Ciência
23/05/2019 às 07:00•2 min de leitura
Não poderia haver maior exemplo de interferência materna na vida do filho: uma mãe bonobo (ou chimpanzé-pigmeu) não só aproxima sua cria de uma fêmea em ovulação, mas ainda impede que outros pretendentes atrapalharem o “romance”.
Para descobrir mais sobre o comportamento dessa espécie, um estudo foi desenvolvido. 4 grupos de bonobos selvagens ficaram sob observação na República Democrática do Congo e 7 grupos na Costa do Marfim, Uganda e Tanzânia. Os resultados, publicados na revista Current Biology, demonstraram que os machos com parceiras sexuais eram 3 vezes mais propensos a gerar descendentes quando possuíam aquele “empurrãozinho” da mãe na hora H.
Reprodução/Cultura Mix
"Esta é a primeira vez que podemos mostrar o impacto da presença materna em um importante atributo masculino, a fertilidade.", disse Martin Surbeck, primatologista do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em um comunicado."Ficamos surpresos ao ver que as mães têm uma influência tão forte e direta sobre o número de netos que recebem".
A mãe bonobo assume o papel de ficar de guarda enquanto seu filho acasala, interferindo nas tentativas de aproximação de outros machos. Além disso, ela colabora para que o macho seja mais central no grupo e, por consequência, mais próximo da fêmea. Esse comportamento já havia sido documentado antes, não é para menos que os bonobos se tornaram conhecidos por sua vida sexual peculiar. Contudo, aindam não havia informações sólidas sobre sua vantagem reprodutiva.
Reprodução/Science
As fêmeas bonobo não recebem essa atenção especial de suas mães. "Nos sistemas sociais dos bonobos, as filhas se dispersam da comunidade nativa e os filhos ficam", afirma Surbeck. "E para as poucas filhas que ficam na comunidade, das quais não temos muitos exemplos, não vemos nenhuma delas recebendo ajuda de suas mães."
As mães chimpanzés, por outro lado, não demonstram absolutamente nenhum interesse na vida sexual de sua cria. Seus esforços se resumem a ajudar quando alguma luta de domínio territorial ocorre.
"Este foi um estudo que combinou testes genéticos com detalhes sobre a composição do grupo em muitas datas de concepção.", declarou Martin Surbeck à IFLScience. "Descobrimos que ter uma mãe viva no grupo aumenta a probabilidade de gerar descendentes para um macho bonobo, mas não para um macho chimpanzé".
Reproduzido por Finbarr O'Reilly via Reuters
É possível fazer um paralelo entre bonobos e chimpanzés, afinal eles têm características genéticas muito próximas; contudo, seus sistemas sociais são muito distintos. E a primeira grande diferença é: bonobos vivem em sociedades matriarcais, enquanto os chimpanzés são patriarcais.
Essa traço específico é a grande chave para entender o porquê de chimpanzés não serem sexualmente similares aos bonobos. A interferência materna é muito mais eficiente entre os últimos, porque para eles os gêneros são co-dominantes e as posições sociais de maior influência são ocupadas pelas fêmeas. Chimpanzés, todavia, são direcionados pelo patriarcado e por isso os machos adultos dominam as fêmeas integralmente.
Parece que a frase “Seja bom para a sua mãe e terá uma vida boa.” assumiu um novo sentido no mundo dos bonobos.