Ciência
08/07/2021 às 11:00•2 min de leitura
Segundo o livro Unwell Women: A Journey Through Medicine And Myth in a Man-Made World, da médica britânica Elinor Cleghorn, as mulheres sofrem com a falta de conhecimento da Medicina sobre seus corpos desde o século III, quando Hipócrates, o "pai da medicina", acreditava que as doenças nas mulheres eram todas relacionadas ao útero.
Essa ideia se estendeu durante todo o século XIX, quando a saúde mental e física das mulheres deixaram de ser consideradas “histeria”, palavra que vem do grego e significa “útero” – o que já explica muita coisa.
Desde 1999, o número de mortes causadas por erros médicos em mulheres aumentou de 98 mil para mais de 250 mil anualmente. Cleghorn quase entrou para as estatísticas quando vários médicos homens culparam seus hormônios femininos e descartaram o sintomas do lúpus, uma doença auto-imune. Ela levou 7 anos para ser diagnosticada corretamente.
(Fonte: Pixels/Reprodução)
No século XIX, o cirurgião londrino Isaac Bakes Brown defendia a mutilação genital feminina porque acreditava que o órgão causava histeria, irritação espinhal, convulsões, idiotice e manias. Já na década de 1930, os neurologistas Walter Freeman e James Watt realizaram lobotomias em mulheres com base na ideia de que o "desvio da domesticidade representava uma doença que precisava de cura".
“Eles descreveram as mulheres como sendo astutas e altamente tensas e estridentes. De fato, elas eram histéricas antes de se submeterem ao procedimento, e então eles falavam sobre elas serem devolvidas a um estado quase infantil de ignorância abençoada”, descreveu Cleghorn, em entrevista à Salon Magazine.
(Fonte: Health eCareers/Reprodução)
Uma pesquisa realizada pelo Brown, Christie & Green, um escritório de advocacia com experiência em negligência médica, ressaltou que a ideia patriarcal de que as mulheres são "muito emocionais" configura o motivo de os sintomas físicos serem atribuídos a fatores psicológicos sempre em primeiro lugar.
Ainda hoje o currículo e padrões médicos preestabelecidos nas faculdades de medicina rotulam as mulheres como "um mistério científico", o que viabiliza um diagnóstico impreciso em vários casos. Em um relatório feito pela Brown, Christie & Green com homens estudantes de medicina nos Estados Unidos, menos da metade sentiu que o currículo os preparou para lidar com as diferenças de gêneros em suas práticas clínicas – comprovando que os médicos são geralmente treinados para tratar homens e mulheres de maneira semelhante, mas que isso pouco acontece na prática.
Em entrevista ao The Guardian, Cleghorn ressaltou que as mulheres negras no Reino Unido continuam a ter resultados de saúde piores do que as mulheres brancas, especialmente em questão de saúde reprodutiva. Nos Estados Unidos, as mulheres negras estão duas vezes mais propensas a morrerem de causas relacionadas à gravidez do que as mulheres brancas.
Apesar de as mulheres modernas terem mais liberdade para aprender sobre seus corpos do que em muitos pontos do passado, Cleghorn diz que os problemas com os maus-tratos médicos muitas vezes continuam quando eles deixam de ouvir as pacientes.