Artes/cultura
14/01/2022 às 02:00•3 min de leitura
Ah, a Idade Média. Peste, gente urinando e defecando por todos os lados, baldes com fezes sendo arremessados dos castelos. E a higiene bucal? Bem, cremes dentais, escovas com cerdas de náilon, fio dental, enxaguante bucal, creme para dentes sensíveis ou contra gengivite são coisas normais no século XXI. Mas, aparentemente, as populações do período davam um jeito para cuidar da boca.
Cuidar dos dentes não é bem uma novidade. Os assírios, por exemplo, utilizavam o dedo, enquanto os egípcios uma pasta feita da mistura de flores de íris, folhas de menta, pimenta e sal. Na Grécia Antiga, médicos recomendavam hortelã pulverizada. E na Idade Média?
(Fonte: Quora)
Lembra da história do xixi? Na Idade Média, período compreendido entre os anos 476 e 1453, bochechar urina era um hábito relativamente comum no combate ao mau hálito, além da aplicação de pastas feitas com ervas aromáticas. Esqueça das escovas de cerdas, pois só surgiriam quase 50 anos depois, na China, feitas com pelos de porco — a escova “moderna” só surgiria em 1938.
E para nosso espanto, a ausência de um dispositivo semelhante a uma escova de dentes na Idade Média é normal, porque a grande preocupação das pessoas naquele tempo era mesmo com o hálito. A odontologia, por exemplo, se resumia à extração de dentes.
(Fonte: Jornal Ciência)
Mas se o hálito talvez fosse um problema, a dentição em si era até relativamente saudável. Ou seja, as cenas que nos acostumamos em filmes de época com os camponeses com dentes escurecidos, retorcidos ou ausentes não passam de um mito.
E o maior responsável por isso não passar de lenda é a raridade do açúcar na dieta destas pessoas. Como era um item caro, os camponeses não tinham como adquiri-lo, e quando tinham posse dele consumiam aos poucos.
Em contrapartida, o rei da Inglaterra Ricardo III tinha uma péssima higiene bucal e uma coleção de cáries na boca. Para os pesquisadores, é um forte indício de que doenças bucais estavam mais presentes na vida dos ricos, já que tinham maior acesso a açúcares. E pensar que os camponeses deviam ter um belo sorriso e o rei não, é de fazer chorar.
Levantamentos arqueológicos do período medieval indicam que a média de dentes com algum tipo de problema dificilmente ultrapassava a marca de 20% da totalidade. A título de comparação, no início do século XX, algumas populações chegaram a ter 90% de comprometimento dentário.
Outro levantamento interessante dos pesquisadores indicou que, para as populações da Idade Média, o problema mesmo era o desgaste dos dentes. Básico na alimentação diária, o pão era produzido moendo o trigo com pedras, para gerar a farinha. Acontece que restavam partículas de areia, que ao serem mastigadas geravam esse desgaste.
(Fonte: Aventuras na História)
A população medieval tinha por hábito esfregar os dentes e as gengivas com panos de linho ásperos. Pastas caseiras como a feita da junção de sal com sálvia moída eram comuns. Além de limpar os dentes, essas pastas colocadas nos panos contribuíam para o branqueamento dental e para um hálito fresco.
É claro que o gargarejo de xixi é uma mácula na história do cuidado dental na Idade Média, mas os bochechos também podiam ser feitos com líquidos à base de vinho ou vinagre. Estes itens eram acrescidos de ervas e especiarias, especialmente hortelã, manjerona e canela.
O medo das precárias cirurgias dentárias, que na maioria das vezes terminava em extração dental, pode ter sido mola propulsora para esse zelo com a saúde dos dentes na era medieval. Bastante criativo e cuidadoso para um período em que jogar baldes de fezes pela janela dos castelos era comum, não é mesmo?