Ciência
04/11/2022 às 09:59•2 min de leitura
Há 100 anos, uma das maiores descobertas da história da Arqueologia mudou o mundo: foi encontrada a tumba do faraó Tutancâmon, uma das mais intactas já acessadas pelos especialistas, o que ajudou muito na recriação contemporânea da sociedade do Egito Antigo.
Descoberta em 4 de novembro de 1922 pela equipe do egiptólogo Howard Carter, a tumba estava intacta, algo raro, pois muitos dos sarcófagos e outros objetos de valor de outros faraós egípcios foram saqueados em algum momento no passado. O local descoberto possuía mais de 5 mil objetos e todo o esforço em torno da conservação e do estudo da tumba gerou uma popularidade sem igual na época. Tutancâmon herdou o trono do Egito por volta do ano 1332 a.C., quando tinha apenas 9 anos de idade, e faleceu prematuramente com apenas 19.
Carter encontrou a câmara mortuária de Tutancâmon milagrosamente selada após 3 mil anos – e, em seu interior, além da vasta variedade de artefatos, a múmia do faraó dentro de 3 sarcófagos (o último deles, feito de ouro).
A extraordinária descoberta foi tão celebrada que não demorou para que “Tut” se transformasse em uma estrela da arqueologia e, no final da década de 1980, sua tumba recebia em média 4 mil visitantes por dia! E você sabe o estrago que turistas – especialmente os mal-educados – podem fazer, não é mesmo?
(History/Getty Trust/J. Paul)
Pois é, além de danos propositais causados por alguns espíritos de porco – que fizeram rabiscos nas paredes da tumba –, a grande movimentação de pessoas resultou na transferência de material particulado e sujeira do exterior para o interior da câmara mortuária. Como se fosse pouco, a umidade dos corpos suarentos dos visitantes e o dióxido de carbono exalado por eles dentro do local só contribuíram para acelerar a deterioração da tumba e, ainda nos anos 1980, cientistas identificaram o que parecia ser uma grave proliferação de fungos pelas paredes da tumba. Repare nos pontinhos marrons na imagem abaixo:
(BBC/Reuters)
Os trabalhos de restauração – conduzidos por especialistas do Instituto Getty de Conservação e do Ministério de Antiguidades do Egito – começaram em 2009 e, além de focarem na limpeza e recuperação das pinturas das paredes da tumba, os peritos realizaram uma série de estudos e tratamentos, ademais de implementar melhorias para que o local sofra um pouquinho menos com o fluxo de turistas.
(History/Getty Trust/J. Paul)
Os pesquisadores realizaram, por exemplo, testes químicos e exames de DNA em amostras dos tais fungos e compararam imagens atuais das paredes com as capturadas após a tumba ser descoberta, e constataram que os pontinhos não eram causados por fungos, mas sim por micróbios, e que a proliferação não só não avançou muito desde os anos 1920, como nem está mais ativa. Aliás, os pesquisadores suspeitam que os microrganismos podem ter se espalhado pelo local por conta da forma como Tut foi sepultado.
(BBC/Reuters)
Enfim, como você pode perceber nas imagens, os pontinhos marrons não foram removidos das paredes. Isso se deve ao fato de os micróbios terem penetrado na superfície e, para não correr o risco de danificar as pinturas, os restauradores optaram por deixar as manchinhas como estão.
(History/Getty Trust/J. Paul)
Outra coisa: como a maior ameaça à tumba ainda são os turistas – o local não foi fechado para visitação durante os trabalhos e recebe entre 500 e mil pessoas ao dia –, para tentar frear os danos, os restauradores instalaram painéis diante das paredes para evitar que a sujeira se acumule sobre as pinturas, e sistemas de ventilação e filtragem do ar para prevenir os efeitos do pó e da umidade. Veja mais imagens do interior da tumba do faraó:
(History/Getty Trust/J. Paul)
(BBC/AFP)
(BBC/Reuters)
(BBC/AFP)