Artes/cultura
03/11/2017 às 11:14•2 min de leitura
A Corrida Espacial, que aconteceu a partir de 1955 no contexto da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, trouxe uma série de avanços tecnológicos para a humanidade, mas a um alto custo para muitas vidas – tanto humanas quanto animais. Pois há 60 anos, a cachorra Laika se tornou não apenas o primeiro animal terrestre a orbitar o nosso planeta, mas também o primeiro a morrer fora de nossa atmosfera.
Laika era uma cachorra de rua que vivia em Moscou e foi resgatada pelos cientistas do programa espacial soviético para que fizesse parte da missão Sputnik 2, lançada apenas 1 mês depois da Sputnik 1, o primeiro objeto humano a orbitar a Terra. Como ainda não havia tecnologia para trazer de volta satélites em segurança, já era sabido desde o começo que Laika não voltaria para casa.
Laika durante sua fase de treinamento
Laika ficou em uma cabine pressurizada da Sputnik 2, acolchoada e com espaço para ela deitar ou ficar de pé
A ideia era que, após feitos alguns testes sobre como o animal se comportaria no espaço – algo ainda completamente desconhecido para o ser humano –, uma porção de ração envenenada seria liberada para Laika e ela morreria de maneira indolor. O problema é que defeitos no módulo fizeram com que o superaquecimento matasse a cachorrinha apenas algumas horas depois de seu lançamento.
Laika ficou em uma cabine pressurizada da Sputnik 2, acolchoada e com espaço para ela deitar ou ficar de pé. Comida e água eram dados de maneira gelatinosa a ela, que ficou o tempo todo acorrentada no mesmo lugar com um recipiente para coletar seus dejetos preso a ela. Após algumas horas em órbita, ela morreu de calor, fato que só foi revelado ao público em 2002 – até então, era dito que Laika havia sobrevivido por semanas e morrido de maneira indolor.
Testes de ambientação na Sputnik 2
O caso até hoje é pivô em discussões sobre direitos dos animais e o papel deles como protagonistas de testes científicos. Após a revelação sobre o que realmente havia acontecido com Laika, um questionamento bastante pertinente foi aquecido dentro da comunidade científica: será que os sacrifícios animais realmente são justificados por avanços tecnológicos legítimos?
No caso específico de Laika, há dúvidas: alguns cientistas que trabalharam diretamente no projeto da Sputnik 2 afirmam que o sacrifício da cachorrinha não trouxe praticamente nenhum benefício extra para os estudos espaciais feitos pelo lançamento do satélite.
Selo romeno de 1969 homenageia Laika
Apesar disso, a morte de Laika não foi nem um pouco em vão: graças à exposição do caso, muitos avanços ocorreram para equilibrar o bem-estar dos animais com a necessidade de usá-los em testes científicos. Certamente, a partida de Laika ajudou tanto no salvamento de muitos animais quanto na descoberta de avanços muito importantes para a humanidade.
Monumento dedicado à Laika na Rússia
Hoje em dia, Laika é sinônimo de superação, de desbravamento, de coragem. Apesar de isso não reverter o trágico fim do animal, a cachorra já foi homenageada de inúmeras maneiras, tendo aparecido em selos russos, obras de ficção das mais diversas naturezas, músicas e filmes e é parte integrante do Monumento aos Conquistadores do Cosmos, que celebra o desbravamento do povo soviético na exploração do espaço, além de ter sua própria estátua na Rússia.
Laika figura entre os grandes nomes da conquista espacial soviética
Laika foi uma heroína involuntária que encarou o desconhecido como poucos humanos já ousaram. Que pelo menos ela seja sempre lembrada em forma de agradecimento pelos avanços que ajudou a conquistar.