Artes/cultura
25/07/2018 às 13:29•3 min de leitura
Como você já deve saber, faz tempo que os cientistas estão em busca de evidências da existência de água em outros planetas — uma vez que a presença da substância aumenta consideravelmente a probabilidade da descoberta de formas de vida (como a conhecemos) fora da Terra.
Mars Express (Wired/Davide Coero Borga/Esa/Inaf)
Nesse sentido, há algum tempo os cientistas concluíram — a partir de diversas evidências identificadas na superfície marciana — que o Planeta Vermelho abrigou água em sua forma líquida em um passado distante. No entanto, agora foi anunciado que um time de pesquisadores italianos encontrou fortes indícios de que existe um lago enorme oculto sob as camadas de gelo do polo sul de Marte, o que é uma notícia e tanto.
A descoberta aconteceu graças aos levantamentos realizados por meio da sonda Mars Express, da Agência Espacial Europeia, que se encontra em missão em Marte desde o finalzinho de 2003. Mais especificamente, entre meados de 2012 e final de 2015, o dispositivo foi enviado para realizar uma série de sobrevoos sobre uma região chamada Planum Australe, situada no polo sul do planeta, e obter informações sobre o terreno da área por meio da emissão de sinais eletromagnéticos.
Polo Sul de Marte (El País/ESA)
Esse tipo de levantamento — que consiste, basicamente, em disparar sinais em direção à superfície e interpretar a intensidade com a qual os sinais que voltam ao equipamento — permite que os cientistas identifiquem a composição do solo e subsolo de determinado terreno. No caso da área estudada em Marte, que mede mais ou menos 200 quilômetros de largura, após perto de 30 varreduras, os resultados apontaram que, sob a camada de gelo que existe por lá, pode existir água em sua forma líquida. Aliás, um baita de um lago!
Os levantamentos apontaram que o lago se encontra sob mais ou menos 1,5 quilômetro de gelo, mede uns 20 km de largura e pode ter pelo menos um metro de profundidade. Com relação a isso, os pesquisadores explicaram que, como se trata de dados obtidos a partir de leituras de radar — e a água absorve os sinais —, é difícil determinar quão fundo é o reservatório ou se, além de água, também existem rochas porosas infiltradas no líquido.
Geologia marciana (El País/ESA)
Porém, conforme apostam muitos cientistas, onde há água também pode haver vida, né? Nesse sentido, é importante frisar que em nenhum momento os pesquisadores falaram que podem existir marcianinhos em Marte, mesmo porque ainda é necessário provar que o tal lago realmente está debaixo do gelo. Mas, caso seja enviado algum rover ou explorador até Planum Australe para perfurar o gelo e se confirme a existência de água líquida, os pesquisadores estimam que o lago possa conter centenas de milhões de metros cúbicos da substância.
E como é que esse material foi parar lá? Os cientistas explicaram que o — possível — reservatório de água se encontra em uma depressão do terreno e, portanto, o lago (se real) se formou por meio do derretimento do gelo. Sobre conduzir perfurações no local, apesar de se tratar de uma empreitada bastante desafiadora, tecnologia necessária para isso já está disponível, e a maior dificuldade seria realizar os trabalhos sem contaminar o lago com micróbios terrestres que possam pegar carona com os equipamentos.
Possibilidades (Discover Magazine/ESA)
A preocupação faz sentido, já que, até onde se sabe, o nosso planeta abriga centenas de lagos subglaciares com características semelhantes a esse possivelmente descoberto em Marte, tanto de água doce como com altas taxas de salinidade — e já foram encontrados organismos vivos em alguns deles, incluindo lagos descobertos sob espessas camadas de gelo na Antártida e na Groenlândia.
No caso do tal reservatório marciano, pela composição química do planeta, os pesquisadores acreditam que ele seja salobro e, pelo menos aqui na Terra, existem micróbios que não só metabolizam os sais para convertê-lo em energia, como já foram identificadas espécies que poderiam sobreviver em um ambiente parecido ao do lago de Marte — ou seja, com temperaturas abaixo de zero, na completa escuridão e vários metros longe da superfície.
Falta muito para explorar (Discover Magazine/ESA)
E, sim, mesmo com temperaturas gélidas, a presença de determinados compostos dissolvidos na água — como sais de sódio, cálcio e magnésio — permite que ela não congele. Outra coisa interessante que vale mencionar é que os levantamentos por radar feitos com a sonda Mars Express cobriram menos de 10% do polo sul marciano, o que significa que ainda existe muito terreno a ser explorado — e a possibilidade de que outros reservatórios contendo água em sua forma líquida. Será que finalmente teremos a confirmação de que outros planetas além da Terra podem ter abrigado (ou ainda abrigam) formas de vida?
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