Vírus achado em cocô de animais pode tratar úlceras de diabéticos

05/10/2023 às 11:002 min de leitura

Uma das grandes complicações para pacientes diabéticos são as úlceras que podem surgir nos pés. Em alguns casos, bactérias que infectam essas feridas abertas não respondem ao tratamento com antibióticos e podem até mesmo causar amputação do membro.

No entanto, um novo estudo parece ter encontrado a solução para esse problema: um vírus encontrado no cocô de alguns animais. Os bacteriófagos, como são chamados, são vírus com a habilidade de "sequestrar" e mater esse tipo de bactéria nociva e super-resistente.

Estudando fezes de animais

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

À medida que bactérias têm se tornado resistentes aos antibióticos usados hoje em dia, investigadores têm procurado outras soluções viáveis para tratar infecções. Uma opção emergente é conhecida como terapia fágica, que se baseia em um tipo de vírus conhecido como bacteriófago.

Esses vírus, abreviadamente chamados de fagos, podem sequestrar células bacterianas e destruí-las de dentro para fora. Os fagos adotam uma abordagem direcionada para matar as bactérias, sendo que cada um deles só pode matar uma ou várias cepas bacterianas de uma vez só.

Portanto, quanto mais fagos puderem ser descobertos por cientistas, mais cepas bacterianas eles poderão enfrentar. Pensando nisso, pesquisadores da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, decidiram vasculhar as fezes de vários animais no Yorkshire Wildlife Park, uma espécie de zoológico no centro da Inglaterra.

O centro de conservação e reabilitação de vida selvagem atualmente conta com mais de 70 espécies sob seus cuidados, incluindo várias que estão ameaçadas de extinção. As pesquisas atualmente estão sendo comandadas pelo microbiologista Graham Stafford. Até agora, foram isolados fagos das fezes de babuínos da Guiné, lêmures, porcos-visayan, girafas e mamíferos carnívoros chamados binturongues. 

Chave para o sucesso

(Fonte: GettyImages)(Fonte: GettyImages)

Em comunicado oficial, Stafford falou um pouco mais sobre o andamento da pesquisa. “Apesar do cheiro, verifica-se que a matéria fecal de espécies ameaçadas pode ser a chave para matar bactérias infecciosas que de outra forma seriam resistentes aos antibióticos”, destacou. Na visão do pesquisador, isso é apenas um motivo adicionar para os esforços na conservação de espécies ameaçadas.

Para isolar os fagos, os cientistas adicionam água a uma amostra de cocô e misturam-na até formar uma pasta. Em seguida, essa mistura é filtrada até restarem apenas os vírus assassinos de bactérias. Colocando cada fago em uma placa de laboratório, eles adicionam vários tipos de bactérias para determinar quais delas o fago é capaz de infectar.

Anteriormente, estudos já haviam procurado fagos nas fezes de animais de fazenda, como galinhas e gado, bem como na boca de humanos. No atual trabalho, os pesquisadores estão procurando por fagos que possam ajudar especificamente no tratamento de úlceras diabéticas. Ao todo, esse tipo de infecção resulta em cerca de 7 mil amputações por ano apenas no Reino Unido. 

Se tudo der certo, médicos poderão um dia ser capazes de aplicar fagos nessas feridas resistentes aos antibióticos para tratá-las. Somente na região do estudo, isso poderia resultar em uma economia de US$ 1,2 bilhão em cuidados de saúde todos os anos. Porém, vale ressaltar que o estudo ainda está no estágio inicial. 

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