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24/04/2018 às 08:30•3 min de leitura
Após quase 10 anos de pesquisas, cientistas acreditam ter feito uma descoberta importante em relação ao meteorito que caiu sobre o deserto da Núbia, no Sudão, em 2008: ele pode ter vindo de um planeta que já pertenceu ao nosso Sistema Solar, mas não existe mais.
Atualmente, nós temos uma vizinhança relativamente tranquila em termos astronômicos. É mais fácil ouvir falar de satélites (ou até mesmo carros) entrando na nossa atmosfera do que grandes pedaços de rochas que podem colocar em risco a vida na Terra. Mas houve um tempo em que a porradaria rolava solta entre os astros que rodeavam o Sol, e apenas os mais fortes seguiam em frente.
O Sistema Solar começou a ser moldado há cerca de 4,6 bilhões de anos, mas durante seus primeiros 10 milhões ainda não existia sinal dos nossos vizinhos Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno ou até mesmo Plutão (coitado). A nossa casa, claro, também não existia. No lugar de todo esse cenário, estavam protoplanetas que vez ou outra se colidiam, gerando explosões inimagináveis.
Na verdade, alguns astrônomos imaginaram esse momento da história do Universo e, de acordo com pesquisas lideradas pelo Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça, o 2008 TC3 (como foi catalogado o asteroide) se originou em um desses antigos parentes da Terra. Isso significa que o meteorito que caiu na África é muito, mas muuuito antigo.
Um dos inúmeros de pedaços de meteorito encontrados no Sudão
Mais do que antigo, ele é raríssimo e, consequentemente, muito valioso. Seu interior contém diamantes que, apesar de serem milimétricos, podem enriquecer o campo da Astronomia com algumas respostas sobre as origens do Sistema Solar e de planetas como o nosso.
“O que nós estamos fazendo é arqueologia. Olhamos para peças do passado e tentamos decifrar a história do Sistema Solar”, disse Philippe Gillet, um dos autores do estudo feito em parceria com cientistas japoneses.
Segundo uma hipótese bastante aceita na Astronomia, a própria Lua foi formada após o choque de um protoplaneta chamado Theia com a Terra. Com o tempo, os destroços se agruparam e hoje podem ser vistos brilhando no nosso céu noturno.
“Simulações sugerem que, nos primórdios do Sistema Solar, dezenas de planetas embrionários colidiram uns com os outros antes de formarem os planetas terrestres que conhecemos. Mas conseguirmos uma evidência daquela época? Eu realmente não esperava isso”, confessou Farhang Nabiei, um dos pesquisadores suíços encarregados da análise do meteorito.
A rocha é composta por um raro material chamado ureilite, encontrado pouquíssimas vezes em casos de meteoros que explodiram dentro da nossa atmosfera. Mas mais do que rara, sua composição é única. Nunca um meteorito havia sido encontrado com diamantes tão grandes encrustados. Mesmo milimétricos, eles indicam que foram formados por uma pressão digna do interior de um planeta.
Como você deve saber, as pedras preciosas são formadas a partir de moléculas de carbono submetidas a gigantescas pressões e, nesse caso, teriam sido criadas dentro de um astro com poder suficiente para cumprir tal missão. Em tamanho, o planeta já extinto poderia ser comparado tanto com Mercúrio quanto com Marte. Ambos possuem massa capaz de pressionar o carbono até ele se transformar em diamantes das dimensões encontradas no meteorito.
Fragmento de meteorito encontrado na área conhecida como Almahata Sitta, no deserto da Núbia
Até então, haviam sido descobertos apenas cristais que poderiam ter sido criados a partir de choques rápidos, mas intensos, entre pequenas pedras que viajam pelo Universo a milhares de quilômetros por hora.
Rastro deixado pelo asteroide 2008 T3 durante sua entrada na atmosfera
O 2008 TC3 foi o primeiro asteroide descoberto a tempo de ser rastreado até a sua entrada na atmosfera terrestre, e isso apenas 19 horas antes de sua explosão a cerca de 37 km de altura sobre o deserto africano. Em 2010, pesquisas mostraram que, além de diamantes, o meteorito chegou à Terra trazendo aminoácidos, composto químico básico para a vida.