Estilo de vida
26/03/2021 às 10:30•2 min de leitura
Chamado de Butanvac, o imunizante cujo pedido para testes clínicos foi entregue nesta sexta (26) à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é a primeira vacina 100% nacional contra a covid-19.
O imunizante é fruto de um acordo internacional com o Instituto Butantan à frente; seus parceiros são o laboratório americano Dynavax e a organização internacional de saúde sem fins lucrativos PATH.
A vacina será produzida com vírus inativado de gripe aviária e uma proteína da espícula da variante surgida em Manaus, a P.1 – uma das mais virulentas cepas do SARS-CoV-2.
“Essa vacina será integralmente produzida aqui, não dependeremos da importação de nenhum insumo e com uma tecnologia que já existe – a mesma que é usada na produção da vacina contra a gripe. Hoje, demos entrada no Dossiê de Desenvolvimento Clínico e poderemos, se tudo correr bem, começar a usar essa vacina ainda no segundo semestre deste ano”, disse o diretor do Butantan, o hematologista e pequisador Dimas Covas.
Segundo Covas, como a Butanvac é uma vacina de segunda geração (ou seja, usa uma variante e não o vírus original), os testes e a análise dos resultados devem ser mais rapidamente concluídos. As duas primeiras fases testam a segurança do imunizante e a resposta imune esperada; a fase 3, se a vacina é eficaz.
O diretor do Butantan acredita que será possível que a aplicação seja em dose única. Segundo ele, a vacina apresentou "bons resultados imunogênicos" nos testes em animais quando aplicada uma única vez.
A Butanvac já está sendo testada na Tailândia, na fase 1. No Brasil, as fases 1 e 2 terão 3,9 mil voluntários, divididos igualmente entre as duas. Os participantes deverão ter mais de 18 anos e não ter recebido nenhuma dose das vacinas hoje distribuídas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A expectativa é que, com a autorização da Anvisa, a fase 1 dos testes clínicos comece em abril e, em julho, se tudo der certo, o imunizante comece a ser distribuída no país. Antes mesmo do fim da fase 3, porém, o Butantan deve pedir à Anvisa o pedido de uso emergencial do imunizante. Espera-se uma produção de 40 milhões de doses até o fim do ano. Segundo Covas, já a partir de maio a nova vacina vai começar a ser produzida.
Testes clínicos devem começar em abril.
Os planos no longo prazo é, assim que a demanda nacional for suprida, o Butantan começar a exportar a vacina.
"Nosso compromisso é fornecer essa vacina para países de renda baixa e média porque é lá que nós precisamos combater a pandemia. Se o mundo rico tem recursos para combater a doença e ficar relativamente livre do vírus, nos países de renda baixa ou média a pandemia vai continuar", disse Covas.
O instituto também já inscreveu sua vacina no sistema da Organização Mundial de Saúde (OMS). Se aprovada pela entidade, o imunizante brasileiro poderá ser distribuído mundialmente. A OMS teme que, com a recusa dos laboratórios em abrir mão das patentes ou dos países em lançar mão das licenças compulsórias, a escassez de imunizantes dure até 2022.
A Fiocruz, no Rio de Janeiro, também está trabalhando em uma vacina própria.
Além da Butanvac, outros 17 imunizantes brasileiros, todos em fase pré-clínica, aguardam financiamento para prosseguir com testes em humanos.
Mesmo com sua própria vacina, o Butantan não deixará de produzir a CoronaVac, imunizante desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac.