Por que obras de arte são tão caras?

26/11/2022 às 06:003 min de leitura

Em 15 de novembro de 2017, um leilão da Christie’s – a empresa de arte mais importante do mundo – vendeu a pintura Salvator Mundi, confeccionada por Leonardo da Vinci, por US$ 450,3 milhões, para Mohammad bin Salman, atual ministro da defesa da Arábia Saudita, em nome do Departamento de Cultura e Turismo de Abu Dhabi.

Com isso, a tela de 1500, a última pintura feita por Da Vinci, e que carrega a imagem de Jesus Cristo, se tornou a obra de arte mais cara da História até o momento. Desprezando o peso histórico da peça, a quantia reacendeu a recorrente e controversa pergunta: por que obras de arte são tão caras?

(Fonte: Ilya S. Savenok/Getty Images)(Fonte: Ilya S. Savenok/Getty Images)

A maneira como a arte é enxergada e sua valorização é um debate espinhento, por vezes associado a caprichos e alavancas do capitalismo – o que, por vezes, acaba desvalorizando o próprio artista. 

Para boa parcela da sociedade, é absurdo pagar milhões por um objeto que vai ficar pendurado em uma parede ou exposto sobre uma mesa, sobretudo quando essa quantia de dinheiro é colocada em contraste com os níveis de disparidade social.

A arte é para poucos?

(Fonte: Shutterstock)(Fonte: Shutterstock)

Se você acha que a arte pertence a um pequeno grupo de ultra-ricos e constitui um status de poder, ou que sua supervalorização também está associada a manobras criminosas que acontecem por trás do mercado da arte, fique sabendo que essas ideias não estão totalmente erradas.

O século XIX marcou o período em que os artistas começaram a se afastar do estilo realista de pintura – devido à ascensão da fotografia –, uma vez que não havia mais a necessidade de que fosse criado imagens hiper-realistas, por isso telas antigas parecem justificar o alto preço e se tornam mais fáceis para as pessoas entenderem o motivo de serem tão caras.

(Fonte: Factum Arte/Reprodução)(Fonte: Factum Arte/Reprodução)

O conceito abstrato muito pregado pela contemporaneidade tende a afastar as pessoas da arte porque parece feito para alguém com um QI elevado ou de muito conhecimento artístico. No entanto, a típica ideia de que se uma obra de arte precisa de algum tipo de explicação, ela falhou em sua missão, prevalece. Ainda assim, existe a possibilidade que você consiga entender a mensagem, mas que ela pareça irrelevante.

Portanto, a arte permanece um processo muito subjetivo e pessoal. Ela afeta seus espectadores de maneiras diferentes e caminha em um eixo de ideia muito tênue de expressão, refazendo o mesmo caminho que outros tipos de expressão artística, principalmente por, na maioria das vezes, não acabar fornecendo um elemento estético muito forte que chame atenção de uma pessoa.

O problema da indústria

(Fonte: International Monetary Fund/Reprodução)(Fonte: International Monetary Fund/Reprodução)

O que faz uma peça de arte ser cara é sua autenticidade e exclusividade – em qualquer nível –, pois a escassez gera valor, sobretudo quando o seu autor, como fonte última e direta de escassez, está morto. As pinturas de Da Vinci, por exemplo, se tornaram as mais caras do mundo porque ele confeccionou apenas 24 em vida, das quais apenas 20 são conhecidas.

Um problema do mercado da arte que eleva seus preços é a enorme quantidade fluindo para meios de lavagem de dinheiro, embora isso pareça teoria da conspiração. Recentemente, agentes federais derrubaram um antro de drogas na Filadélfia, Estados Unidos, e encontraram um acervo de obras de artes com peças que iam de Renoir a Dalí.

(Fonte: Max Loeffler/The New York Times/Reprodução)(Fonte: Max Loeffler/The New York Times/Reprodução)

Esta é uma consequência direta da falha na identificação dos compradores e vendedores das peças, beneficiando os criminosos que procuram esconder seus ganhos ilícitos. Enquanto isso, o outro problema que complementa esse lado da moeda do mercado de arte – e que perturba os profissionais sérios e atrasa seu trabalho –, está no uso das peças como investimento.

Muitos magnatas adquiriram obras milionárias não por apreciação, tampouco para as pendurar em casa, mas sim para estocá-las em depósitos, esperando o melhor momento para vendê-las. O Porto Livre de Genebra, na Suíça, um bunker usado por milionários, guarda uma infinidade de obras que poderiam estar em museus.

É por movimentos como esse que as enormes somas pagas pelas obras raramente chegam ao artista, fazendo do mercado da arte mais sujo e obscuro do que já é.

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