O primeiro homem a andar no espaço quase ficou por lá

04/06/2019 às 08:283 min de leitura

Com empresas explorando viagens espaciais comercialmente, daqui a alguns anos  e com um pagamento generoso  provavelmente seja possível fazer uma caminhada espacial. Mas já pensou se algo ocorre, e você acaba ficando por lá? Esse foi o sufoco pelo qual passou Alexei Leonov, cosmonauta russo e primeiro ser humano a fazer uma caminhada espacial.

Ele foi treinado por 18 meses especificamente para a missão Voskhod 2, e no dia 18 de março de 1965 foi lançado junto com Pavel Belyayev, ambos em primeira viagem ao espaço, para fazerem história. Só não imaginavam que teriam tantos imprevistos.

Início das dificuldades

Assim que entraram em órbita, Leonov deu início aos procedimentos para a caminhada. Após vestir seu traje espacial, ele acoplou o sistema de atividade extraveicular (EVA), que era o responsável por fornecer 45 minutos de oxigênio, deixando-o respirar e mantendo a temperatura estável.

Já equipado e com os sistemas de pressurização devidamente regulados, começou sua caminhada, que durou 12 minutos e 9 segundos. Nesse período, ele descreveu que se sentia como uma gaivota com asas abertas voando sobre a Terra, mas não sabia o que o esperava a seguir.

Traje e aberturaTraje e abertura por onde Alexei passou

Quando iniciou o procedimento de retorno, o astronauta percebeu que seu traje havia se tornado extremamente rígido. Devido à falta de atmosfera ao seu redor, o oxigênio ocupou todo o traje, inchando-o e fazendo com que suas mãos e seus pés saíssem das luvas e botas. Ele então percebeu que a única opção possível era liberar o ar presente no traje, para que pudesse entrar novamente na nave. Leonov pensou em avisar o comando da missão, mas, como não poderiam fazer nada para ajudá-lo, se manteve em silêncio para não assustar a equipe na Terra nem sua família, que acompanhava a caminhada ao vivo.

Com a liberação do oxigênio, a temperatura começou a aumentar, e ele também corria o risco de logo não conseguir respirar. Leonov levava consigo uma pílula de suicídio, para que não sofresse tanto se fosser morrer sufocado, mas não pretendia usá-la sem antes tentar entrar na nave. Ele conseguiu lentamente, mas precisou liberar ainda mais ar para se curvar e fechar a escotilha em um momento crítico, pois, se seu colega não ativasse a pressurização rápido o suficiente, a missão poderia fracassar ali mesmo.

E não parou por aí...

Como se a entrada já não tivesse sido problema suficiente, 5 minutos antes de iniciarem o procedimento de reentrada na atmosfera terrestre, os astronautas descobriram que o sistema automático de direção não estava funcionando; ou seja, todo o procedimento deveria ser feito manualmente, e ainda com pouco combustível!

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A operação manual consistia em um dos cosmonautas ser posicionado horizontalmente entre os assentos, sendo segurado pelo companheiro, para que tivesse visão da janela de orientação. Após isso, ambos precisariam sentar rapidamente, para que o centro de gravidade da nave estivesse correto durante o início da reentrada.

A reentrada seria feita sem problemas, mas onde eles cairiam fazia toda a diferença. Temos que lembrar que era época de Guerra Fria, então uma crise diplomática podia ter início com o pouso de uma espaçonave russa em território de países considerados não aliados, ou mesmo no meio de uma cidade densamente habitada.

Durante a reentrada em si, mais problemas: a nave girou descontroladamente, fazendo com que os cosmonautas fossem submetidos a uma força de 10 G! Tudo isso devido a um módulo orbital que deveria ter se soltado, mas permaneceu preso em virtude de um problema de conexões. Conforme a nave ganhou velocidade e se aproximava do solo, o aparato queimou, e tudo se estabilizou para o pouso, que ocorreu na região de Solikamsk, na Sibéria.

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O pouso não foi no melhor local, e os astronautas enfrentaram dificuldades para abrir a escotilha, pois ela deveria explodir e liberar a passagem automaticamente. O sistema tinha sido danificado, e uma árvore bloqueava a abertura. Tentando resolver o problema, a dupla começou a forçar a tampa, fazendo com que ela voasse longe. O sinal de socorro foi interceptado por um avião cargueiro, e eles foram informados de que precisariam passar a noite ali, com uma temperatura de -30 °C.

Missão cumprida

Leonov e Belyayev sobreviveram até o dia seguinte, quando o resgate chegou usando esquis. Eles fizeram uma fogueira, cortaram a mata que dava acesso ao local e, no outro dia, tiveram que viajar 9 quilômetros também com esquis até o ponto onde o helicóptero conseguia pousar.

Chegando à cidade de Leninsk, os cosmonautas precisavam reportar a seus superiores sobre a missão, e Leonov foi mais do que direto: “Com um traje especial, homens podem sobreviver e trabalhar no espaço”. Ele não entrou em detalhes sobre os problemas, e acredita-se que tenha sido orientado a isso, para que as informações não chegassem ao conhecimento dos inimigos.

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Alexey Leonov hoje vive na Rússia e está aposentado, mas os planos que existiam para ele estavam à altura do que passou. Estava previsto que ele fosse o primeiro cosmonauta a pisar na Lua, mas como os americanos conseguiram essa façanha antes, o projeto foi cancelado.

Fonte
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