Ciência
11/04/2021 às 09:00•2 min de leitura
Beth Goodier, uma jovem de 26 anos, moradora de Stockport, em Manchester, Reino Unido, é considerada uma em 1 milhão. Desde que nasceu, ela tem episódios de sono que podem durar até 22 horas diárias e por semanas a fio. Ela não consegue se manter acordada de maneira alguma.
Em novembro de 2016, Goodier chegou a adormecer no sofá durante 6 meses inteiros, em que ela se levantou apenas para fazer pequenas refeições, ir ao banheiro e tomar banho. Depois disso, ela sempre voltava para a cama e dormia por mais 22 ou 23 horas contínuas.
De acordo com sua mãe, Janine Goodier, em entrevista ao Daily Mail, ela estima que a filha tenha dormido 75% de sua vida até então. “Quando ela acorda, é como se nada tivesse errado. Para ela, tudo não passou de uma noite de sono”, revelou Janine. “É sempre uma corrida contra o tempo para ela viver a vida que deveria. Ela corre para encontrar seus amigos e arrumar o cabelo, mas ninguém sabe quando ela vai adormecer desse jeito de novo”.
Por outro lado, existem casos ainda mais raros do que Beth Goodier acontecendo em outras partes do mundo, como o de uma garota na Colômbia que tem episódios de sono que lhe causam perda de memória, após ela dormir por vários meses ou por até 48h horas consecutivas. A jovem chega a esquecer temporariamente até o rosto de sua própria mãe.
(Fonte: Inside Edition/Reprodução)
O que essas jovens sofrem é de uma doença rara chamada Síndrome de Kleine-Levin (KLS), popularmente conhecida como Síndrome da Bela Adormecida, pois o nome diz por si só. A doença causa períodos recorrentes de sonolência excessiva, além de causar mudanças de comportamento, confusão e perda de memória.
De acordo com o Orphanet Report, o distúrbio afeta 1pessoa em cada 500 mil, sendo que 81% delas têm idade média de 15 anos (podendo variar de 4 a 82 anos) e são indivíduos do sexo masculino em 78% dos casos.
A causa exata da KLS ainda é desconhecida pela comunidade médica, mas alguns especialistas acreditam que lesões no hipotálamo (parte do cérebro que controla o sono, apetite e temperatura corporal) podem contribuir para o desenvolvimento da condição. Existem relatos de pessoas que desenvolveram a doença após uma infecção comum, como gripe, o que levou os pesquisadores a acreditarem que a KLS pode ser algum tipo de doença autoimune. Foi também considerado um viés genético, visto que já foi documentado o distúrbio em mais de uma pessoa na mesma família.
(Fonte: Talk to the Press/Reprodução)
A Síndrome da Bela Adormecida é considerada uma condição imprevisível, por isso esses “episódios” podem acontecer continuamente ou sofrerem pausas de até 10 anos. Entre a fadiga intensa e a falta de energia, os pacientes podem experimentar alucinações, desorientação, irritabilidade, comportamento infantil, aumento do apetite e desejo sexual excessivo.
É exatamente devido a essa paleta de sintomas que a KLS é um distúrbio difícil de ser diagnosticado, pois pode ser confundido com vários tipos de transtorno psiquiátrico. Como resultado, a pessoa pode levar, em média, 4 anos para ser diagnosticada com a doença corretamente. Geralmente, os médicos precisam descartar depressão, transtornos de humor, diabetes, hipotireoidismo, tumores, inflamações, infecções, outros distúrbios do sono e condições neurológicas para sequer passar perto de um diagnóstico de KLS.
Uma vez que não há cura, a síndrome pode ser controlada por meio de vários medicamentos que ajudam a reduzir a duração de um episódio e prevenir que a pessoa durma de forma descontrolada no futuro.