Ciência
24/08/2020 às 06:08•2 min de leitura
Você talvez já tenha ouvido falar sobre a síndrome de auto-fermentação (ou de auto-cervejaria): uma doença raríssima, que faz com que o corpo produza álcool no próprio sistema digestivo e deixa o doente bêbado mesmo sem ter ingerido uma gota sequer de bebida. A doença é bizarra — e grave, claro, causando muitos problemas para quem sofre com ela... —, mas um novo tratamento igualmente bizarro foi proposto por médicos belgas para resolvê-la.
A ideia é fazer transplantes de matéria fecal. Isso mesmo, pegar o cocô de uma pessoa saudável e implantar no sistema digestivo de uma pessoa doente.
Por mais estranho que pareça, esse tipo de procedimento já é bastante utilizado para tratar outras doenças do sistema digestivo: uma pessoa saudável doa a sua matéria fecal, com todos os microorganismos necessários para reorganizar a flora intestinal da pessoa doente. Ele funciona, principalmente, com a bactéria Clostridium difficile, que causa inflamações no intestino — então porque não funcionaria com o fungo que causa a síndrome da auto-fermentação?
Quem sofre com a auto-fermentação fica bêbado antes mesmo da primeira cervejinha (Fonte: Pexels)
O estudo dos médicos belgas foi publicado no início de agosto e compreende o caso de um homem de 47 anos, que já tinha tentado todos os tratamentos-padrão contra a síndrome da auto-fermentação. Segundo o artigo, depois do transplante de matéria fecal, ele está há três anos sem ser incomodado pelos sintomas bizarros da doença.
Os tratamentos mais comuns para a síndrome da auto-cervejaria envolvem tomar remédios para matar o microorganismo que causa a doença. Isso porque os sintomas são causados pela presença do fungo Saccharomyces cerevisiae, o mesmo usado na produção de cerveja, no organismo. Esse fungo fermenta qualquer carboidrato ingerido pelo doente, produzindo o álcool que deixa a pessoa alterada. Quando isso não funciona, a opção é adotar uma dieta low-carb na marra, evitando ingerir qualquer alimento que possa causar os sintomas.
No caso do homem de 47 anos que foi objeto do estudo citado na reportagem, nem isso funcionou, já que ele tinha uma forma bastante severa da doença. Contudo, para que a eficácia do tratamento inusitado seja realmente comprovada, seriam necessários mais casos — o que é difícil, já que a doença é extremamente rara. Além disso, há preocupações de que o transplante de fezes possa transmitir infecções.