Ciência
03/11/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 03/11/2024 às 12:00
Todo mundo respira o tempo todo, certo? Mas parece que a forma como cada um de nós faz isso pode depender de um fator que poucos imaginam: o olfato. Uma pesquisa recente publicada na revista Nature Communications revelou que as pessoas que não conseguem sentir cheiros, uma condição chamada "anosmia congênita", têm um padrão respiratório diferente de quem possui o olfato funcionando normalmente.
Segundo os cientistas do Olfaction Research Group do Instituto Weizmann de Ciências, essa diferença pode ter implicações importantes para a saúde física e mental. “Cheirar é o sentido mais primitivo”, explicou Simon Gane, cirurgião do Hospital University College London e especialista em olfato. O estudo destaca como funções corporais básicas, como a respiração, estão intimamente ligadas ao olfato — mostrando o quanto essa capacidade é fundamental.
Para entender melhor essa diferença, os pesquisadores monitoraram 31 pessoas com olfato normal e 21 com anosmia congênita por meio de dispositivos que registravam o fluxo de ar no nariz durante 24 horas. Os resultados mostraram que, enquanto estavam acordados, as pessoas com olfato normal apresentavam uma média de 240 picos de inalação adicionais por hora, em comparação com os anósmicos.
Esses picos são pequenas inalações adicionais sobre um fôlego suave, que tornam o padrão respiratório mais irregular. Durante o sono, quando a sensibilidade aos cheiros diminui, as diferenças entre os grupos foram menos acentuadas, embora ainda houvesse variação significativa no volume das inalações.
O estudo foi capaz de determinar o "status olfativo" de uma pessoa com 83% de precisão apenas analisando o padrão respiratório. Em um experimento adicional, quando colocados em uma sala sem odores, os participantes com olfato normal apresentaram padrões respiratórios mais próximos dos anósmicos, sugerindo que a capacidade de sentir cheiros e o ambiente influenciam a respiração.
Embora o estudo tenha revelado uma ligação intrigante entre a respiração e o olfato, ele levantou mais perguntas do que respostas sobre as possíveis implicações para a saúde. A anosmia adquirida, que pode ocorrer após infecções ou lesões cerebrais, está associada a diversas condições de saúde, como depressão e doenças neurodegenerativas. No entanto, os pesquisadores observaram apenas pessoas com anosmia congênita, o que limita a aplicação dos resultados para outros casos.
Especialistas como Rachel Herz, neurocientista e professora adjunta da Brown University, alertam que os riscos para a saúde podem não ser os mesmos para quem nasce sem olfato e para quem perde essa habilidade ao longo da vida. Segundo ela, “não há literatura que sugira que pessoas com anosmia congênita estejam em maior risco” para problemas de saúde relacionados à perda do olfato.
Para aprofundar as conclusões, os pesquisadores acreditam que novos estudos devem focar em pessoas com anosmia adquirida e acompanhar outros indicadores fisiológicos, como níveis de oxigênio no sangue. Apesar das limitações, o estudo oferece uma nova perspectiva sobre a importância do olfato e os efeitos pouco explorados que ele pode ter em nosso corpo. Como disse Gane, “precisamos levar o olfato um pouco mais a sério”.