Estilo de vida
20/02/2018 às 13:48•4 min de leitura
Você já ouviu falar a respeito da Basílica do Santo Sepulcro, né? Localizada em Jerusalém, ela representa um dos locais mais sagrados da cristandade, uma vez que abriga a Edícula, ou seja, uma pequena estrutura que guarda a “cama de pedra” sobre a qual o corpo de Jesus Cristo teria sido depositado depois de ele ter sido removido da cruz.
A famosa Edícula (The Daily Beast/Oded Balilty/AP)
Nós do Mega Curioso falamos sobre essa icônica igreja por aqui não faz muito tempo, já que a Edícula corria o risco de ruir e teve que passar por reformas. Mas, como essa seria a primeira vez em mais de 500 anos que a sepultura de Jesus era aberta, um time de cientistas aproveitou a oportunidade para realizar uma porção de testes na pedra de calcário — vazia, obviamente, pois, segundo a tradição cristã, Jesus ressuscitou no Domingo de Páscoa — para ver o que eles descobriam.
E por que estamos contando tudo isso para você? Porque com tanta movimentação de cientistas de várias áreas, estudiosos, historiadores e afins, na Basílica do Santo Sepulcro, de acordo com Andrew Lawler, do site Smithsonian.com, acabaram descobrindo que um bloco de pedra para o qual ninguém dava bola e que estava em um canto qualquer da igreja é, na verdade, um altar da época das Cruzadas.
Segundo Andrew, o bloco em questão tem o tamanho de uma mesa de jantar e é conhecido popularmente como “pedra do grafite”, uma vez que, durante décadas, ele foi usado por peregrinos e turistas como “livro de visita” onde rabiscar seus nomes. No entanto, enquanto rolavam as reformas na Edícula, o time responsável pelas obras teve que mudar o pedregulho de lugar — e quando a peça foi levantada (com a ajuda de uma grua), uma dupla de pesquisadores viu havia intrincados desenhos entalhados na parte inferior.
Interior da Basílica do Santo Sepulcro (The Holy Land Christian Ecumenical Foundation)
Um deles, um especialista em arqueologia medieval chamado Amit Re’em, correu até uma biblioteca de Jerusalém para ver se conseguia encontrar algum registro histórico mostrando desenhos parecidos e, pesquisa daqui, contata cientista dali, eis que Amit, com a ajuda de Ilya Berkovich, um historiador da Universidade Ludwig Maximillian, de Munique, conseguiu traçar a história do artefato e descobrir que se tratava de um objeto da época das Cruzadas.
Os pesquisadores descobriram que, em 1969, um time de arqueólogos gregos que conduziam escavações na basílica se deparou com vários artefatos das Cruzadas. Contudo, a descoberta nunca se tornou pública e, enquanto algumas das coisas voltaram a ser colocadas no lugar, outras foram removidas para análise. Entre elas estava o bloco de pedra — que acabou, por alguma razão, sendo esquecido e virando alvo dos rabiscos dos visitantes da Basílica.
Enquanto examinava o bloco, a dupla descobriu que o padrão geométrico talhado no bloco era bastante comum em Roma no século 12, e que o desenho específico gravado na pedra — quatro círculos ricamente adornados rodeando um círculo central — era uma espécie de marca registrada de uma família de artesãos chamada Cosmati que trabalhava para o Papa na época.
Quem diria... (Smithsonian.com/Eddie Gerald/Alamy Stock Photo)
Então, após estudar o artefato detalhadamente, levantar mais evidências e cruzar as informações presentes em registros históricos, os especialistas juntaram as peças do quebra-cabeça e concluíram que a peça era, na verdade, um altar que foi colocado na Basílica quando o templo foi reconstruído pelos cruzados e foi usado na celebração de serviços religiosos por mais de 500 anos.
Mais especificamente, os cientistas acreditam que a primeira missa foi celebrada nesse altar no dia 15 de julho de 1149, precisamente 50 anos depois da reconquista de Jerusalém pelos cruzados, e permaneceu em uso até 1808, quando um incêndio destruiu boa parte da Basílica. Daí, o bloco de pedra foi enterrado, juntamente com outros artefatos — e eles só foram ser redescobertos pelos gregos em 1969.
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Independentemente de que você seja cristão, judeu, muçulmano, budista, umbandista, ateu ou que quer que seja, é inegável que a história da Basílica é simplesmente fascinante! Resumidamente, no lugar onde a Basílica do Santo Sepulcro foi construída existe uma pedreira de calcário que serviu de necrópole para judeus de famílias mais abastadas, incluindo, segundo os seguidores do cristianismo, a de Cristo.
Fiéis na Basílica do Santo Sepulcro (Wikimedia Commons)
No entanto, no ano 70, Jerusalém foi destruída e, mais tarde, durante a sua reconstrução, Adriano, o imperador romano da época, mandou que o local identificado como sendo a tumba de Jesus fosse coberto de terra e que um templo dedicado a Vênus fosse erguido no lugar. Então, no comecinho do século 4, Constantino, outro imperador romano, pôs fim à perseguição aos cristãos com o Édito de Tolerância e o edifício pagão acabou sendo derrubado.
Foi em nesse local que a Basílica do Santo Sepulcro, fundada no ano de 326, foi erguida, mas a (longa) história de construção e reconstrução desse templo não acabou por aí. Ele foi reconstruído um século mais tarde a pedido de Justiniano, parcialmente destruído durante as invasões persas no século 7, reconstruído de novo e derrubado outra vez — juntamente com todas as igrejas que existiam em Jerusalém — pelo califa Al-Hakim no início do século 11.
Esses rabiscos não são os deixados pelos turistas e peregrinos, mas marcas deixadas pelos próprios cruzados nas paredes da Basílica do Santo Sepulcro (Wikimedia Commons/Guillaume Paumier)
Aliás, uma das motivações para o início das Cruzadas foi o terror tocado pelo califa em Jerusalém — e foram os cruzados que, na virada do século 12, reconstruíram o templo após a reconquista da Cidade Santa. E, segundo os especialistas, foi durante essa reconstrução que o altar encontrado agora provavelmente foi colocado no templo.