Afinal, como fica a Amazônia pós-queimadas?

29/08/2019 às 02:002 min de leitura

Os recorrentes incêndios na Amazônia já são um fato conhecido, mas é preciso admitir que as últimas queimadas foram sem precedentes e deixaram uma marca eterna na flora e fauna brasileira. “É verdade que a floresta amazônica sofre incêndios regularmente, mas de maneira nenhuma isto significa que seja normal.”, adverte a bióloga brasileira Manoela Machado. “A Amazônia queima durante as secas, mas não por causa secas. É queimada porque há uma demanda por pastos e terras de cultivo.”, alerta Machado, pesquisadora da Universidade de Sheffield (Reino Unido).

Imagem de uma área desmatada na selva amazônica próxima aos incêndios, a cerca de 65 km de Porto Velho, no dia 24 de agosto. (Reprodução Carl de Souza — El País/AFP)

O ecólogo David Edwards, também da Universidade de Sheffield, aponta que a gravidade dos incêndios na selva amazônica é maior quando o El Niño ocorre — fenômeno meteorológico cíclico que acontece naturalmente no Oceano Pacífico. Em 2016, foram registrados 70.625 focos de incêndios e, à época, estes coincidiram com o El Niño. Esse ano, controversamente, mais incêndios foram detectados, apesar da baixa intensidade do fenômeno.

De acordo com cálculos da Universidade do Estado de Oregon (EUA), a Amazônia abriga 10% de todas as espécies de animais e plantas que conhecemos, além de armazenar 100 bilhões de toneladas de carbono — quantidade dez vezes maior à emitida anualmente pelo uso de combustíveis fósseis. 

Cortina de fumaça produzida pelas chamas em região próxima a Humaita (AM). As queimadas alcançaram inclusive em áreas de proteção ambiental, como territórios indígenas e zonas de conservação. (Ueslei Marcelino — El País/Reuters)

As queimadas irão causar diversas mudanças climáticas, assim como impactos na nossa biodiversidade. A situação, todavia, vai além disso: o evento significa que a floresta amazônica está mais propensa a novos incêndios como esse. E não é absurdo dizer que a nossa floresta tropical pode, de fato, transformar-se em uma grande savana. Em um estudo publicado na revista PNAS, uma equipe de cientistas liderada pelo climatologista Carlos Nobre comprova essa afirmação. Os pesquisadores identificaram evidências que apontam a progressiva transformação da floresta em cerrado. Até então, 20% da Amazônia foi perdida para o desmatamento. Segundo as conclusões da pesquisa, se chegarmos a 40%, teremos alcançado um ponto sem volta. 

Imagens das chamas destruindo parte da vegetação amazônica próxima a Porto Velho. (Ueslei Marcelino — El País/Reuters)

O biólogo Izar Aximoff, doutor em Botânica pelo Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, abordou as expectativas pós-incêndio. Segundo ele, o trabalho de reflorestamento vai ser intenso. Izar Aximoff ainda afirma que alguns danos provocados pelo fogo são irreversíveis. E, como se não bastasse, apesar de termos os melhores especialistas no assunto, a demanda é muito grande e os recursos são insuficientes. Segundo ele, investimentos na prevenção são muito mais baratos do que no reflorestamento, mas falta planejamento.

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