Ciência
02/11/2023 às 03:00•4 min de leitura
Há séculos, desde a época em que navegadores europeus desbravavam os desconhecidos mares ao mesmo tempo em que mapeavam "novas" regiões, era bastante comum surgirem relatos de criaturas fantásticas habitando terra e mar. Em apenas uma rápida olhadinha em alguns mapas antigos somos capazes de identificar gravuras de dragões, serpentes marinhas e sereias, seres que, na época, acreditava-se existirem por aí.
Com o passar do tempo, a "descoberta" de novos territórios e os avanços tecnológicos, hoje somos capazes de confirmar que muito do que era descrito antigamente era pura especulação ou exagero.
Confira uma lista com algumas dessas criaturas que não passaram de mentiras bem contadas em tempos antigos.
História de pescador do Gellisoni fabricata foi brincadeira de 1ª de abril. (Fonte: Museum of Hoaxes / Reprodução)
Em 1939, o jornal Honolulu Star-Bulletin resolveu brincar com seus leitores publicando uma notícia surreal sobre o "maior peixe já capturado em águas havaianas ou quaisquer águas além dos livros de contos de fadas". Publicado no dia 1º de abril, o texto afirmava que um cientista norueguês chamado Dr. Thorkel Gellison teria pescado a criatura, batizada então como Gellisoni fabricata.
Para ilustrar o tamanho do animal fictício, o jornal publicou uma imagem de Gellison "cavalgando" o peixão, que era transportado em um veículo pelas ruas de Honolulu.
Criado para surpreender amigo, Monstro do Lago George foi criado por artista usando um tronco de árvore. (Fonte: Fandom / Reprodução)
Em mais uma história envolvendo pescadores, em 1904, o artista Harry Watrous e o editor de jornal William Mann decidiram competir para ver quem pescaria a maior truta no Lago George, em Nova York. A amistosa disputa tomou um rumo diferente quando Mann chegou com um peixão enorme e se declarou vitorioso até seu amigo perceber o bicho era na verdade uma réplica esculpida em madeira.
Decidido a dar o troco, Watrous pôs suas habilidades artísticas em prática. Utilizando um tronco de cedro personalizado com todo tipo de esquisitice, o homem criou uma escultura em forma de "monstro marinho ou hipogrifo". Quando se reuniu ao amigo novamente para pescar na presença de outras pessoas, Watrous já havia preparado a pegadinha, tendo a escultura amarrada à sua vara de pesca. Quando começou a puxar a linha e o "monstro" surgiu das profundezas, um dos convidados teria gritado enquanto outro havia batido na escultura com seu guarda-chuva. O artista deixou então o tronco afundar novamente.
Não satisfeito, Watrous continuou pregando peças em visitantes do Lago George, fazendo a escultura aparecer vez ou outra e levando à crença de que um monstro habitava o lago.
Jovens forjaram descoberta de alienígena usando corpo de macaco depilado e pintado. (Fonte: Wikimedia Commons / Reprodução)
Na década de 1950, um policial encontrou um trio de jovens próximo a uma área gramada que parecia ter sido alvo de algum tipo de incêndio. A cena ficou ainda mais suspeita e esquisita quando o oficial percebeu o que estava bem no centro da área queimada: um ser humanoide e totalmente verde.
Analistas do centro de investigações da Georgia confirmaram que o que parecia um corpo alienígena era na verdade o corpo depilado de um macaco que teve o rabo removido e foi pintado de verde usando corante alimentício. Segundo os analistas, se aquilo veio de Marte, "então há macacos em Marte".
Archaeoraptor, o "elo perdido" entre aves e dinossauros, era na verdade uma farsa. (Fonte: Wikimedia Commons / Reprodução)
A descoberta do Archaeopteryx revelou ao mundo que as aves atuais são relacionadas aos dinossauros e mudou como cientistas encaram as fascinantes criaturas milenares. Desde então, quaisquer sinais que pudessem reforçar a ligação entre dinos assustadores e passarinhos fofos vêm sendo buscados pela comunidade científica. Eis que, em 1999, a National Geographic publica a "descoberta" do Archaeoraptor, rotulando a criatura como o "elo perdido" entre pássaros e dinossauros.
Enquanto isso, as revistas Nature e Science se recusaram a publicar o conteúdo por suspeita de fraude. Dito e feito: pouco depois, a própria Nat Geo publicou um artigo refutando o tal elo perdido, cujo fóssil havia sido construído utilizando ossos de diferentes dinossauros, incluindo o Archaeopteryx, além de outros animais.
Ompax spatuloides chegou a ser catalogado como criatura real na Austrália. (Fonte: Wikimedia Commons / Reprodução)
Não é nenhuma novidade que a Austrália é a terra dos mais diversos, intrigantes e até mesmo assustadores animais no planeta. E foi justamente este fato que levou à adição do Ompax spatuloides ao catálogo de criaturas existentes em território australiano. Acontece que o esquisitíssimo peixe jamais existiu. Em 1872, um homem chamado Karl Theodor Staiger ficou confuso e fascinado com seu jantar: lhe havia sido servido um peixe curioso, que teria sido pescado por habitantes da região. Ele tinha características incomuns como corpo alongado, rabo achatado e, pasme, até mesmo um bico.
Acreditando estar diante da descoberta de uma nova espécie, Staiger, que era diretor do Museu Brisbane, desenhou prontamente a criatura antes de encher o estômago. Em seguida, de posse do rascunho, o cientista Francois Laporte deu ao bicho o nome Ompax spatuloides, que foi então catalogado como uma espécie rara australiana.
Acontece que o animal não era real e tudo não passou de uma brincadeira confirmada anos depois. Em 1930, um dos responsáveis pela pegadinha confirmou que o suposto peixe foi montado usando um rabo de enguia, o corpo de uma tainha, a cabeça de peixe-pulmonado-australiano e o bico de um ornitorrinco.
Boato das sereias de Fiji fez colecionadores gastarem fortunas em itens forjados. (Fonte: Wikimedia Commons / Reprodução)
Se tem algo que marinheiros de séculos atrás temiam e, ao mesmo tempo, morriam de vontade de encontrar, sem dúvida eram sereias. Descritas como lindas criaturas, parte peixe, parte mulher, elas seriam donas de belíssimas vozes capazes de hipnotizar qualquer homem que as ouvisse cantar.
Até mesmo Cristóvão Colombo teria "visto" sereias quando navegando nas proximidades das Américas. O explorador teria ficado bastante decepcionado, já que as sereias que viu não tinham nada de belas; é possível que o navegador italiano tenha visto peixeis-bois e associado ao mito das sereias.
Porém, naquela mesma época era possível ver "sereias genuínas" em circos no arquipélago de Fiji. Por uma pequena taxa, visitantes podiam se aproximar do que seriam corpos de sereias que haviam secado após morrer. O interesse pela criatura era tamanho que alguns colecionadores pagavam fortunas nas tais sereias de Fiji que, no fim das contas, não passavam de restos mortais de peixes e macacos grudados, resultando em uma criatura estranha e assustadora. E falsa, não podemos deixar de ressaltar que era tudo uma grande farsa.