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05/12/2023 às 11:00•3 min de leitura
Quando a doença foi descoberta, nos anos 1980, a AIDS foi vista praticamente como um sinônimo de morte. Felizmente, por conta dos muitos avanços científicos, hoje uma pessoa que recebe o diagnóstico de HIV+ pode ter longas décadas de vida saudável, caso siga com os tratamentos médicos.
Ainda assim, o vírus da imunodeficiência humana (HIV) segue sendo um problema de saúde pública global. Apenas em 2022, foram contabilizadas 1,3 milhão de novas infecções e cerca de metade desse número de mortes.
Mas os especialistas dizem que esse cenário pode melhorar muito na próxima década. Vejamos a seguir o plano que eles propõem com este objetivo.
(Fonte: GettyImages)
Vários países toparam participar de um ambicioso programa da ONU que tem como objetivo reduzir a taxa de novas infecções de HIV e mortes relacionadas à doença para abaixo da taxa reprodutiva de 1, de acordo com declaração de Quarraisha Abdool Karim, diretora científica associada do Centro para o Programa de Pesquisa em AIDS na África do Sul e embaixadora especial conjunta do Programa das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids).
Na prática, isso quer dizer que cada pessoa que vive com o HIV infectaria menos de uma pessoa em sua vida. Se o programa der certo, isso significa que, em 2030, teremos 200 mil novas infecções por HIV e 130 mil mortes relacionadas à AIDS – o que significaria um número 90% menor do que era visto em 2010.
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O primeiro tratamento para o HIV foi o AZT (Azidotimidina), aprovado em 1987. Quase quarenta anos depois, os fármacos evoluíram muito. "Temos tratamentos realmente poderosos desde 1996, mas eles melhoram o tempo todo", diz Monica Gandhi, diretora do Centro de Pesquisa de AIDS da Universidade da Califórnia em São Francisco e diretora médica da Clínica de HIV do Hospital Geral de São Francisco.
O tratamento padrão é a terapia antirretroviral combinada (TARV), na qual são usados medicamentos que interrompem a capacidade do HIV de se replicar e invadir células. O paciente ingere pílulas diárias ou recebe injeções mensais, ou bimestrais, que fazem com que a quantidade de HIV no sangue se reduza a ponto de se tornar indetectável. Neste estado, uma pessoa infectada não repassa mais o vírus por meio do contato sexual.
O médico Raphael Landovitz, diretor do Centro de Serviços de Identificação, Prevenção e Tratamento do HIV da UCLA, afirma que "as pessoas que vivem com HIV, em tratamento e indetectáveis, não são infecciosas – ponto-final, fim de declaração – para seus parceiros sexuais". Além disso, a supressão viral praticamente impede a disseminação do vírus durante a gravidez ou no parto.
Há também outros tratamentos importantes que impedem que pessoas soronegativas contraiam o vírus. O protocolo da profilaxia pré-exposição (PrEP) funciona por meio de comprimidos ou uma injeção que, se tomados conforme indicação médica, fazem com que uma pessoa não se contamine por meio de uma relação sexual.
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Todos esses tratamentos levam a uma questão crucial: a meta estipulada para 2030 é viável? Esta é uma questão complexa que envolve lidar diretamente como potenciais impeditivos do caminho. Mas, para isso, é imprescindível olhar antes para metas mais urgentes.
Uma delas é a "95-95-95", definida para 2025. Ela propõe que, até 2025, 95% das pessoas com HIV conheceriam seu status, 95% das pessoas diagnosticadas já tomariam medicamentos para HIV e 95% das pessoas tratadas são "suprimidas viralmente", o que quer dizer que as drogas as impediriam de espalhar a infecção sexualmente. A outra meta é garantir que 95% das pessoas em situação de risco para HIV tenham acesso à prevenção e à PrEP.
Ocorre que, em 2022, apenas 76% do total de 39 milhões de pessoas com HIV em todo o mundo estavam tomando TARV, e 71% estavam com supressão viral, de acordo com a Unaids. Boa parte da dificuldade para atingir as metas diz respeito às dificuldades para conseguir tratamentos para populações vulneráveis, incluindo as crianças.
Ou seja: a meta de 2030 só poderá ser concretizada se os tratamentos de fato chegarem às pessoas. "A ciência é um primeiro passo, mas o acesso é o que vai traduzir seu verdadeiro potencial e valor", disse Abdool Karim. Isso envolve, por exemplo, o investimento na redução do custo da PrEP e fornecimento à população, assim como o acesso a medicamentos potentes a locais mais afetados pela doença, como alguns países da África.