Retábulo de Gante: a obra de arte mais perseguida da história

13/06/2021 às 06:002 min de leitura

Entre 1430 e 1432, o comerciante Jodocus Vijd, então prefeito da cidade de Gante, na Bélgica, encomendou uma obra de arte gigante dos irmãos pintores Hubert e Jan Van Eyck para o projeto da Catedral de São Bavão.

Hubert decidiu que eles fariam um retábulo, que consiste em uma estrutura composta por 12 painéis, 8 dos quais são venezianas. Jan ficou encarregado de realizar a pintura, que marcou o período inicial da pintura flamenga do século XV. Intitulado "O Retábulo de Gante", ou "O Cordeiro de Deus", a obra representa a redenção celestial e inclui imagens de Cristo, Virgem Maria e João Batista, flanqueados por anjos tocando músicas, pelas figuras de Adão e Eva; a reunião de todos os santos, os pecadores, clérigos e soldados em uma adoração ao Cordeiro de Deus.

A partir do momento em que o retábulo foi oficialmente lançado, em 6 de maio de 1432, ele se tornou uma das obras mais conhecidas e importantes da história da Europa – e também alvo de todos os tipos de ataques.

Os Juízes Justos

(Fonte: Kan Academy/Reprodução)(Fonte: Kan Academy/Reprodução)

Em 589 anos, o retábulo já quase foi queimado por calvinistas rebeldes, roubado por Napoleão Bonaparte para o Museu do Louvre, cortado ao meio nas mãos do rei da Prússia e até levado por Adolf Hitler para que fosse explodido com dinamite antes de ser resgatado por agentes secretos de uma mina de sal na Áustria após o Tratado de Versalhes.

Com tantas situações pelas quais passou, a obra não conseguiu sair ilesa de todas elas. Um exemplo disso foi a noite de 10 de abril de 1934, quando foi roubado um dos painéis do retábulo, a pintura "Os Justos Juízes", pelo belga Arsène Goedertier.

(Fonte: Know Your Name/Reprodução)(Fonte: Know Your Name/Reprodução)

No espaço vazio deixado pelo ladrão, foi locado um bilhete escrito em francês: “Retirado da Alemanha pelo Tratado de Versalhes”, em referência ao roubo alemão. Em 30 de abril, o bispo de Gante recebeu um pedido de resgate de 1 milhão de francos belgas, mas o ministro se recusou a pagar.

Só em maio que o governo belga começou as negociações com o ladrão, alegando que, uma vez que o painel se tratava de um tesouro da humanidade, a propriedade da diocese era apenas subordinada à nação. Até outubro daquele ano, depois de 11 cartas, o ladrão devolveu uma das partes do painel, uma pintura grisalha de São João Batista.

"De onde ninguém possa tirá-lo"

(Fonte: Artnet News/Reprodução)(Fonte: Artnet News/Reprodução)

Em 25 de novembro de 1934, Goedertir sofreu um ataque cardíaco e convocou em seu leito de morte seu advogado, Geogres de Vos, para confessar onde estava o painel "Cordeiro Místico", uma das peças que faltavam do retábulo.

Seguindo as instruções, o advogado encontrou cópias de carbono das cartas de resgate, além de um bilhete que dizia: "O painel está em um lugar onde nem eu e nem ninguém mais possa tirá-lo sem despertar a atenção do público". 

Esse enigma nunca foi solucionado, portanto o painel permanece desaparecido, embora os historiadores acreditem que ele já tenha sido destruído.

Em 1945, o painel original foi substituído por uma cópia feita pelo belga Jef Van der Veken, com base em outra cópia, feita por Michiel Coxie, produzida no século XVI para Filipe II da Espanha e mantida no Museu Real de Belas Artes da Bélgica.

Fonte

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