Estilo de vida
30/11/2018 às 06:00•2 min de leitura
Em novembro de 1990, a hoje extinta revista norte-americana Life publicou uma imagem impactante que entrou para a história da fotografia. O desalento de um pai no leito de morte de seu filho em estado extremamente debilitado apresentou ao mundo a face humana da AIDS, que ceifou cerca de 35 milhões de vidas desde o início da pandemia, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
O jovem que olha fixamente para o que parece um ponto já distante deste mundo é David Kirby, que foi ativista pelos direitos LGBT nos anos de 1980. Foi também no final dessa década que Kirby descobriu que tinha contraído o vírus HIV. Na época, ele morava na Califórnia e estava distante de sua família. O ativista entrou em contato com seus pais e perguntou se poderia voltar para casa, dizendo que queria morrer perto da família, e eles o acolheram.
A fotografia icônica foi clicada por Therese Frare, então estudante de jornalismo. Ela acompanhou toda a batalha de Kirby, que foi retratada em uma série de imagens. "No dia em que David morreu, eu estava visitando Peta (um dos seus cuidadores). Alguns funcionários vieram buscar Peta para que pudesse ficar com David, e então me levou com ele. Eu fiquei ao lado de fora do quarto, quando a mãe de David apareceu e me disse que a família queria que eu fotografasse as pessoas que estavam se despedindo dele", relembra Therese.
A fotógrafa ficou em um canto da sala registrando a cena em silêncio. Logo no início, ela perguntou se Kirby não se importava com as fotos. "Ele disse: 'Tudo bem, desde que não seja para lucro pessoal'. Até hoje eu não recebo nenhum dinheiro pelas imagens. Mas David era um ativista, queria divulgar sobre como a AIDS era devastadora para famílias e comunidades. Honestamente, acho que ele estava muito mais sintonizado com a importância dessas fotos”, conta.
Kirby morreu em abril de 1990, com apenas 32 anos, 7 meses antes da publicação da foto. Estima-se que aproximadamente 1 bilhão de pessoas tiveram contato com essa fotografia, que foi intensamente reproduzida em jornais, revistas e canais de televisão pelo mundo.
A imagem publicada na Life chocou a população dos Estados Unidos. Até então, a AIDS era vista de maneira muito abstrata e sempre cercada de preconceitos. A maior parte das pessoas acreditava que era uma “doença gay”, por ter atingido mais indivíduos dessa parcela da população. A desinformação, somada à homofobia, corroborava o descaso das autoridades sobre o tema. A fotografia ajudou o público a se conectar com a dor de quem estava sofrendo os efeitos devastadores da doença, que ainda não tinha tratamentos tão sofisticados quanto os atuais.
A foto ainda foi centro de uma polêmica envolvendo a United Colors of Benetton. Em 1992, a marca de roupas a usou em uma campanha publicitária, fazendo com que a história de Kirby alcançasse uma audiência mundial.
Houve diversas críticas à imagem, incluindo as da Igreja Católica, que viu a foto como uma alusão às imagens históricas de Maria segurando Jesus após a crucificação. Em 2012, Therese afirmou à Life que o pai de Kirby viu o emprego da imagem de maneira positiva, dizendo: “Ouça, Therese. A Benetton não nos usou nem nos explorou. Nós a usamos. Por causa dela, sua foto foi vista em todo o mundo, e é exatamente isso que David queria”.
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