 e maio de 1694. Tudo começa quando duas meninas — uma de 9 e a outra de 11 anos — tiveram repentinos ataques de gritos e violentos espasmos. Um médico foi até o local e rapidamente falou que as meninas haviam sido enfeitiçadas, o que foi prontamente aceito pela comunidade, quando pelo menos outras cinco meninas tiveram os mesmos sintomas. Quando questionadas sobre quem havia feito aquilo com elas, todas colocaram a culpa em três pessoas: uma escravizada chamada Tituba, uma mendiga chamada Sarah Good e Sarah Osborne, uma senhora idosa.
A partir deste momento, toda a população de Salem entrou em histeria coletiva, acusando uns aos outros de maneira completamente irracional — uma menina de 4 anos foi acusada e jogada em uma masmorra por 8 meses. Ao todo, mais de 200 pessoas foram acusadas de praticar bruxaria e fazer pactos com o diabo, das quais 30 foram consideradas culpadas, 19 foram executadas — a maioria por enforcamento.